Fungo da ferrugem gera crise na indústria de café gourmet

Por: Valor Econômico

WALL STREET JOURNAL AMERICAS
16/05/2013 
  
Por Leslie Josephs | The Wall Street Journal


Colleen Anunu percebeu que alguma coisa estava errada assim que encostou os lábios numa xícara fumegante de café de Honduras.


Os grãos de café do país centro-americano geralmente produzem sabores “muito frutados” e com “altos teores de açúcar”, diz Anunu, chefe de compras da Gimme! Coffee, uma torrefadora e rede de cafeterias de Ithaca, no Estado americano de Nova York.


Mas durante o evento de degustação em Honduras a que ela compareceu, em março, “o café estava muito insípido”, diz.


A culpa é de um fungo alaranjado chamado “roya”, ou ferrugem do café, que é o pesadelo dos cafeicultores da América Latina.


O fungo está prejudicando a produção e se estima que vai causar prejuízos de US$ 500 milhões e eliminar 374.000 empregos na safra deste ano, afirma a Organização Internacional do Café.


O roya está tornando escassos alguns dos grãos de café mais apreciados do mundo e elevando seus preços. Algumas variedades de café da Guatemala custam agora US$ 0,70 a libra (US$ 1,54 o quilo) a mais que no contrato de referência mundial negociado na bolsa de commodities da IntercontinentalExchange Inc., comparado com um prêmio de US$ 0,60 a libra um ano atrás, segundo Andrew Miller, dono da Café Imports, uma importadora americana.


O preço mais alto significa que os consumidores de café gourmet (de alta qualidade) não estão aproveitando totalmente a queda acentuada de preço ocorrida no ano passado. A baixa permitiu que grandes torrefadoras, como Kraft Foods Group Inc., J.M. Smucker Co. e Starbucks Corp., reduzissem preços. Os futuros do café arábica caíram 19%, para US$ 1,44 a libra, nos últimos 12 meses, em grande parte devido à colheita abundante no Brasil.


O fungo se espalhou pelos cafezais desde o México até o Panamá, onde alguns dos grãos mais raros, e caros, são cultivados. O roya prospera nas folhas dos pés de café, bloqueando a fonte de nutrição dos grãos. Os cafezais atacados pelo fungo produzem menos grãos, que ficam desprovidos dos sabores refinados que atraem torrefadores de gourmet como Anunu.


“[O fungo] era muito agressivo”, diz Aida Batlle, uma cafeicultora de El Salvador. A ferrugem resistia a três aplicações de fungicidas nas plantações da família.


A produção da América Central deve diminuir 16% no ciclo produtivo que começou em outubro de 2012 e termina em setembro ante a safra anterior, prevê a OIC.


Os países da América Central produzem cerca de 10% do suprimento mundial de café – e alguns dos tipos mais adocicados do produto. Num sinal de que o fornecimento está ameaçado, Starbucks, Green Mountain Coffee Roasters Inc., J.M. Smucker e outras grandes do café se reuniram com agrônomos e agências governamentais na Cidade da Guatemala no que foi chamada uma “cúpula de emergência”.


As empresas não chegaram a um acordo quanto ao curso de ação imediato. Por enquanto, os governos dos países do continente estão liderando a luta contra o roya e gastando milhões de dólares para fornecer fungicidas aos agricultores.


Cientistas e produtores dizem que o roya será uma ameaça ainda maior em 2014 se as condições dos pés afetados piorarem e o fungo se espalhar para outras propriedades.


“É óbvio que é de grande interesse para o nosso negócio proteger a cadeia de fornecimento do café”, diz Lindsey Bolger, compradora da Green Mountain que foi ao encontro de abril.


É difícil para os cafeicultores salvar a colheita depois que o roya é detectado na maioria das folhas, diz Timothy Schilling, diretor executivo do World Coffee Research, uma organização não-governamental financiada por grandes firmas de café.


Se o fungo destruir mais de um terço das folhas de um pé de café, o agricultor provavelmente terá que podar até o tronco da árvore. O pé de café então só voltará a produzir grãos após três anos.


As chuvas fortes de 2008 na Colômbia alimentaram um surto de ferrugem que mais tarde virou uma epidemia.


O país é o segundo maior produtor de café da América Latina, depois do Brasil, mas em 2011 sua produção despencou e os preços chegaram ao nível máximo num período de 14 anos.


Nos últimos cinco anos, os produtores colombianos replantaram cerca de metade da área cultivada com café resistente à ferrugem, segundo a Federação Colombiana dos Plantadores de Café, um grupo setorial. Espera-se que a produção do país volte a pelo menos dez milhões de sacas este ano, 30% a mais que em 2012, afirma o grupo. Antes das chuvas e da onda de ferrugem, a Colômbia produzia mais de 11 milhões de sacas por ano.


Os torrefadores de café gourmet dizem que podem compensar parte da queda na produção da América Central comprando grãos do Brasil e da Colômbia, países que respondem juntos por mais de um terço da produção de café do mundo.

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