ECONOMIA
20/05/2009
Fusão da Sadia com Perdigão cria a Brasil Foods
São Paulo e Rio de Janeiro As empresas Perdigão e Sadia anunciaram oficialmente ontem acordo que prevê a união das duas companhias, criando uma empresa gigante do setor de alimentos, que recebeu o nome de Brasil Foods.
Pela operação, a Sadia, que precisava se capitalizar após as perdas de R$ 2,6 bilhões com derivativos, terá suas ações incorporadas em um primeiro momento pela sociedade criada no acordo, chamada HFF Par, que posteriormente terá suas ações incorporadas pela Brasil Foods.
Os grandes acionistas de Sadia (famílias Furlan e Fontana) e Perdigão (que tem controle pulverizado nas mãos de fundos, liderados pela Previ) continuarão presentes na nova sociedade. Os acionistas da Perdigão ficarão com uma fatia de 68% da Brasil Foods.
Os acionistas da Sadia terão participação de 32%, segundo o presidente do conselho de administração da Perdigão, Nildemar Secches. Conforme diz o executivo, a presidência do conselho será compartilhada entre ele e o presidente do conselho da Sadia, Luiz Fernando Furlan.
Paralelamente, a Brasil Foods realizará uma oferta pública de ações para captação de recursos no valor estimado de R$ 4 bilhões. O comunicado não menciona a participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tido como um dos investidores na oferta.
Segundo Secches, o banco manifestou interesse de participar da operação por meio da subscrição de ações, mas isso pode não ser necessário porque a demanda para a operação deve ser alta.
“Quase metade da emissão já esta demandada pelos atuais acionistas”, disse.
O objetivo da captação é sanar os problemas financeiros da Sadia, que, no fim de março, apresentava uma dívida total de R$ 8 bilhões.
Como a fusão vai afetar o seu bolso
Quem serão os maiores acionistas e os controladores?
Individualmente, o maior acionista será a Previ (cerca de 12%). Até então, a Previ tinha 4,16% do capital da Perdigão e 7,33% da Sadia. As famílias Furlan e Fontana, da Sadia, terão uma participação um pouco inferior a 12% na Brasil Foods (tinham 23% na Sadia).
Como será a troca de ações e o controle da futura empresa?
Pelo acordo assinado, 68% do capital da nova empresa ficará com acionistas da Perdigão, e 32%, com acionistas da Sadia. Esses percentuais podem mudar com a emissão de ações prevista para o fim de julho, em que o BNDESPar deve ingressar.
Como ficarão as marcas?
As marcas e os produtos das duas companhias serão mantidas no mercado. Continuarão a ser apresentados os produtos Sadia, Perdigão, Batavo, Qualy etc. No mercado internacional, a Brasil Foods fará um estudo de marcas com o objetivo de selecionar quais as de maior aceitação.
O BNDES vai entrar no negócio? De que forma?
Provavelmente via emissão de ações.
Haverá demissões ou sinergias?
Segundo a empresa, não há consenso sobre os temas, mas o negócio resultaria em uma economia que varia entre R$ 2 bilhões e R$ 4 bi. Furlan disse que não haverá demissões no “chão de fábrica”, uma vez que o objetivo da fusão é ganhar mercado e, por consequência, produzir mais, gerando mais empregos.
Haverá aumento de preços? E prejuízos ao consumidor?
A empresa diz que espera o contrário. “O objetivo da fusão é melhorar a competitividade e, automaticamente, ter preços melhores”, disse o presidente do conselho de administração da Perdigão, Nildemar Secches.
Quais as metas da nova empresa?
Um dos objetivos será entrar no mercado norte-americano, em que nenhuma das duas atuamente opera; e exportar será uma das prioridades.
Como fica o endividamento da nova empresa?
Está em torno de R$ 10 bilhões. Com os R$ 4 bi que devem ser captados via emissão de ações, cairia para R$ 6 bi, o que seria um nível normal para uma empresa que espera ter receita anual em torno de R$ 30 bi.
Oferta de ações da Brasil Foods ocorre até julho
A oferta pública de ações para captação de recursos deve ser feita pela Brasil Foods até o fim de julho, disse o presidente do Conselho de Administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan. Ele informou que será contratada, em breve, uma empresa para analisar as sinergias entre as fabricantes. No momento, existem três ou quatro empresas fazendo propostas para a Brasil Foods. A nova empresa terá até o dia 9 de junho – 15 dias úteis a partir da data de assinatura do contrato – para apresentar o negócio para as autoridades do Sistema de Defesa da Concorrência. É só a partir dessa apresentação que as empresas começarão a negociar com o Cade o Acordo de Preservação de Reversibilidade de Operação (Apro).
Nestlé quer regras iguais para a Garoto
São Paulo “As regras têm que ser iguais para todos”, afirmou ontem Ivan Zurita, presidente da Nestlé, sobre a possibilidade de o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar a aquisição da Sadia pela Perdigão, anunciada oficialmente pelas companhias.
Segundo o executivo, que esteve ontem em São Paulo em evento do Grupo Lide, não podem haver diferenças entre as empresas nacionais e as internacionais, no que tange às decisões de controle da concorrência nos mercados. “O Brasil precisa aprender a conviver com regras globalizadas”, disse Zurita.
Quando questionado sobre a possibilidade de o Cade aprovar a transação que formará a Brasil Foods antes da definição sobre a aquisição da Garoto pela Nestlé – cuja compra foi vetada há cinco anos e deve ser reavaliada pelo órgão –, o executivo afirmou que o critério do conselho será essencial para definir se o Brasil é um país responsável. “Se o Brasil é sério, é sério. Não sou a favor do favorecimento de certos setores”, enfatizou.
Zurita disse que “está preocupado” com a venda de produtos em que sofre forte concorrência, como café, achocolatado, iogurte, entre outros.