Um jato de pequeno porte com excelente performance em pistas molhadas desenvolvido pela Embraer, um abacaxi mais doce e resistente a pragas e um kit de ordenha manual que evita a contaminação do leite são alguns dos projetos que conquistaram o Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica 2007 – Região Sudeste. Das propostas premiadas no dia 24 de outubro, em seis categorias, quatro são de São Paulo, uma do Espírito Santo e a outra de Minas Gerais.
As empresas vencedoras foram as paulistas Embraer, na categoria Produto, a Orbital Engenharia, em Processo, o laboratório Cristália, como Média/Grande Empresa e a Nanox Clean, como Pequena Empresa. O Prêmio de melhor Instituição de C&T ficou com o Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), que conseguiu com o uso de técnicas de melhoramento genético dobrar a produtividade do abacaxi no Estado, gerando uma economia anual de R$ 1,2 milhão para os produtores. O primeiro lugar na categoria Inovação Social coube à Embrapa Gado de Leite, de Minas Gerais.
A cerimônia de entrega dos troféus aconteceu em Pinheiros, São Paulo, na sede do British Council, um dos patrocinadores do Prêmio FINEP. Também receberam troféus o segundo e o terceiro colocados em cada uma das seis categorias. Agora, os seis vencedores do Sudeste vão disputar com as demais regiões do Brasil a etapa Nacional do Prêmio, que está prevista para acontecer no fim do ano, em Brasília.
Do total de 732 propostas inscritas em todo o país, a Região Sudeste concorreu com 214. O julgamento dos projetos, que contou com a participação de nove jurados representantes das comunidades acadêmica e empresarial, ocorreu no dia 12 de setembro.
O Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica visa estimular os esforços inovadores de empresas, cooperativas e instituições de ciência e tecnologia que geram resultados positivos para a sociedade brasileira. Surgiu em 1998, na região Sul, com 48 projetos inscritos. No ano 2000 foi lançado em todas as regiões do país, com 279 inscrições.
Os projetos vencedores.: Embraer (SP): Produto – Avião de pequeno porte é ideal para pistas molhadas.
Ele pode durar mais de 30 anos, economiza combustível, tem excelente desempenho em pistas molhadas, é fácil de pilotar e, ainda, possui características de design e conforto que o diferenciam dos concorrentes. Aliando a experiência em aviação comercial para a aviação executiva, a Embraer lançou, em maio de 2005, o Phenom 100, primeiro jato de porte pequeno da empresa.
O avião tem ciclo de vida de 35 mil pousos, independentemente da duração do vôo ou da distância percorrida. Estimando três pousos diários por ano, este período corresponderia a 32 anos de vida útil. Similares da categoria tem duração estimada em 15 mil pousos, aproximadamente 14 anos de vida. Esse diferencial do produto permite o uso extensivo em operações de táxi-aéreo, que têm intenso fluxo de vôos diários.
A utilização da fibra de carbono em 20% de sua estrutura deixa a aeronave mais leve, e garante um consumo menor de combustível. O Phenom 100 é equipado com o freio anti-skid, similar ao ABS utilizado em automóveis, que possui sistema antitravamento das rodas, evitando o estouro dos pneus e a derrapagem, tornando a aeronave uma excelente opção para pouso em pistas molhadas.
Pode voar até 41 mil pés, mesma altitude utilizada em vôos de aviões comerciais. Percorre 2.146 quilômetros, o que corresponde à distância entre Rio de Janeiro e Maceió, sem precisar ser reabastecido. Os concorrentes têm alcance de 1.850 quilômetros.
O jato tem capacidade para oito ocupantes, incluindo dois pilotos. Como a cabine de controle permite o acesso às informações de maneira mais fácil, ele pode ser operado por apenas um piloto, liberando espaço para mais um passageiro.
Orbital Engenharia (SP): Processo – Satélite lançado da China usa tecnologia brasileira. O painel solar desenvolvido pela Orbital Engenharia integra o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS-2B), lançado da China no dia 19 de setembro. Uma semana antes, a inovação foi escolhida vencedora regional da categoria Produto.
Com 16 mil células solares produzidas a partir do silício, o painel capta a energia do sol e a converte em energia elétrica, utilizada para alimentar os equipamentos e recarregar as baterias do satélite. Apenas 15% da energia solar são transformadas em elétrica; 7% são refletidos e os 78% restantes viram calor. O processo para produção do painel solar tem duas fases críticas: a soldagem das células, e a colagem da cobertura de proteção, que as protege da radiação espacial, aumentando sua eficiência.
Projetado para durar dois anos, o CBERS-2B tem potência – a rapidez com a qual certa quantidade de energia é transformada – de 1.500 watts. Com os desgastes causados pela radiação, no fim da vida útil esse número cai para 1.100 watts.
