Kumi Naidoo
Envolverde, julho de 2005.
Londres.- À medida que a campanha contra a pobreza global se intensifica nestes dias que antecedem a reunião de cúpula do G-8, aumenta a pressão sobre os líderes das potências desse grupo para que aumentem as ínfimas somas que concedem como ajuda às nações mais pobres. Junto com o cancelamento da dívida e a reforma das injustas regras comerciais, um aumento imediato de US$ 50 bilhões na ajuda dos países mais ricos é uma exigência fundamental dos que participam dessa campanha em todo o mundo. No dia 1º deste mês começou a Semana da Faixa Branca, na qual milhões de pessoas comuns em todo o planeta, da Geórgia até a Alemanha, do Nepal à Nicarágua, estão participando de manifestações nas quais usam uma faixa branca, o símbolo do Chamado Mundial à Ação Contra a Pobreza.
Acabar com a pobreza no mundo, que mata uma criança a cada três segundos, não é um sonho irrealizável, mas um objetivo prático e acessível, bem como um imperativo moral. Os oito homens que se reunirão entre 6 e 8 deste mês em Gleneagles (Escócia) sabem que com uma pequena mudança em suas políticas os países ricos do planeta podem impedir que continuem morrendo 50 mil pessoas diariamente vítimas da pobreza. É difícil de acreditar que eles possam dormir tranqüilamente esta semana, a menos que façam algo conjuntamente para por um fim à pobreza. Entretanto, dormem calmamente. Hoje em dia, os países do G-8 são mais ricos que antes e apesar disso nunca doaram tão pouco. Os governos do G-8 continuam desembolsando em ajuda ao desenvolvimento US$ 80 bilhões, o que equivale ao valor de uma xícara de café por semana para cada um de seus cidadãos.
Ao mesmo tempo, se gasta no mundo US$ 1 bilhão por ano em defesa. Portanto, o Chamado Mundial exige dos líderes do G-8 que aumentem a ajuda anual em mais US$ 50 bilhões. Além disso, reclama que os países ricos cheguem finalmente a 0,7% dos respectivos produtos internos brutos em ajuda, tal como se comprometeram a fazer a mais de 35 anos os próprios países desenvolvidos. E sabemos que esta ajuda extra seria de grande ajuda. Milhões de crianças agora vão à escola na Tanzânia, Uganda, Quênia, Malawi e Zâmbia graças ao dinheiro proveniente do alívio da dívida e da ajuda externa. Pela mesma razão, os cidadãos de Uganda já não têm de pagar pelo cuidado básico de sua saúde, uma política que levou a um aumento de 50% para 100% no comparecimento às clínicas sanitárias desse país e que duplicou o número de imunizações.
O anúncio dos ministros das Finanças do G-8 feito em junho passado de que será cancelada a dívida de 18 países foi um passo na direção certa, mas ainda é apenas uma gota no oceano. Falta uma vontade política maior. A mesma que se viu quando a dívida do Iraque de US$ 30 bilhões foi cancelada em um só dia. Outras 44 nações que necessitam de um alívio de sua dívida para atingirem suas metas contra a pobreza, incluindo Sri Lanka, Haiti e Vietnã, foram deixadas fora desse tratamento e, portanto, a montanha da dívida dessas nações apenas continuará crescendo. Alguns críticos do financiamento da ajuda para o desenvolvimento atribuem a persistência da pobreza mundial à corrupção. É verdade que se queremos que a pobreza se converta em história é preciso atacar a corrupção em todo lugar, tanto nos países ricos quanto nos pobres, nos governos, nas instituições internacionais ou nos negócios.
No fundo, são as pessoas pobres as mais afetadas pela corrupção e aquelas que mais sofrem como resultado dela. Em lugar de lavarmos as mãos diante do sofrimento das pessoas comuns, todos nós deveríamos estar apoiando a animadora tendência de cidadãos comuns de muitos países que se unem às campanhas contra a corrupção. Milhões de pessoas militam nas maiores campanhas do mundo contra a pobreza. Reclamam dos governos políticas transparentes e responsáveis em favor dos pobres. A maioria dos 150 milhões de pessoas de 72 países comprometidas nesta campanha pertence ao mundo em desenvolvimento. Elas exigem justiça, não caridade, marchando pelas ruas das capitais de seus países usando uma faixa branca no braço, símbolo de nosso movimento, em visível demonstração do poder do povo para se unir através de fronteiras em torno de um simples pedido: agir para deter a pobreza.