Geadas ameaçam a cafeicultura no Paraná

Por: Valor Econômico

Por Carine Ferreira | De São Paulo


Uma das culturas mais suscetíveis ao frio intenso, o café deverá sofrer um novo golpe no Paraná. A previsão é de fortes geadas no Estado na madrugada de quarta-feira, em linha com uma tendência de queda das temperaturas em várias regiões do Brasil. Desde a semana passada, esse cenário já influencia os preços do café na bolsa de Nova York, pois o Brasil é o maior produtor e exportador global da commodity. O Paraná vem perdendo espaço na produção nacional de café, devido a preços pouco atraentes, e produz atualmente menos de 2 milhões de sacas por safra.


Os modelos climáticos da Somar Meteorologia apontam frio mais agudo e fortes geadas nos polos de café do Paraná (norte, norte pioneiro e noroeste do Estado) na virada de terça para quarta-feira. Marco Antonio dos Santos, da Somar, informou que as temperaturas deverão chegar a zero grau nessas áreas. O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e o Instituto Simepar destacaram que havia previsão de geadas já na madrugada de hoje no oeste da região cafeeira do Paraná.


Em outras regiões produtoras de café do país, como a Mogiana Paulista e o Sul de Minas, a possibilidade de geadas é mais baixa nesta semana, sobretudo em função das chuvas previstas até quinta-feira. A chuva impede que a temperatura caia abaixo de dois graus, explica Santos.


Se as previsões se concretizarem, a geada de forte intensidade no Paraná será a primeira em 19 anos. A última grande geada a atingir o Estado, além de São Paulo e Sul de Minas, foi em 1994, lembra o agrometeorologista Santos. Em 2000, as geadas não trouxeram danos tão severos, e em 2011 foram de baixa intensidade.


O frio intenso faz com que o líquido das células do cafeeiro congele, provocando a morte dos tecidos. Ainda é possível retirar os grãos da planta atingida pela geada, mas o prejuízo fica para as próximas safras, disse Santos. Na geada de 1994, as áreas afetadas ficaram dois anos sem produção porque as plantas precisaram ser erradicadas. E um pé novo começa a produzir em dois ou três anos.


Os danos à produção de café dependem da intensidade do frio. Com dois graus de temperatura, os danos são de cerca de 5% da produção, segundo Santos. Com um grau, os prejuízos aumentam para 20%, e com zero grau, 50% da colheita é perdida.


A situação no Paraná foi agravada pelas chuvas mais intensas em junho, que prejudicaram a qualidade do grão. “Se não tivesse chovido tanto, cerca de 60% da produção poderia ser de boa qualidade, mas este índice deve ser reduzido a 20%”, diz Paulo Franzini, coordenador da área de café do Departamento de Economia Rural (Deral). Franzini acrescenta que o clima é de “desânimo”. “Talvez [a geada] seja um fator decisivo para o produtor sair da atividade, ou diminuir a área ou reformar a lavoura”.

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