FENICAFÉ: AQUECIMENTO GLOBAL PODE DESLOCAR ÁREAS DE PRODUÇÃO NO BRASIL

Por: Por Lessandro Carvalho, de Araguari/MG

SAFRAS (30) – Os produtores de café que participam da Fenicafé 2006, que
está sendo realizada em Araguari, Minas Gerais, ouviram com apreensão a palestra
do professor Antônio Roberto Pereira, doutor da Esalq/USP, do Departamento de
Física e Meteorologia. Ele falou sobre as conseqüências do aquecimento global
sobre a cafeicultura na palestra “As mudanças no clima influenciam na
produção”. O especialista em agrometeorologia explicou que o aumento da
temperatura média no mundo causado pelo efeito estufa pode causar severos
deslocamentos nas áreas aptas à cafeicultura brasileira.


A urbanização, queimadas, emissões atmosféricas industriais, queima de
combustível, entre outros poluentes, aumentam a liberação de gás carbônico, o
que promove uma gradual elevação das temperaturas no mundo com os efeitos na
camada de ozônio, como demonstrou Antônio Pereira.


O problema são as exigências climáticas do cafeeiro em relação às
temperaturas e à umidade. Quanto ao arábica, é preciso uma temperatura média
entre 18 e 22 graus. Se o aquecimento global continuar, vai promover elevações
de temperatura de 2 a 3 graus, ou mais severas, nas próximas décadas, muitas
regiões cafeeiras do Brasil estarão inaptas à produção.


O professor exemplificou que se a temperatura média subir 3 graus
continuamente até o final do século a cafeicultura poderá acabar em São Paulo.
Com mais dois graus de média, é o cerrado mineiro que pode ficar sem condições
de produzir. E esses são apenas exemplos do que pode ocorrer se o mundo não
passar a controlar as emissões de gás carbônico, especialmente respeitando as
regras do protocolo de Kyoto.


Outra questão é a relativa aos efeitos sobre a umidade, como abordou o
especialista. Temperaturas mais elevadas causam maior evapotranspiração,
elevando o déficit hídrico dos cafezais. Assim, os produtores que utilizam a
irrigação teriam de mudar o manejo, irrigando bem mais as suas lavouras em
períodos críticos, bem como áreas que hoje são aptas a produzirem sem irrigação
teriam de ser irrigadas.


“Se não houver modificações genéticas significativas das exigências do
café, haverá redução significativa no período da florada e maturação e alteração
na qualidade da bebida”, apontou Antônio Pereira. Para se adaptar as mudanças
climáticas, os produtores terão de agir para alterações no microclima. Ou seja,
a região poderá sofrer com temperaturas mais elevadas, enquanto na sua lavoura o
produtor pode tentar amenizar o problema arborizando suas áreas, o que reduz a
temperatura no local. O processo de irrigação é outra saída para os déficits
hídricos que poderão ser registrados. Se nada pode ser feito no macroclima, é no
microclima que o produtor pode inserir suas ações.


O professor mostrou como regiões com maior umidade tendem a reter mais
calor com o vapor de água presente. Por isso regiões como Manaus têm
temperaturas mais elevadas que São Paulo, como exemplificou. Ao mesmo tempo em
que menos umidade pode promover um frio mais intenso.


Sob o olhar atento e preocupado dos produtores, o professor Antônio Pereira
mostrou que as mudanças climáticas no globo são evidentes. Os Estados Unidos
comprovam cientificamente que os furacões e tornados são cada vez mais
freqüentes. E mais recentemente o Brasil começou a apresentar fenômenos antes
raros, como ciclones extratropicais. O doutor apresentou fotos de diversos
tornados no Brasil desde 2005, do Rio Grande do Sul a São Paulo, comprovando que
as mudanças no clima estão ao alcance de todo o mundo. Não havendo alterações no
cenário, com atitudes para conter as emissões de gás carbônico, a continuação do
aquecimento global e suas conseqüências serão inevitáveis.

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