Empreendimento especializado na produção de café surpreende pelas boas práticas adotadas para beneficiar o meio ambiente e toda a comunidade ao redor.
Uma das práticas adotadas na fazenda é a coleta seletiva, realizada em toda a propriedade.
Será que uma propriedade agrícola dedicada ao cultivo de café é capaz de ser lucrativa mesmo investindo recursos para preservação do meio ambiente e bem-estar e desenvolvimento profissional de seus colaboradores? Essa era uma das dúvidas de Arthur Castilho, que, desde cedo, pensava em uma “aposentadoria verde”. Ele estava em busca de outros conhecimentos e desafios quando parasse de trabalhar, desde que encontrasse um negócio prazeroso, rentável e alinhado com os seus princípios. Foi assim que resolveu adquirir uma propriedade rural em Boa Esperança (MG).
A fazenda existe há pouco mais de 20 anos e se destaca pelas diversas práticas sustentáveis. “Morei em diversas regiões brasileiras e tive contato com a natureza. Queria que o meu negócio seguisse os meus princípios de vida, que sempre estiveram alinhados com a preservação do meio ambiente”, conta.
Ao longo de sua trajetória profissional, ele aprendeu que respeitar a natureza é fundamental, mas que também é preciso valorizar as pessoas. Além de seguir todas as práticas que envolvem a produção de café, Arthur promove uma série de treinamentos para seus funcionários e colaboradores terceirizados que eventualmente trabalham na fazenda.
“Essa capacitação é importante para que a minha equipe aprenda a operar corretamente os equipamentos, a armazenar e a manusear insumos (como defensivos agrícolas, fertilizantes etc.), a executar de forma correta e segura os tratos culturais e todas as fases da colheita, processo de beneficiamento, estocagem de grãos e, claro, a cuidar do meio ambiente. É um recurso que agrega valor e deixa as pessoas mais preparadas para o futuro”, comenta.
Dedicação e cuidado
A fazenda tem locais apropriados e certificados para a prática da sustentabilidade, como a guarda temporária de vasilhames vazios de produtos agrícolas para correto descarte, reciclagem da água e de todos os resíduos do beneficiamento do café, descarte correto de óleos e graxas da lavagem e manutenção dos equipamentos, manutenção preventiva dos equipamentos, instalação de biodigestores de tratamento de dejetos da propriedade para evitar a contaminação do lençol freático e filtragem e tratamento de água para consumo e beneficiamento do café.
Ter instalações que atendam as normas de proteção do meio ambiente envolve investimentos em áreas e processos adequados, mas os próprios órgãos responsáveis por essas especificações disponibilizam instruções, manuais e consultorias. “Procurei me inteirar muito sobre o assunto, pedi ajuda sempre que tive dúvidas e fiz todas as adequações gradualmente, assim pude me dedicar a todos os cuidados”, explica Arthur.
Todas as etapas da produção de café são rastreadas. Desse modo, é possível garantir que os conceitos sustentáveis são seguidos, tornando a fazenda ainda mais confiável. Os cursos de capacitação são oferecidos gratuitamente pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e acontecem na própria fazenda ou em outras localidades e não envolvem apenas os funcionários e os colaboradores terceirizados, mas até mesmo profissionais de outras fazendas.
Normalmente, costumam reunir de 10 a 12 pessoas por treinamento.
Entre os temas abordados, estão pulverização da lavoura, operação de tratores, implementos agrícolas, prática de irrigação, manuseio do café nos terreiros e manutenção de máquinas e equipamentos. Além disso, são realizados treinamentos sobre segurança e primeiros socorros. “Procuramos abordar assuntos que são essenciais para o trabalho e a segurança dos colaboradores, além de temas importantes que os deixam preparados e capacitados”, observa Arthur.
Outro destaque presente no dia a dia da fazenda é a reciclagem. No processo de manutenção e lavagem dos tratores, óleos e graxas são reciclados e enviados para fornecedores. A água desses processos também é reciclada.
Os invólucros de produtos agrícolas são perfurados, lavados três vezes (tríplice lavagem) e armazenados temporariamente em locais próprios. Depois, são encaminhados para descarte em entidades credenciadas para receber o material. Esse cuidado é fundamental, já que os recipientes muitas vezes entram em contato com substâncias que podem prejudicar a saúde e o meio ambiente.
As roupas e os equipamentos de proteção individual (EPIs) dos colaboradores, por exemplo, são lavados depois do uso e descartado após a vida útil especificada. Eles devem tomar banho nos vestiários ao término do trabalho para retirar todos os resíduos da operação. “É uma satisfação muito grande poder cuidar dessas pessoas e contribuir para a qualidade de vida delas. Sem dúvida, é um trabalho gratificante”, comenta.
Também é realizada a coleta seletiva de lixo pelos próprios colaboradores que moram na fazenda.
Estrutura
A relação próxima e humana com as pessoas também veio dos anos de experiência profissional de Arthur. Para se ter uma ideia, a fazenda conta com três refeitórios estrategicamente localizados, banheiros fixos e móveis, armários adequados para guarda de marmita e local para aquecê-las.
A água para consumo e para as etapas de beneficiamento do café passa por uma estação de tratamento para que fique potável e seja certificada em laboratório. Todos os colaboradores contam com garrafas térmicas, assim, podem beber água gelada e fresca a qualquer momento – um cuidado que, sem dúvida, faz toda a diferença.
A equipe – interna e terceirizada – é treinada sobre a importância do uso dos EPIs, como luva, óculos, chapéus, botas e protetor de ouvidos. Esses materiais são fornecidos pela fazenda, que tem áreas de trabalho sinalizadas indicando a obrigatoriedade do uso.
Arthur sabe do seu compromisso com o meio ambiente e a sociedade, por isso, planta a cada ano em torno de 50 árvores nativas (em 2015, plantou 1 mil mudas). “Recentemente, fomos certificados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (EMATER-MG). São reconhecimentos que nos enchem de orgulho e nos motivam a fazer mais pela sustentabilidade”, conclui.
Após todos esses anos, Arthur conseguiu a resposta para a dúvida que tinha desde cedo. É possível, sim, ter uma fazenda rentável de médio porte com processos e práticas adequadas ao meio ambiente. Para isso, é preciso foco na gestão de custos e reinvestimento de parte dos lucros em equipamentos, treinamentos e processos que garantam a alta produtividade e a qualidade do produto final.
*Arthur Castilho trabalhou por muitos anos na Sotreq, é atualmente acionista da empresa e acredita que os bons resultados que vem obtendo na fazenda se devem aos anos de trabalho e aprendizado em sua carreira.
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