22/04/2014
Na 2ª semana de abril corrente estive em visita aos 5 principais países cafeeiros da América Central, para transmitir, através de palestras, a experiência brasileira no controle da ferrugem do cafeeiro. Aproveitei, também, para observar as condições em que se encontram os cafezais e a sua produção, diante do ataque dessa doença e de outros problemas pelos quais a cafeicultura regional tem passado nos 2 últimos anos.
Verifiquei que, no geral, a cafeicultura vem enfrentando dificuldades. Primeiro foi a seca, em 2012, depois muita chuva e depois a ferrugem. Isso tudo e, com certeza, também o mal trato que vinha sendo dispensado às lavouras, em função dos preços baixos, provocou perdas significativas na safra de 2013. Para 2014, agora está iniciando o período de chuvas e de floração, prevendo-se uma pequena recuperação das safras. No entanto, as lavouras estão, em sua maioria, bastante desfolhadas.
Vamos aos números que apurei com os técnicos em cada país.
Costa Rica – Possui cerca de 93 mil ha de cafezais, que produzem, anualmente, cerca de 2 milhões de sacas, portanto, com produtividade de cerca de 21 scs/ha. Em 2013, em função dos problemas, houve uma redução de cerca de 15% na safra. A ferrugem passou a ser grave também em áreas de altitude acima de 1200m, onde antes não era. Houve constatação de mais 2 raças novas do fungo, sendo que a raça 34 tem capacidade de atacar também os catimores (fatores v6…v8).
Guatemala – a cafeicultura ocupa cerca de 276 mil ha, produzindo 3 – 3,5 milhões de sacas/ano, portanto com produtividade de 13 scs/ha. Em 2013 a perda de safra foi estimada em 500 mil sacas, ou cerca de 14%. Neste país sobressai a participação maior de médios e grandes produtores, com melhor nível, sendo responsáveis por cerca de 60% da área de café.
El Salvador – a área cafeeira é de cerca de 150 mil ha e as safras normais tem variado de 1,1 a 1,3 milhão de sacas/ano. Assim, a produtividade média tem sido muito baixa, na faixa de 8 scs/ha. A área, em sua maioria(70%), está em pequenas propriedades. A perda de safra em 2013 foi de cerca de 60% e em 2014 pode haver uma recuperação, com perda ainda de 25% sobre a safra normal.
Honduras – possui uma área cafeeira de cerca de 280 mil ha e produz safra de cerca de 4,6 milhões de sacas/ano, assim com produtividade de 16 scs/ha. Em 2013 a safra caiu cerca de 17% e está prevista recuperação em 2014.
Nicarágua – a área cafeeira no país é estimada em 110 mil ha e as safras normais tem sido de cerca de 1,5 milhão de sacas/ano. A produtividade das lavouras é de cerca de 13 scs/ha. Em 2013 a perda foi estimada em 25-30%. Para 2014 não deve haver boa recuperação produtiva devido à permanência do ataque de ferrugem e pela grande área recepada em 2013.
As condições de ambiente e de manejo observadas nas lavouras indicam que ocorrem, em todos os países visitados, situações favoráveis à evolução da ferrugem, destacando-se:
a) Variedades cultivadas muito susceptíveis à doença, sendo a maioria de Caturra e Bourbon, apenas na Costa Rica e Honduras, havendo, já, uma boa participação do Catuai. Têm havido introduções de seleções de Catimores, como Cuscatleo, Lempira e CR 95, no entanto relatam sua bebida inferior e, já, ocorrência de infecções nas plantas. No aspecto de variedade, destacaram a boa qualidade e preço alto nos cafés da var Pacamara. Alguns países como a CR e Honduras estão distribuindo novas variedades para plantio, como o Obatã e outros.
b) Sistemas de espaçamentos adensados, normalmente na faixa de 1,7-2,0 X 1,0-1,20m, facilitando a manutenção de sombra e umidade dentro da lavoura, favorecendo a ferrugem e dificultando as aplicações de controle.
c) Uso de sombreamento, com sombra, no geral, muito fechada, à exceção de CR que usa pouca sombra. Essa prática facilita a nutrição das plantas e a sustentabilidade da plantação, suportando o cultivo de variedades conhecidamente de pouco vigor, como a Caturra. No entanto, reduz a produtividade e facilita a evolução da ferrugem. Nesse sentido, foi observada a manutenção do inoculo da ferrugem, pela permanência de mais folhas velhas do ciclo produtivo anterior, por efeito da sombra, o que dificulta o controle.
d) Cultivo em áreas, no geral, bastante declivosas, com ausência de caminhos nas lavouras, agravado pelo adensamento dos plantios, tudo dificultando a operacionalização das aplicações para o controle químico.
As condições favoráveis aqui levantadas, e, mais, as observações de campo, onde, mesmo antes do período infectivo, estando agora no final do período seco, foi observada muita infecção pela ferrugem, indicam que o problema da doença tem tudo para persistir. Deste modo, como ocorreu, a partir de 1970, no Brasil, deve haver uma significativa transformação na cafeicultura da América Central, com recuperação e renovação de cafezais, com novas tecnologias, pois a produtividade, no geral, tem sido muito baixa.
Como nem tudo são espinhos, observei duas condições favoráveis, sendo o baixo custo da mão de obra, na maioria das regiões pagando-se, apenas, de US$ 3.00 – 5.00 por dia de trabalho no campo e o grande cuidado dos cafeicultores com a qualidade dos cafés, representando melhores preços do produto.