O Programa CBERS nasceu de uma parceria inédita entre Brasil e China no setor técnico-científico espacial. O primeiro satélite, o CBERS-1, foi lançado em outubro de 1999. O segundo, chamado de CBERS-2, entrou em órbita em 2003. Com o Programa, o Brasil conquistou a possibilidade de operar satélites de grande porte e obteve uma poderosa ferramenta para monitorar seu imenso território. Devido ao sucesso, os governos da China e do Brasil prevêem o lançamento de mais dois modelos a partir de 2009.
As imagens geradas pelos satélites são usadas em importantes campos, como o controle do desmatamento e queimadas na Amazônia, o monitoramento de recursos hídricos, áreas agrícolas, crescimento urbano e ocupação do solo. Os três satélites possibilitaram a criação de um banco com 300 mil imagens na internet, que pode ser acessado por qualquer pessoa. Cerca de 1.500 instituições, entre universidades, escolas e empresas, utilizam o serviço.
Cristália (SP): Grande empresa – Medicamento para tratamento do alcoolismo. Considerado nos Estados Unidos o medicamento mais moderno para o tratamento de alcoólatras, por inibir a sensação de prazer proporcionada pela ingestão de álcool, o Revia está sendo produzido atualmente pelo Laboratório Cristália. O medicamento age especificamente na região do cérebro responsável por bloquear os receptores da endorfina, que estimulam a sensação de euforia.
O Cristália iniciou suas atividades na área de Psiquiatria em 1972, fornecendo medicamentos para clínicas, hospitais e, principalmente, para o governo. O primeiro medicamento de grande repercussão desenvolvido pela empresa foi o haloperidol, indicado para tratamento dos sintomas psicóticos, como agitação e agressividade.
Hoje, de acordo com dados do Grupo de Profissionais Executivos do Mercado Farmacêutico (GRUPEMEF), cerca de 95% dos hospitais brasileiros utilizam produtos fabricados pelo Laboratório. A partir de 1998, a empresa entrou no ramo de vendas em farmácias e drogarias. Só em 2006, foram US$ 250 milhões em vendas nesses segmentos.
Para o tratamento de queimaduras, o Cristália desenvolveu o Alimax, spray que promove uma cura mais rápida e grande alívio da dor, em comparação aos medicamentos convencionais. Outro produto introduzido no mercado este ano é o curativo Veloderm, constituído por uma película biológica natural obtida a partir da cana-de-açúcar, que atua como um substituto da pele, especialmente no tratamento de queimaduras e em cirurgias plásticas.
O Laboratório é o segundo do mundo a fabricar o Sevocris, medicamento inalatório à base de sevoflurano que promove a anestesia geral. Com patente concedida na Europa, o produto é responsável por 4,8% do faturamento líquido da empresa. Ao todo, foram 33 medicamentos inovadores desenvolvidos pela empresa, dentre eles quatro novos para o mundo e 29 exclusivos no mercado brasileiro.
O primeiro medicamento sintético 100% nacional foi fabricado pelo Laboratório Cristália. O Eleva atua na disfunção erétil, e aguarda apenas autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para ser lançado no mercado.
Nanox(SP): Pequena empresa -Secador de cabelos ajuda a combater fungos e bactérias. As mulheres podem comemorar. Uma das inovações produzidas pela Nanox protege os cabelos, diminuindo chances de caspa e seborréia. O Taiff Titanium é o primeiro secador desenvolvido com o uso de nanotecnologia. O Nanox Clean é um revestimento bactericida, imperceptível a olho nu que, aplicado no secador, reduz a quantidade de bactérias e fungos, proporcionando um jato de ar mais puro. A tecnologia proporciona uma secagem mais eficiente e cabelos mais limpos.
A nanotecnologia é a ferramenta utilizada pela Nanox no desenvolvimento de seus produtos, como também é o diferencial das inovações geradas pela empresa paulistana, que investiu cerca de 90% do faturamento em P&D no ano passado.
Área promissora, que ainda dá seus primeiros passos, através da nanotecnologia cientistas são capazes de manipular, criar e avaliar materiais um bilionésimo de vezes menor que o metro. Nessa dimensão, eles possuem comportamentos especiais que elevam a eficiência de suas propriedades. Para se ter uma idéia, um fio de cabelo tem o diâmetro de 100 mil nanômetros.
A Nanox desenvolve soluções através da síntese de óxidos e metais nanoestruturados. A nanotecnologia permite que superfícies de diversos tipos de materiais sejam beneficiadas pelos revestimentos desenvolvidos pela empresa, visando a melhoria de suas propriedades.
O Nanox Barrier protege superfícies contra processos de corrosão e abrasão, especialmente em altas temperaturas. É muito utilizado como revestimento em fornos petroquímicos, que refinam o petróleo a temperaturas acima de 500ºC. O revestimento de nanopartículas, por ser extremamente fino, protege o forno contra a corrosão sem impedir o aquecimento. Um revestimento espesso dificulta a passagem de calor para dentro do forno, aumentando a intensidade do lado de fora, com a conseqüente corrosão do material.
Produzido para competir com os produtos importados, o Nanox Hidrocell é um equipamento que possibilita sínteses especiais de nanopartículas com formas complexas. Destinado a institutos de pesquisa e laboratórios de P&D de empresas e universidades, foi lançado no ano passado e, a partir deste ano, vem sendo comercializado em todo o País.
