Guilherme Rios Luiz Silveira
O volume recorde de contratos futuros agropecuários negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&F) deve-se, principalmente, à entrada pesada no mercado de empresas que vendem fertilizantes, defensivos e insumos destinados à produção de commodities agrícolas. “São grandes companhias que atuam na BM&F para gerir os riscos em relação aos preços das mercadorias”, avalia o chefe de mercados agrícolas da BM&F, Luiz Cláudio Caffagni.
Esta tendência é resultado, em grande parte, da perda de renda do produtor de grãos. Para garantir que vão receber pelos produtos fornecidos, as empresas de insumos negociam cada vez mais por meio de contratos de troca, em que adiantam seus produtos e recebem mercadorias como pagamento, na colheita.
“Isso fez com que as empresas de defensivos e fertilizantes dêem maior importância para os contratos futuros, que são uma garantia contra a variação de preços das mercadorias que pode ocorrer entre a entrega do insumo e o recebimento da colheita”, avalia Caffagni.
Os contratos futuros são uma proteção contra oscilações no preço porque a mercadoria é paga na data do contrato. “Conheço diversos produtores de soja do Mato Grosso que não estão quebrados por que protegeram seus negócios vendendo as mercadorias em contratos futuros na bolsa”, conta o executivo.
No caso do milho, uma das commodities agrícolas que estão registrando maior queda nas cotações, o número de contratos negociados na BM&F saltou 164% entre março de 2005 e o mesmo mês este ano. “Esse recorde deve-se à entrada de grandes granjeiros e cooperativas. Nenhuma crise é boa, mas faz o setor amadurecer”, resume Caffagni.
Outro fator que tem aumentado a atenção do agronegócio com a gestão de riscos é a insegurança com relação ao câmbio. “O dólar é um risco novo, que está obrigando as empresas a fazer efetivamente a gestão de riscos. Isso acaba resultando em maiores cuidados com a volatilidade dos preços e não só do câmbio”, explica Caffagni.
Aumento da liquidez
Além do volume de contratos negociados, a BM&F tem alcançado bons resultados nos contratos em aberto, que indicam a liquidez do mercado — facilidade de comprar e vender, entrar e sair do mercado.
Em março, a bolsa atingiu 52 mil contratos em aberto, com aumento de 18,4% em relação ao mesmo mês em 2005.
“Uma das razões para isso é a maior participação de estrangeiros nas negociações de café, especialmente garantindo os preços de compra”, avalia Caffagni. Investidores de fora do País representam 46,2% dos compradores de contratos de café negociados em março.
Álcool
Outro potencial de crescimento da BM&F está nos contratos futuros de álcool, especialmente com o movimento de formação de um mercado internacional do etanol. “Além da BM&F, apenas a Bolsa de Chicago opera futuros de álcool, mas com uma liquidez muito menor”, afirma o executivo da BM&F.
A tendência é que, ao comprar o produto do Brasil, os importadores entrem nos mercados futuros para garantir os preços. “Conforme o mercado ganha liquidez, aumenta o interesse de compradores internacionais pelo produto”, avalia Caffagni.
Apesar das boas perspectivas, as negociações de futuros de álcool caíram 28,4% em março, comparando com o mesmo mês do ano passado. “Toda vez que o governo interfere nos preços, o mercado de futuros se retrai, pois não há mais riscos”, resume o executivo da BM&F.
Armazéns garantidos
A BM&F está fazendo o recadastramento dos seus armazéns para atrair investidores. Trata-se do Armazém Garantido Bolsa (AGB). Pertencerão a essa categoria os armazéns que, além de seguir todas es exigências dos Armazéns Cadastrados da BM&F, contratarem uma garantia adicional, na forma de seguro, e aderirem ao Regime Especial de ICMS.
“Isso vai gerar maior interesse do mercado financeiro em relação às mercadorias agrícolas, uma vez que a BM&F vai
garantir os lotes armazenados e qualquer instituição financeira vai ‘carregar’ os estoques com o CDA/WA”, afirma Caffagni.
O Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) é um título de crédito representativo de promessa de entrega de produto depositado. Ele é emitido pelo armazenador, em favor do depositante, que poderá ser produtor, cooperativa, comerciante, indústria ou exportador. O WA (Warrant Agropecuário) é um título de crédito que confere ao credor o direito de penhor sobre o produto descrito no CDA correspondente.
Segundo Caffagni, o fundo terá sua mercadoria garantida pela Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&F).
MERCADO FUTURO