FINANÇAS
02/09/2010
Crescimento reflete aposta na diversificação de ativos
Assis Moreira, de Genebra | VALOR
O total de investimentos financeiros nos mercados de commodities passou pela primeira vez a barreira de US$ 300 bilhões, justamente quando a União Europeia se prepara a reforçar regulação dos derivativos de matérias-primas. Entre janeiro e julho, o fluxo de capital para os índices de commodities alcançou US$ 31,9 bilhões, o que significou uma queda de US$ 13 bilhões em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Barclays Capital, de Londres. Somente em julho, o fluxo foi de US$ 5 bilhões.
No entanto, os fundos de índices de matérias-primas continuam sendo amplamente procurados por investidores apostando em diversificar seus ativos, como fica claro nos ativos totais de US$ 300,5 bilhões sob gestão, quando há dez anos não chegavam a US$ 10 bilhões.
A França, que assumirá a presidencia do G-20, grupo das maiores nações do mundo, anunciou que uma de suas prioridades será impor mais controle dos mercados financeiros ativos em matérias-primas. O governo francês sugere que a Europa dê o exemplo e estabeleça um regulador continental, diante da \’forte suspeita\’ de que o movimento nos mercados de derivativos de commodities teria influência excessiva sobre a formação dos preços agrícolas e energéticos.
A sugestão foi bem-recebida pela União Europeia, que se prepara para anunciar até o dia 15 de setembro uma legislação sobre os produtos derivativos, concebidos originalmente como instrumentos de cobertura de riscos, para se proteger de grandes flutuações de cotações, mas que agora são acusados de alimentar a especulação.
Em estudo enviado à UE, o governo francês exemplifica que os mercados financeiros do petróleo bruto e de produtos petroleiros pesariam 35 vezes mais do que os mercados físicos em termos de volume de posições vendidas. E o preço do barril é de fato fixado, para numerosas transações, levando-se em conta o diferencial com os preços futuros.
Os mercados de derivativos de produtos agrícolas na Europa ainda estão em desenvolvimento. Esses mercados são mais ativos nos Estados Unidos. A Chicago Mercantile Exchange negocia contratos de produtos vegetais (trigo, milho, açúcar e canola) e produtos animais (bovino, porco, manteiga). Na Europa, a Euronext Nyse Liffe é o principal operador do mercado financeiros sobre os derivativos agrícolas, propondo contratos em Londres para cacau, café e açúcar e em Paris para trigo, milho e canola.
A evolução da Política Agrícola Comum (PAC) europeia, segundo o governo francês, favoreceu a especulação. O volume de contratos negociados aumentou 161% entre 2000 e 2009. A liquidez é muito mais forte nos EUA, onde a razão entre os volumes negociados no mercado a termo e o total da produção física é de 39 para o trigo comprado a 0,52 na Europa, por exemplo.
Paris acusa o setor financeiro de afetar a renda e segurança alimentar de países em desenvolvimento, e conseqüências \’fortes\’ para os produtores de países desenvolvidos. Mas admite também que a volatilidade histórica dos preços agrícolas é raramente acima de 30%, comparada a até 100% no caso de outras matérias-primas como petróleo e gás.
Outro alvo dos franceses é o mercado de metais. O volume de contratos de derivativos em relação ao volume físico mundial é considerável. Exemplo: o mercado mundial de alumínio é estimado em 40 milhões de toneladas, mas o volume negociado em Londres em 2008 representou um montante teórico de metal de 1,3 bilhão de toneladas.
\”O risco de abusos de mercado se materializou na Europa\”, diz o documento francês. \”As manipulações no mercado de Londres tomaram a forma de aperto que tem por base o mercado físico\”. As operações secaram o mercado e provocaram uma explosão de preços, segundo os franceses.
Além de tentar controlar os derivativos, a Comissão Europeia quer regulamentar as vendas a descoberto, de títulos que o vendedor ainda não detém