Aumento dos empregos nas áreas urbanas e baixos salários contribuem
Marcus Madeira
Especial para O Tempo
Varginha. Dos 43 anos de vida, Cleuza Silva Carvalho passou 24 na roça e, mesmo morando atualmente na cidade, todo ano volta para a lavoura, durante cinco meses. Cleuza colhe de oito a dez medidas de café por dia, cada uma com 60 litros de grãos. Cleuza é uma personagem rara na região, pois os produtores têm reclamado da falta de trabalhadores que tenham produtividade. Mesmo os mais jovens, de acordo com os produtores, dificilmente colhem mais de sete medidas por dia.
O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Varginha, José Carlos D’Alessandro, concorda. “A figura do apanhador de café vai acabar. É a coisa mais difícil encontrar alguém que saiba colher café. De dez pessoas, apenas quatro ou cinco sabem. O resto é porque não tem outra opção profissional”.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais rebate a reclamação dos produtores. Para a funcionária Sandra Salto, se isso ocorre, “deve ser por causa da falta de incentivos e a desvalorização do profissional. Os produtores fazem muitos descontos na folha de pagamento e isso tira o ânimo dos trabalhadores rurais”, diz.
O engenheiro agrônomo André Alvarenga Garcia, da Fundação Procafé, diz que a situação ocorre com cerca de 80% dos produtores rurais. “Eu atendo diariamente dezenas de cafeicultores. A reclamação é geral. Esse ano a situação está drástica”, afirma. André acredita que a migração para a cidade, em busca de empregos melhores, seja um dos motivos. “Além disso, as leis trabalhistas tiram a liberdade para negociar com o empregado”, disse.
O produtor rural André Mesquita, de Três Pontas, diz que muitos empregados preferem trabalhar sem carteira de trabalho. “Assim eles mudam de fazenda em fazenda, atrás das melhores lavouras”. Garcia completa: “Hoje é muito difícil um trabalhador rural tirar R$ 800 por mês. Eles chegam tarde, esperam a água do orvalho secar para começar a ‘panha’, saem às 16h. Só aumentam o rendimento quando o patrão dá o preço”. Ou seja, pagar mais.