Genebra, 19 out (EFE).- O Grupo dos Vinte (G20), formado pelo Brasil e outros países em desenvolvimento, finalizou suas propostas para as negociações na OMC e afirmou que a agricultura é o ponto central das conversas.
“Temos dois dias importantes pela frente. Entendemos que devemos nos concentrar no que realmente somos fortes, que é a agricultura”, afirmou nesta quarta-feira o coordenador do grupo e ministro de Exteriores brasileiro, Celso Amorim.
Representantes dos EUA, União Européia (UE), Austrália, Brasil e Índia se reuniram hoje em Genebra para tentar aproximar suas posições sobre as negociações agrícolas na Organização Mundial do Comércio (OMC).A falta de progressos neste ponto vem bloqueando os avanços em outros assuntos.
A reunião, que acontece na Missão dos EUA em Genebra, continuará na quinta-feira.
Além de Amorim, participam das conversas o representante de Comércio dos EUA, Rob Portman, os comissários europeus de Comércio, Peter Mandelson, e de Agricultura, Mariann Fischer Boel, e os ministros de Comércio da Índia, Kamal Nath, e da Austrália, Mark Vaile.
Se juntarão ao grupo nesta quinta-feira representantes de Argentina, Canadá, China, Japão, Nova Zelândia e Suíça.
Os 148 membros da OMC têm menos de dois meses até o início da reunião ministerial de Hong Kong, que acontecerá entre 13 e 18 de dezembro.
Na reunião, deverão ser definidos aspectos importantes da liberalização comercial nos campos da agricultura, serviços e acesso a mercados de produtos industriais, entre outros, para que a rodada de Desenvolvimento de Doha (2001) seja concluída na data prevista (fim de 2006).
Os avanços, entretanto, vêm sendo bloqueados pela falta de consenso nos três pilares da negociação agrícola: apoios internos, subsídios à exportação e acesso aos mercados.
Até o momento, todos os envolvidos apresentaram propostas diferentes para reduzir ou eliminar apoios e subsídios, assim como para aumentar o acesso aos mercados, mas nenhuma dela obteve consenso.
Além disso, as negociações enfrentam a oposição de alguns países da comunidade européia, liderados pela França, que considera que Mandelson e Fischer Boel extrapolaram os limites de suas atribuições.
Celso Amorim afirmou que o G20 finalizou suas propostas para as negociações, e definiu os rumos que serão tomados sobre a seleção e o tratamento dados aos produtos sensíveis, que se somam às posições já manifestadas sobre a redução de apoio interno e maior acesso aos mercados.
“Mostramos que o G20 não está apenas se queixando, mas também apresentando propostas, que em alguns aspectos são mais amplas e ambiciosas do que as da UE, EUA e G10”, disse o ministro brasileiro, que disse que a iniciativa “não contém posições extremas”.
“Ouvimos muitos rumores nos últimos dias, alguns não oficiais, outros sim, mas desde já esclarecemos que os avanços na agricultura não devem estar condicionados a outros progressos na negociação”, acrescentou Amorim.
Já Mandelson advertiu aos outros ministros de que a UE quer ver com “urgência os benefícios que Doha trará ao comércio de produtos industriais e serviços”.
Essa posição se choca com a apresentada pelo G20, que a definiu como “infeliz”. Amorim ressaltou ainda que os Estados Unidos deram um grande passo na direção correta, embora “ainda seja insuficiente”.
“Agora queremos que a União Européia faça o mesmo”, acrescentou o chanceler brasileiro.
Amorim também expressou seu apoio aos países africanos que lutam para que a negociação inclua a questão dos incentivos concedidos pelos EUA a seus produtores de algodão.
Os representantes do Chade e Senegal e os produtores de Burkina Faso disseram hoje que a reunião de Hong Kong pode fracassar caso os EUA e a UE não façam propostas concretas sobre a questão agrícola, incluindo o algodão.
“Já dissemos que a agricultura é o motor da rodada, embora este motor ainda não tenha dado partida. Não negociaremos outros pontos até que tenhamos certeza de que haverá progressos na agricultura”, afirmou Amorim.