Incaper (ES): ICT-Abacaxi resistente a fungo gera economia de R$ 1,2 milhão. Fruto de dez anos de pesquisas, o abacaxi Vitória permitiu uma economia anual de aproximadamente R$ 1,2 milhão para os produtores capixabas, e dobrou a produtividade da fruta no estado, de 21 para 42 toneladas por hectare. Isso porque, através de técnicas de melhoramento genético, o Vitória apresentou resistência à fusariose, doença causada por fungos que apodrece os frutos e provoca perdas de até 40% da produção.
Seu fruto apresenta polpa branca e um elevado teor de açúcares, o que lhe confere sabor e doçura inconfundíveis. Além disso, pesa quase dois quilos, não possui espinhos nas folhas e a coroa é pequena, o que facilita o manuseio. Sua casca dura suporta o transporte, evitando o amassamento. É utilizado largamente na agroindústria: o talo fino evita perdas de matéria-prima.
Este é apenas um dos 130 projetos de pesquisa atualmente em andamento no Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER). Principal órgão para promoção do desenvolvimento rural sustentável do Espírito Santo, o Instituto presta assistência técnica a 40 mil agricultores por ano, promovendo mais de 280 cursos direcionados aos pequenos produtores.
O melhoramento genético resultante do agrupamento de 13 clones, e a implantação de novas tecnologias de processo, como espaçamento das mudas, poda e adubação, resultaram em um aumento de 150% da produtividade média do café Conilon – responsável pelo sabor e aroma da bebida – nos últimos 10 anos, passando de nove para 24 sacas de café – aproximadamente 60 quilos – por hectare. O município de Jaguaré é o maior produtor de café Conilon do País, com uma produção anual de 600 mil sacas, nos 20 mil hectares de plantação.
Outros exemplos de pesquisa desenvolvida pelo Incaper são os híbridos Vitória e Japira, resultado de mais de 20 anos de pesquisas com o cruzamento da banana prata com outros tipos. As frutas, originárias do sudeste da Ásia, são suscetíveis a três tipos de doenças causadas por fungos. A sigatoka, em seus dois tipos, amarela e negra, queimam as folhas da bananeira. O Mal do Panamá destrói a fruta. Os cruzamentos Vitória – batizado a partir do sucesso das pesquisas sobre as doenças, nome alusivo ainda à capital do estado – e o Japira – que quer dizer “sabor de mel”, em homenagem aos índios – são resistentes às três doenças. Mais de 60 mil mudas já foram distribuídas a pequenos produtores do Espírito Santo desde 2005. No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, as frutas já competem com as bananas do tipo Extra, de maior qualidade.
Embrapa gado de leite (MG): Inovação social – Kit de ordenha evita contaminação por bactérias. Diminuir a contaminação microbiana, melhorando a qualidade do leite e a oferta de produtos mais seguros para o consumo humano é o objetivo do projeto desenvolvido pelo Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite da Embrapa. O instituto lançou, em julho deste ano, o Kit Embrapa de Ordenha Manual, que ensina, aos pequenos produtores, medidas simples e de fácil compreensão. Como resultado, os clientes chegam a pagar até 10% a mais que o valor médio do litro do leite, pela aquisição de produtos de melhor qualidade.
O treinamento realizado pela Embrapa para utilização do Kit serve para conscientizar e sensibilizar os pequenos produtores para a obtenção do leite com baixas contagens bacterianas. Eles aprendem medidas de higiene para ordenha e manipulação do material, como: substituição de panos por toalhas de papel para secar as mãos, utilização de banquinhos com apenas um pé, que presos na cintura, evitam o contato dos bancos tradicionais com as mãos, utilização de água clorada para higiene, indicação de locais e uso de utensílios adequados.
Os alunos recebem, ainda, uma cartilha ilustrada, que tem o objetivo de padronizar os procedimentos de utilização do Kit em diferentes regiões do País. Ele pode ser montado com apenas R$ 150,00 e prevê a incorporação de conhecimentos locais, desde que não interfira no seu desempenho. Em Sergipe, por exemplo, os produtores substituíram a corda para contenção das vacas no momento da ordenha, pela corrente.
A contagem bacteriana total é um parâmetro mundial de qualidade higiênico-sanitária do leite, que garante a efetividade das transações locais, regionais e internacionais. A Instrução Normativa 51, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em vigor desde setembro de 2002, estabeleceu o limite de um milhão de UFC/ml (unidades formadoras de colônias por mililitro) de bactérias para o leite cru – ordenhado, mas não industrializado. Nos países desenvolvidos, o limite adotado é de 100 mil UFC/ml.
Segundo dados do Mapa, o Brasil produziu em 2005, cerca de 25 bilhões de litros de leite, dos quais 19% – 4 bilhões – originados de pequenos produtores. Lançado em julho deste ano, o treinamento já foi realizado em 89 pequenas propriedades de Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.