Fusões em busca da valorização de marcas

Valor Econômico – 26/08/2014 às 05h00


Por Ed Hammond | Financial Times, de Nova York


Chocolate, salsichas alemãs, café, cigarros, lagosta e bourbon. Juntos, parecem os ingredientes de uma noitada particularmente mal concebida. Mas outro fator une todos esses produtos: negócios.


As fusões na indústria dos produtos de consumo dispararam este ano, junto com o aumento das pressões competitivas, mudando os hábitos do consumidor e criando um ambiente favorável à realização de negócios para companhias interessadas em crescer, encolher ou redefinir o alcance de suas atividades.


As fusões e aquisições no setor de produtos de consumo atingiram US$ 271 bilhões nos primeiros sete meses do ano, segundo a Thomson Reuters. Isso representa um crescimento de cerca de 40% sobre o patamar de 2013, além de ser o maior número nesse período do ano desde 2008 e o ápice do boom de crédito.


O crescimento ocorre num cenário de retorno acentuado dos negócios em muitos setores. No entanto, as forças que estão por trás da atividade de fusões e aquisições no setor de consumo são diferentes das justificativas de crédito barato e aumento da confiança corporativa que conduzem muitos negócios.


Na verdade, o setor se depara com duas pressões convergentes, ambas enraizadas em tendências que antecedem a presente onda de atividade – e ambas encorajam os negócios. A primeira é a migração do modelo “tudo sob um mesmo teto”, há muito adotado como principal doutrina por grandes grupos de produtos de consumo.


Essa reversão do que vem sendo chamado como “corrida às armas das marcas” foi ilustrada no mês passado pela Procter & Gamble (P&G), maior companhia de produtos de consumo do mundo, que revelou que pretende se desfazer de até 100 linhas de produtos.


Outros titãs do consumo vêm adotando medidas parecidas, ainda que menos impetuosas. No ano passado a Del Monte Foods se desfez de sua divisão de frutas e legumes enlatados para se concentrar em seu maior negócio, rações para animais de estimação.


Ao mesmo tempo, companhias de produtos de consumo especializadas em uma determinada área estão aproveitando oportunidades para crescer, em parte para mascarar o crescimento orgânico fraco.


“Os consumidores não estão gastando mais, os mercados deram uma desacelerada e portando para aumentar os lucros você precisa sair por aí comprando concorrentes”, diz Andrew Shore, diretor da área de produtos de consumo do banco de investimentos Moelis. “As empresas estão tirando vantagem disso agora, uma vez que o ambiente de financiamentos ainda é bom e os investidores querem ver negócios.”


A tendência do crescimento do “produto único” foi melhor enfatizada este ano pelo anúncio de um complexo negócios de quatro vias entre a Reynolds American, Lorillard, British American Tobacco e Imperial Tobacco. O negócio – cuja peça central é a aquisição da Lorillard pela Reynold’s por US$ 27,4 bilhões – deverá remoldar a indústria de cigarro ao colocar muitas das marcas mundiais mais conhecidas sob um controle comum.


De modo parecido, o acordo firmado em maio pela Mondelez International e a DE Master Blender 1753 para criar uma potência mundial no setor de café, com vender de mais de US$ 7 bilhões, representa um dos negócios mais significativos da história da indústria das bebidas cafeinadas. Outros exemplos envolvem carnes processadas, cosméticos e destilados, como na aquisição da fabricante de Bourbon Beam pela Suntory’s por US$ 15,7 bilhões.


A expansão da categoria única também levou a um aumento dos negócios internacionais na área de produtos de consumo. No mês passado a Lindt, fabricante suíça de chocolates, fechou a compra da fabricante americana de doces Russell Stover por supostos US$ 1,4 bilhão. Enquanto isso, a Unilever vendeu seus negócios de molhos para massas Ragu e Bertolli para a Mizkan do Japão por US$ 2,15 bilhões.


“Uma das principais tendências que estão moldando o aumento a atividade de fusões e aquisições no setor de produtos de consumo é um esforço de consolidação das companhias de categoria única, sejam elas das áreas de café, chocolate, molhos, laticínios ou processamento de carne”, diz FX de Mallmann, diretor adjunto de varejo e cuidados com a saúde do Goldman Sachs. “As companhias de consumo estão percebendo que esta é a melhor oportunidade em muito tempo para a ampliação de suas posições e para a fusão com concorrentes domésticos ou aproveitar oportunidades surgidas nos mercados internacionais.”


O boom das fusões e aquisições dos produtos de consumo também está beneficiando os bancos e firmas de advocacia, já que muitas das transações enfrentam questões antitruste complexas e exigem pequenos exércitos de consultores. Entre os grupos financeiros que estão trabalhando em muitos desses grandes negócios estão o Goldman Sachs, Centerview Partners e Lazard.


No entanto, para as firmas de private equity a pressa das empresas por realizar alguma transação tem sido uma notícia tão ruim quanto passar uma noite inteira consumindo todos os produtos envolvidos nesses negócios. A competição entre os compradores estratégicos por ativos é tão grande que os fundos de buyout estão tendo dificuldades para encontrar alvos a preços apropriados.


O valor dos negócios realizados por compradores de private equity no setor de consumo é de US$ 23,6 bilhões no ano, até agora – uma queda de 52% em relação ao mesmo período de 2013, segundo a Thomson Reuters.


 

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