Em Guaxupé (MG), uma família mantém a tradição de produção de café há mais de 120 anos.
Considerado a força motriz da economia do Sul de Minas, o café é um dos maiores responsáveis pela geração de empregos e renda na região, sendo ainda, capaz de produzir histórias fascinantes capazes de atravessar gerações e enriquecer uma cultura centenária. Em Guaxupé (MG), uma família mantém a tradição de produção de café há mais de 120 anos.
Quando o casal luso-brasileiro José Augusto Ribeiro do Valle, também conhecido por “Juca Vieira” e Amélia Carmelitana, decidiram, nos idos de 1896, trocar Santa Rita do Passa Quatro, no interior paulista, pela montanhosa Guaxupé, no Sul de Minas, vislumbravam plantar aquele que se tornava o principal produto da economia na época, o café.
“A viagem foi em carro de boi e demorou dias”, relata a bisneta Ceres Rezende de Magalhães Almeida de 52 anos, moradora e gestora da Fazenda Santo Antônio das Pitangueiras, uma das muitas fazendas que compunham a antiga Fazenda Passa Quatro. O nome Ceres, que faz referência à Deusa da Agricultura, também foi herdado da tradição cafeeira. Segundo ela, a saga da família Magalhães nos cafezais da região, só foi possível porque os bisavós tiveram quatorze filhos, dentre eles os avós da gestora, Alfredo Januário Magalhães e Carmelita Magalhães.
Naquela época, os filhos ainda não tinham o hábito de sair para estudar fora e, em sua grande maioria, trabalhavam ajudando os pais nas lavouras e afazeres da fazenda. Dos sete filhos do casal, o pai de Ceres, Antônio Augusto Ribeiro de Magalhães e sua mãe Ivone Rezende de Magalhães, mantiveram a tradição familiar, tirando das plantações de café o sustento para criar seus três filhos, Antônio Augusto, Marcos e Ceres, que por sinal, foi batizada com o mesmo nome da Deusa da Agricultura.
“Seu Duti” como era carinhosamente chamado, tinha verdadeira adoração pela cultura cafeeira. Na sede nova que construiu na fazenda, fez questão de colocar, na entrada, uma porta trabalhada em texturas com motivos e histórias que celebrassem o café. Nela, podem-se ver grãos, folhas, frutos, um escravo carregando café colhido e uma corrente quebrada simbolizando o fim da escravidão.
Ceres brinca nos cafezais da família no tempo de adolescência, em Guaxupé (Foto: Arquivo Pessoal / Ceres Rezende de Magalhães Almeida)
Ceres relembra com saudosismo do pai que fazia questão de levar, nas férias de julho, ela, irmãos e primos para passar o mês na fazenda e brincarem no local predileto: o cafezal de 130 hectares.
“Nem íamos almoçar! Me lembro de minha mãe trazendo a comida naquelas cumbucas de alumínio com alça, comíamos ali mesmo, mais tarde íamos ao terreirão procurar “felipes” (frutos do café que nascem grudados uns aos outros), para ganhar um presente em troca”, diz a gestora.
Apesar de ter cursado Ciências Contábeis, o café foi definitivo mais uma vez na vida de Ceres ao conhecer o marido, Miguel de Almeida, também bisneto, neto e filho de produtores de café. Da união do casal nasceu aquela que originou a quinta geração do mundo cafeeiro, a filha Ana Amélia de Magalhães Almeida, de 28 anos. Ana não destoou da corrente familiar, formou-se em agronomia e se prepara para, daqui a uns anos, ocupar o lugar dos pais, assumindo aquilo que foi sendo conquistado através de gerações e deixou de ser apenas um negócio, tornando-se uma paixão.
“É preciso respeitar e cuidar com muito zelo daquilo que nossos antepassados nos legaram”, diz Ceres.