Publicação: 30/05/07
Entre janeiro e abril, participação desses produtos chegou a 30,2%
Jacqueline Farid, RIO
A elevação dos preços das commodities no mercado internacional fará com que em 2007, pela primeira vez em 20 anos, os produtos básicos tenham participação acima de 30% na pauta de exportações do País. No primeiro quadrimestre deste ano, esses produtos tiveram uma fatia de 30,2% das vendas externas, o que não ocorria desde 1987.
O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que, nos últimos 20 anos, os básicos mantiveram a média de 26% das exportações em valor. Segundo ele, o bom desempenho do segmento é uma tendência para este ano e deve-se a dois fatores: os bons preços das commodities agrícolas e o “demérito” dos manufaturados, prejudicados pela valorização do real. Os bons preços já estavam elevando a participação do segmento gradativamente. Em 2002, o porcentual chegou a 28%.
As commodities (incluindo produtos básicos, semimanufaturados e commodities industrializadas) deverão elevar a participação das exportações em 2007, em valor, para um porcentual acima dos 65% apurados no ano passado, de acordo com os números da AEB.
Além disso, a fatia no volume exportado poderá chegar a 93%, ante 90% do total das exportações em 2006. Para Augusto de Castro, o aumento da fatia dos básicos e das commodities não é uma boa notícia para o comércio exterior brasileiro.
“Quando se exporta commodities, não há controle, porque quem define (o desempenho) é o mundo, enquanto no caso dos manufaturados, quem define os preços é o exportador, com o esforço comercial”, explica.
Ele afirma que, além da queda na cotação do dólar, o sistema tributário impede o aumento das exportações de manufaturados, pois favorece a venda de produtos básicos. Segundo o vice-presidente da AEB, no caso das commodities, “felizmente” a cotação alta dos produtos compensa a defasagem cambial.
O preço da soja em grão, por exemplo, subiu 38,8% em 12 meses até maio deste ano. Castro cita exemplos, com dados relativos ao primeiro trimestre de 2007 (na comparação com igual período do ano passado) de commodities que registraram aumentos de preços. Entre eles, destacam-se carne bovina (8,32%), café em grão (12,26%) e farelo de soja (8,77%), no caso dos básicos. Em semimanufaturados, cita o açúcar em bruto (12,32%), celulose (30,11%) e alumínio (23,66%).
‘PODIA SER MELHOR’
O superintendente técnico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Ricardo Cotta, afirma que a agricultura deverá ser responsável por cerca de 90% do saldo comercial do País em 2007 – como ocorreu no ano passado -, mas o bom desempenho internacional do setor não resultará em maior rentabilidade para os produtores.
Ele destacou que o cenário internacional é muito favorável para o setor agrícola, com o aumento da demanda na China e a redução de oferta de soja e milho nos Estados Unidos, por causa da produção de biocombustíveis. “Na balança comercial brasileira do agronegócio, todos os produtos tiveram aumento nos preços médios de exportação neste ano”, disse.
Mas, segundo ele, a valorização do real e os problemas de infra-estrutura impedem que esse aumento dos preços externos chegue ao bolso do produtor.
“Poderíamos estar aproveitando muito melhor esse cenário internacional com um câmbio mais equilibrado e maior eficiência de logística”, garante o superintendente da CNA.