12/09/2014 | Café
Fungo ameaça cafezais orgânicos Teodomiro Melendres Ojeda, um produtor de café orgânico em Cajamarca, Peru, está numa encruzilhada. Nenhum dos caminhos possíveis é atraente. O fungo da ferrugem do café, conhecido como “roya” em espanhol, devastou um terço da sua safra. Melendres, 48, pode usar produtos químicos para matá-lo, porém corre o risco de perder sua certificação orgânica e o prêmio de 10% sobre os preços que ela traz. Ou ele pode preservar a certificação e deixar que suas plantas morram. “Nós, os cafeicultores, estamos entre a cruz e a espada”, disse Melendres.
O aquecimento global tem favorecido o fungo, permitindo que floresça em alturas outrora inóspitas. O pior surto mundial em 30 anos tem diminuído os rendimentos e a receita e causado a demissão de trabalhadores, do Peru ao México. Produtores orgânicos enfrentam perdas adicionais. Eles estão buscando formas de salvar suas fontes de subsistência e, ao mesmo tempo, evitar o uso de soluções químicas.
A ferrugem do café está chegando a alturas mais elevadas em toda a América Latina. Na Guatemala, por exemplo, antes o fungo florescia somente até 914 metros acima do nível do mar, disse Nils Leporowski, presidente da Associação Nacional do Café (Anacafé). Agora, o fungo pode ser encontrado até a 1.828 metros, disse ele.
A redução da produção deixou até 437.000 funcionários do café sem emprego na América Latina desde 2012, segundo a Promecafe, fundação de pesquisa com sede na Cidade da Guatemala.
O crescimento no consumo de café orgânico nos Estados Unidos tem desacelerado, segundo dados de membros da Associação de Comércio Orgânico (OTA), com sede em Brattleboro, Vermont. As vendas nos EUA aumentaram 7% entre 2012 e o ano passado, alcançando US 349 milhões, frente a um crescimento de 30% entre 2011 e 2012, segundo a associação. A taxa de crescimento continuará declinando neste ano por causa do fungo, e os preços poderiam aumentar devido à redução da oferta, disse a OTA.
Para que tenham o rótulo de orgânicos nos EUA, os grãos devem ser cultivados durante três anos sem o uso de pesticidas sintéticos nem de outras substâncias proibidas, com um plano de rotação das culturas sustentável que controle as pragas e evite a erosão e o esgotamento dos nutrientes do solo, segundo a OTA.
A doença, detectada pela primeira vez na América Latina na década de 1970, é causada pelo fungo Hemileia vastatrix. Ela interrompe a fotossíntese da planta e impede que os grãos amadureçam completamente.
A ferrugem do café devastou cultivos entre 2009 e 2012 na Colômbia, segunda maior produtora mundial de café arábica, o que elevou os preços dos grãos preferidos pela Starbucks Corp. a seu valor mais alto em 14 anos em 2011. A doença se espalhou para a América Central, o Peru e o México, e, combinado com uma seca no maior produtor do mundo, o Brasil, elevou os preços nos primeiros meses deste ano aos valores mais altos em 26 meses.
A impossibilidade de se adaptar às mudanças climáticas provocaria “grandes perdas econômicas em toda a cadeia de abastecimento” e perturbações sociais, segundo a World Coffee Research, um programa de desenvolvimento administrado pelo Instituto de Agricultura Internacional Norman Borlaug, da Texas A&M University System, em College Station.
O preço médio de varejo do café nos EUA foi de US 15,23 por quilo nas quatro semanas finalizadas em 10 de agosto, segundo dados compilados pela Bloomberg. O café orgânico é mais caro. A Costco Wholesale Corp. oferece um pacote de 2,27 quilos de café preto orgânico torrado cultivado em Chiapas, México, a US$ 42,04, ou US$ 18,52 por quilo.
Na Guatemala, a nona maior produtora mundial, 70% da área plantada foi infestada, o que aumentou em média 10% os custos de produção, segundo Leporowski da Anacafé.
Melendres, o fazendeiro peruano, decidiu continuar produzindo de modo orgânico para ganhar seu prêmio nos preços, apesar de que 40% da safra no Peru tenha sido afetada, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Fonte: Marvin G. Pérez, do Valor Economico