Criado em abril de 2006 com o objetivo central de reduzir gastos com a aquisição de defensivos, o Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro (CCAB) acelerou a diversificação de suas operações e, agora, começa a se nacionalizar e a abraçar culturas agrícolas que não faziam parte de seu foco inicial. Davilym Dourado/Valor
Teixeira, diretor financeiro e de planejamento estratégico da CCAB Holding: além dos ganhos de escala para a compra de insumos, novos projetos engatilhados
Às quase 20 cooperativas espalhadas pelo cerrado brasileiro que fundaram o grupo, uniram-se, nas últimas semanas, a mineira Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé) e a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina (Fecoagro), que reúne 11 cooperativas catarinenses.
Cada um dos novos sócios adquiriu, por valor não revelado, 1% de participação na CCAB Holding, que sob seu guarda-chuva já abriga a CCAB Agro (que administra os negócios com defensivos) e outras divisões que, em breve, ganharão “irmãs”. Nas próximas semanas, a Cooperfarms, que acaba de ser criada por agricultores do oeste da Bahia, também vai se juntar ao grupo, segundo Jorge Moura, diretor-executivo da CCAB Agro.
“A adesão ao CCAB atende ao nosso interesse em reunir esforços para ganhar escala e reduzir os custos de insumos”, afirma Ivan Ramos, diretor-executivo da Fecoagro. As cooperativas associadas à federação, que em conjunto faturam R$ 2,5 bilhões por ano, reúnem cerca de 50 mil cooperados.
Na área agrícola (grande parte dos cooperados também trabalha com carnes, mas neste caso associados à Coopercentral Aurora), plantam sobretudo milho, soja e feijão. Segundo Ramos, esses produtores apresentam demanda total de 4 milhões de litros de herbicidas e 300 mil toneladas de fertilizantes por ano.
Já a Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo e faturamento de R$ 1,3 bilhão em 2007, conta com 206 mil hectares de café e 100 mil hectares de grãos nas mãos de seus cooperados e tem demanda por insumos estimada em R$ 360 milhões em 2008.
“Além de ser uma oportunidade para ganharmos escala em operações com insumos, logísticas e mesmo financeiras, teremos mais contato com outras culturas e essa diversificação é muito interessante. É um estilo de plataforma [a do CCAB] que produz sinergias e reduz desperdícios”, diz Antonio Augusto Ribeiro de Magalhães Filho, superintendente de desenvolvimento do cooperado da Cooxupé.
“A Cooxupé agrega ao CCAB tradição, influência e credibilidade, como a Fecoagro, e a oportunidade de entrarmos no mercado de café”, afirma Moura. “O negócio deixou de ser regional e passou a ser nacional”, diz ele.
Os 15 mil agricultores ligados às cooperativas fundadoras do CCAB produzem pelo menos 16 milhões de toneladas de soja, milho e algodão, sobretudo, em uma área total da ordem de 6 milhões de hectares. Tinham uma demanda conjunta por defensivos, em 2006, equivalente a US$ 700 milhões por safra, valor que, impulsionado por alta de preços nesses dois últimos anos, cresceu para US$ 1,2 bilhão.
Conforme José Luís Teixeira, ex-executivo da Aventis e hoje diretor financeiro e de planejamento estratégico da CCAB Holding, a partir da obtenção do registro de seu primeiro produto químico (glifosato, base para herbicidas), em 2007, e da posterior parceria firmada com a Milênia Agrociências, o faturamento da CCAB Agro confirmou as expectativas e atingiu US$ 100 milhões na safra 2007/08, encerrada em junho (o balanço foi auditado pela KPMG).
Nos próximos 24 meses, acredita Teixeira, o grupo deverá obter mais 32 registros de princípios ativos para a produção de agroquímicos. A maior parte dessa produção fica no Brasil a cargo da Milênia, que concordou em reduzir custos para atender ao objetivo do consórcio.
Com novos produtos no portfólio, estima Teixeira, o faturamento da CCAB Agro deverá alcançar US$ 220 milhões nesta safra 2008/09, e a meta é atingir US$ 700 milhões até 2011. O lucro líquido da divisão, que em 2007/08 correspondeu a 8% do faturamento, deverá corresponder, na temporada atual, a 9%. A meta do grupo, que reinveste os ganhos ou os distribui às cooperativas participantes, é atingir um percentual 25% em 2011.
Além da CCAB Agro, outras divisões já operam ou estão sendo criadas, sempre por meio de associação. A própria CCAB tem 90% do controle com a CCAB Holding, com os demais 10% nas mãos de um parceiro local.
A CCAB Projetos, criada para estruturar operações financeiras e custear desde a compra de insumos até a colheita dos cooperados interessados, é dividida entre a holding (51%) e outros financiadores (49%), inclusive pessoas físicas. Já a CCAB Central de Compras, que passa por ajustes que poderão torná-la uma divisão de máquinas e equipamentos, é dividida entre a holding (60%) e investidores, estes mantidos em sigilo (40%).
José Luís Teixeira informa que, até o fim deste mês de setembro, será estabelecida uma joint venture na área de logística com uma grande empresa do setor, e que memorandos de entendimentos nas áreas de trading e fertilizantes já foram assinados.