02/09/2007 06:09:26 – Folha de São Paulo
Empresário deve esperar para entrar no mesmo ramo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Antes de partir para o vôo solo, o franqueado precisa checar o que o contrato permite que ele faça em seu novo negócio.
A Lei de Franquia Empresarial exige que seja expresso nesse documento como fica a situação do ex-franqueado ao fim de seu prazo de vigência.
Nele há cláusulas sobre o que poderá ou não ser feito com o know-how adquirido com o formato de negócio e como deverá implantar uma atividade concorrente à do franqueador.
O contrato também estipula o tempo mínimo exigido para o ex-franqueado abrir negócio similar ou concorrente.
Para driblar essas exigências, alguns usam expedientes que nem sempre são legais. “É daí que nascem os “laranjas”, diz Ana Vecchi, da consultoria Vecchi &; Ancona. Ela explica que alguns ex-franqueados abrem o próprio negócio e o registram sob o nome de um parente ou amigo. “Mas é lógico que os advogados ficam em cima.”
Antes de ser aceito na franquia, o empresário geralmente passa por uma análise de perfil que mede se ele vai agüentar seguir as regras.
Mesmo assim, alguns empreendedores se tornam tão qualificados que suportam por pouco tempo a relação franqueador/franqueado. É o excesso de empreendedorismo, e não o contrário, o que causa o racha na sociedade.
Perfil rebelde
“Quem for 100% empreendedor, na hora em que adquirir know-how, abandonará a bandeira e passará a cuidar da vida dele”, avalia Vecchi.
Um exemplo é o franqueado especialista em grãos de café, chefe de cozinha ou expert em uma área e que procura a franquia só para entrar no mercado.
Para Vecchi, os setores em que é mais complicado se aventurar -em termos de perfil e repasse do know-how- são alimentação e vestuário.
O de alimentação pode gerar uma relação complicada com fornecedores. “Existe uma enganação, uma má avaliação por parte das pessoas, que acham que vão se sentir bem tocando aquele negócio e, lá na frente, não é bem aquilo”, diz Vecchi.
Quem trabalha com vestuário também enfrenta problemas. “Algumas pessoas se encantam com aquele mundo fashion, de cores, de tendências. Mas muitas vezes não é nada disso. Na época de fazer liquidação, promoção, têm de recompor a grade para vender melhor”, explica Vecchi.
Alguns empresários com espírito empreendedor contornam esses problemas e percebem que trabalhar fora da marca não é má idéia.
“Tem gente que cresce, bate a cabeça no teto da franquia e não tem mais para onde expandir”, diz Adir Ribeiro, consultor do grupo Cherto. “A idéia é aumentar o envolvimento do franqueado com o franqueador.” (SM e WV)
Vontade de se diferenciar decide saída da franquia
02/09/2007 06:09:22 – Folha de São Paulo
Acordo com franqueador define se é possível usar know-how adquirido
Leo Caobelli/Folha Imagem
Maria Alzira Linares, da Lavasecco, rompeu contrato e abriu sua rede de lavanderias
SILAS MARTÍ
WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para um franqueado, abandonar a segurança e as garantias financeiras desse modelo de negócio parece ser uma manobra bastante arriscada.
Mas é uma boa saída para empresários que, passado o susto de entrar no mercado, sentem-se mais bem estabelecidos e decidem abrir um negócio com cara e marca próprias.
Criativa na cozinha, a empresária Fátima Parisi percebeu que a venda de salgados andava em baixa e resolveu deixar a franquia da Empada Brasil para abrir um café com sua cara e sua comida. “Cozinhar era meu hobby. Eu sempre tive jeito para a coisa”, conta a empresária.
Antes, porém, entrou em acordo com o franqueador e se comprometeu a vender as mesmas empadas sem usar a bandeira, com liberdade para montar seu próprio cardápio -exatamente o que queria.
“A marca não fez diferença. Muita gente vem para comer empada e acaba almoçando. É menos pela marca e mais pelo ponto”, conta Parisi.
Alguns até viram o jogo, passando de franqueado a franqueador. Maria Alzira Linares conta que rompeu o contrato de franquia com uma rede de lavanderias para atender outra clientela e oferecer serviços personalizados, como pequenos reparos na costura e tratamento de peças de couro.
“Tentamos incorporar serviços que não tínhamos na franquia”, explica a empresária, que hoje é dona da rede de lavanderias Lavasecco e tem quatro lojas franqueadas e seis próprias -uma delas dentro da Daslu.
O rompimento foi desgastante e complicado, mas valeu a pena, segundo Linares. E ela conseguiu cativar franqueados que, como ela, abandonaram a franquia anterior.
“Já estivemos na pele dos franqueados e sabemos o que eles não querem”, conta Linares, que faz questão de se reunir com eles a cada 15 dias e incorporar sugestões de cada um às decisões centrais da marca.
Fim do contrato
Romper o contrato com uma franquia, porém, não é tarefa tão fácil e costuma ter sérias implicações legais.
A Lei de Franquia Empresarial exige que seja definido no documento o que o ex-franqueado poderá ou não fazer com o know-how adquirido enquanto esteve a bordo da franquia (leia mais na página 3).
Quem nunca se preocupou com isso foi Áurea Weber, dona da escola de inglês Just In Time e presidente de uma associação de escolas de idioma não-franqueadas. “Sempre atuei como independente por convicção, por ser da área e achar que o sistema que eu criei é muito melhor do que o de uma franquia.”
“Adoro ter liberdade para criar cursos diferentes e dar tratamento específico para as necessidades de cada cliente. Tenho uma escola no mesmo endereço há 18 anos. Não tenho essa fúria expansiva”, diz.