Fonte: José Braz Matiello
17/04/2014
Na 2ª semana de abril corrente estive em visita aos 5 principais países cafeeiros da América Central, para transmitir, através de palestras, a experiência brasileira no controle da ferrugem do cafeeiro. Aproveitei, também, para observar as condições em que se encontram os cafezais e a sua produção, diante do ataque dessa doença e de outros problemas pelos quais a cafeicultura regional tem passado nos 2 últimos anos.
Verifiquei que, no geral, a cafeicultura vem enfrentando dificuldades. Primeiro foi a seca, em 2012, depois muita chuva e depois a ferrugem. Isso tudo e, com certeza, também o mal trato que vinha sendo dispensado às lavouras, em função dos preços baixos, provocou perdas significativas na safra de 2013. Para 2014, agora está iniciando o período de chuvas e de floração, prevendo-se uma pequena recuperação das safras. No entanto, as lavouras estão, em sua maioria, bastante desfolhadas.
Vamos aos números que apurei com os técnicos em cada país.
Costa Rica – Possui cerca de 93 mil ha de cafezais, que produzem, anualmente, cerca de 2 milhões de sacas, portanto, com produtividade de cerca de 21 scs/ha. Em 2013, em função dos problemas, houve uma redução de cerca de 15% na safra. A ferrugem passou a ser grave também em áreas de altitude acima de 1200m, onde antes não era. Houve constatação de mais 2 raças novas do fungo, sendo que a raça 34 tem capacidade de atacar também os catimores (fatores v6…v8).
Guatemala – a cafeicultura ocupa cerca de 276 mil ha, produzindo 3 – 3,5 milhões de sacas/ano, portanto com produtividade de 13 scs/ha. Em 2013 a perda de safra foi estimada em 500 mil sacas, ou cerca de 14%. Neste país sobressai a participação maior de médios e grandes produtores, com melhor nível, sendo responsáveis por cerca de 60% da área de café.
El Salvador – a área cafeeira é de cerca de 150 mil ha e as safras normais tem variado de 1,1 a 1,3 milhão de sacas/ano. Assim, a produtividade média tem sido muito baixa, na faixa de 8 scs/ha. A área, em sua maioria(70%), está em pequenas propriedades. A perda de safra em 2013 foi de cerca de 60% e em 2014 pode haver uma recuperação, com perda ainda de 25% sobre a safra normal.
Honduras – possui uma área cafeeira de cerca de 280 mil ha e produz safra de cerca de 4,6 milhões de sacas/ano, assim com produtividade de 16 scs/ha. Em 2013 a safra caiu cerca de 17% e está prevista recuperação em 2014.
Nicarágua – a área cafeeira no país é estimada em 110 mil ha e as safras normais tem sido de cerca de 1,5 milhão de sacas/ano. A produtividade das lavouras é de cerca de 13 scs/ha. Em 2013 a perda foi estimada em 25-30%. Para 2014 não deve haver boa recuperação produtiva devido à permanência do ataque de ferrugem e pela grande área recepada em 2013.
As condições de ambiente e de manejo observadas nas lavouras indicam que ocorrem, em todos os países visitados, situações favoráveis à evolução da ferrugem, destacando-se:
a) Variedades cultivadas muito susceptíveis à doença, sendo a maioria de Caturra e Bourbon, apenas na Costa Rica e Honduras, havendo, já, uma boa participação do Catuai. Têm havido introduções de seleções de Catimores, como Cuscatleo, Lempira e CR 95, no entanto relatam sua bebida inferior e, já, ocorrência de infecções nas plantas. No aspecto de variedade, destacaram a boa qualidade e preço alto nos cafés da var Pacamara. Alguns países como a CR e Honduras estão distribuindo novas variedades para plantio, como o Obatã e outros.
b) Sistemas de espaçamentos adensados, normalmente na faixa de 1,7-2,0 X 1,0-1,20m, facilitando a manutenção de sombra e umidade dentro da lavoura, favorecendo a ferrugem e dificultando as aplicações de controle.
c) Uso de sombreamento, com sombra, no geral, muito fechada, à exceção de CR que usa pouca sombra. Essa prática facilita a nutrição das plantas e a sustentabilidade da plantação, suportando o cultivo de variedades conhecidamente de pouco vigor, como a Caturra. No entanto, reduz a produtividade e facilita a evolução da ferrugem. Nesse sentido, foi observada a manutenção do inoculo da ferrugem, pela permanência de mais folhas velhas do ciclo produtivo anterior, por efeito da sombra, o que dificulta o controle.
d) Cultivo em áreas, no geral, bastante declivosas, com ausência de caminhos nas lavouras, agravado pelo adensamento dos plantios, tudo dificultando a operacionalização das aplicações para o controle químico.
As condições favoráveis aqui levantadas, e, mais, as observações de campo, onde, mesmo antes do período infectivo, estando agora no final do período seco, foi observada muita infecção pela ferrugem, indicam que o problema da doença tem tudo para persistir. Deste modo, como ocorreu, a partir de 1970, no Brasil, deve haver uma significativa transformação na cafeicultura da América Central, com recuperação e renovação de cafezais, com novas tecnologias, pois a produtividade, no geral, tem sido muito baixa.
Como nem tudo são espinhos, observei duas condições favoráveis, sendo o baixo custo da mão de obra, na maioria das regiões pagando-se, apenas, de US$ 3.00 – 5.00 por dia de trabalho no campo e o grande cuidado dos cafeicultores com a qualidade dos cafés, representando melhores preços do produto.
Fonte: José Braz Matiello