A necessidade de criação de uma linha de crédito emergencial para financiar o capital de giro das pequenas e médias torrefações de café será um dos assuntos prioritários da reunião do Conselho Deliberativo da Política Cafeeira (CDPC), que será realizada ainda neste mês. A proposta foi apresentada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), durante encontro realizado hoje à tarde entre representantes do setor privado e do governo para definir a pauta que será analisada pelo conselho, em sua primeira reunião desde abril de 2009.
O diretor Abic, Nathan Herszkowicz, afirmou que a reivindicação foi bem recebida pelos produtores, que reconhecem a importância da sobrevivência das centenas de torrefações brasileiras qu e estão descapitalizadas, por causa do aumento da cotação da matéria-prima e da dificuldade em repassar a alta de custos para os preços praticados no varejo. Ele explicou que a concentração do varejo limita o número de marcas nos supermercados e ameaça as pequenas empresas. “As centenas de torrefações são importantes para pulverizar a distribuição do café torrado e moído e também na formação de preços para os produtores”.
O diretor do Departamento de Café do Ministério da Agricultura, Edilson Alcântara, afirmou que a criação de crédito emergencial para as torrefações será analisada pelo governo, de acordo com a demanda do setor e a disponibilidade de recursos do Funcafé. Alcântara destacou que existe um clima favorável à retomada do diálogo entre os diversos segmentos da cafeicultura que estiveram presentes no encontro de hoje, o que favoreceu as discussões, apesar dos temas polêmicos que foram abordados.
Em 2009, a discordância em relação aos leilões de opções de venda realizados pelo governo para sustentação de preços ao produtor provocou um racha no setor. Um dos pontos polêmicos que será discutido na primeira reunião do CDPC é a reivindicação da Associação Brasi leira da Indústria de Café Solúvel (Abics) de liberação das importações de matéria-prima pelo regime drawback, que sempre encontrou resistência por parte dos produtores.
Breno Pereira de Mesquita, presidente da Comissão Nacional de Café da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), diz que o assunto deve ser analisado com cuidado, “pois, além do risco sanitário, pode haver pressão sobre os preços internos”. Breno Mesquita afirmou que os representantes da produção consideram importante definir as medidas para novo plano de safra, como financiamento da cafeicultura e a revisão do preço mínimo de referência estabelecido pelo governo, que hoje é de R$ 261,69/saca. Ele explicou que a intenção é utilizar como parâmetros os estudos feitos pela CNA e pela Universi dade Federal de Lavras (Ufla) sobre os custos de produção de café.
Em relação à liberação dos estoques do café comprado pelo governo por meio do leilão de opções, que somam 1,4 milhão de sacas, o diretor Edilson Alcântara afirmou que o assunto será discutido pelo CDPC, mas a tendência é de realização de leilões semanais de 50 mil sacas. Os preços levaram em conta os valores praticados no mercado e sofreram deságio de acordo com o ano da colheita. Na opinião de Alcântara, os leilões de estoques não irão pressionar os preços, pois o volume que será comercializado mensalmente corresponde a 0,1% do consumo mensal da indústria.