27/11/09
BID diz que alto custo do transporte na região é mais danoso do que taxas
Carregar soja por distâncias semelhantes por caminhão pode custar quase quatro vezes mais no Brasil do que o valor necessário nos EUA
SÉRGIO DÁVILA DE WASHINGTON
O alto custo do transporte é o principal fator de obstrução do crescimento das economias latino-americanas e representa uma barreira comercial maior do que as tarifas, tradicionais vilãs da região. Atualmente, tais custos são mais de quatro vezes maiores do que os custos das tarifas na América Latina.
Isso faz com que a região gaste quase duas vezes mais em despesa de frete para importar seus bens do que os EUA. As conclusões são de estudo inédito feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a ser divulgado hoje, ao qual a Folha teve acesso antecipado com exclusividade.
No estudo, conclui-se que só a adoção de regras de livre comércio dos últimos dez anos, como a queda nas tarifas, não é suficiente para que a região ganhe competitividade.
Na média, 6,6% das exportações da América Latina vão para despesas de frete, ante 3,4% dos EUA. Dos 22 países avaliados, Paraguai e Peru estão entre os que mais gastam, com, respectivamente, 9,6% e 7,7%. No Brasil, o gasto é de 5%. Mas o estudo aponta exemplos brasileiros em que a distorção é bem maior. Um deles compara carregamentos de soja similares entre o norte de Mato Grosso e o porto de Paranaguá, no Paraná, em caminhão, e entre Davenport, no Estado do Iowa, no Meio-Oeste norte-americano, até o golfo do México, em caminhão e em barca pelo rio Mississipi.
Apesar de as distâncias serem semelhantes, o custo do transporte da carga brasileira será até 3,6 vezes maior. Um corte de dez pontos percentuais nos custos de frete elevaria a produtividade das empresas brasileiras em 0,5% a 0,7%, de acordo com o levantamento. Na média, 6,2% do custo total dos produtos vendidos para os EUA pelos países da América Latina vão para transporte, mesma porcentagem que gasta a China e quase o dobro da União Europeia.
“É preciso mudar a agenda da política comercial na região”, disse Mauricio Mesquita Moreira, economista sênior do setor de integração e comércio do BID. Para ele, para que os custos baixem, não se trata apenas de investir na infraestrutura. “Isso é importante, mas sozinho não resolve. É preciso olhar para uma reforma regulatória no setor.”