31/07/2013, FAEMG
Os prejuízos já assustam os cafeicultores mineiros, responsáveis por cerca de 50% da produção nacional. Para o diretor da FAEMG e presidente da Comissão Estadual do Café de Minas Gerais, Breno Mesquita, a falta de ação do governo foi preponderante para esse atual cenário. Ele também avalia quais medidas devem ser tomadas no intuito de salvar o produtor e descarta qualquer comparação dessa crise do café, com a de 1929.
Qual fator o senhor acredita ter sido preponderante para essa atual crise do café?
Acredito que o fator primordial é que em 2012 a produção brasileira foi de ciclo alto, e como vínhamos de quase dois anos com preços remuneradores, o produtor investiu mais na atividade, e a safra deste ano, que é de ciclo baixo, não foi tão menor como em anos anteriores. Desde setembro do ano passado, discutimos com o governo essa preocupação. Como há essa bianuidade, ou seja, ano com safra alta, ano com safra baixa, e a deste ano seria menos acentuada, nós precisaríamos buscar mecanismos, que já existem, para que o café não chegasse ao ponto que chegou. Nós sabíamos que o mercado reage assim, que é extremamente especulativo. Estão especulando uma safra brasileira, tida como boa, como se ela fosse extraordinária. É normal esse movimento, o que nós queríamos e chamamos o governo para isso, era que no momento que iniciássemos essa colheita, nós já tivéssemos disponibilizado instrumentos para que os efeitos dessa especulação fossem neutralizados. Até agora, nada aconteceu, não saíram os recursos para o setor. Era uma coisa previsível, mas infelizmente as demandas não foram atendidas no tempo necessário.
Essa inércia do governo para atender as demandas dos cafeicultores, pode ocasionar uma debandada do setor para outras áreas agrícolas?
O café é uma cultura perene. Diferente do milho, do trigo, que se não der o resultado bom em um ano, você deixa de plantar. O café quando você planta, é difícil arrancá-lo, além de ser muito caro e antieconômico. Então não dá simplesmente para você largar, é uma morte lenta. Isso é o que nós queremos evitar. Infelizmente, se o produtor deixar de fazer o que deve na lavoura, a produtividade despenca. Se hoje amargamos um prejuízo de mais de R$ 100 por saca, sem os tratos culturais isso vai aumentar ainda mais. É uma situação muito complicada. Temos que fazer rapidamente as ações necessárias para evitar isso, ainda faltam 75% do café para ser colhido, se conseguirmos reverter essa situação em um curtíssimo espaço de tempo, salvaremos muitos cafeicultores.
Mas o senhor crê na boa vontade do governo para isso?
Olha a primeira questão é a seguinte: a cafeicultura é importante ou não para o Brasil? Não só para o cafeicultor, mas como um todo, ela é uma grande fonte geradora de emprego e recursos para alguns municípios. Se o café vai mal, o município também. Então o problema não é só do cafeicultor, é municipal. Tudo leva a crer que ainda é um setor extremamente importante e vital. Sendo assim, temos que cobrar para que as coisas que já deveriam ter acontecido, aconteçam. Temos conversado praticamente todos os dias com ministérios que são responsáveis pelo setor (Agricultura e Fazenda) e o que percebemos é que eles estão trabalhando para uma solução. Não posso garantir que vão resolver amanhã ou depois, mas não está faltando pressão por parte dos setores de produção na confecção de um programa que ajude o produtor.
Essa situação já tem afetado as exportações?
Hoje as exportações estão fluindo. Não como no ano passado que teve um ciclo alto. Quando o preço está competitivo, o produtor solta, comercializa, mas quando ele está mais baixo, segura. O que está faltando é recurso para o produtor segurar e esperar o melhor momento.
Quando se fala em crise do café no Brasil, historicamente nos remetemos a grande crise de 1929, no chamado “crack da bolsa de Nova Iorque”. O senhor vê semelhanças entre as situações?
Não, são situações completamente distintas. Hoje, nós temos um problema nos EUA, na comunidade europeia, mas em contrapartida, abrimos frente no Leste Europeu, que cresce bastante, nos países emergentes também. Ou seja, o café tem crescido a taxas histórias de 1 a 1,5% ao ano. O consumo não caiu no mundo. O maior problema é a especulação, falta política do setor para evitar os malefícios disso. Acreditamos que se o governo fizer os programas, temos a certeza que viveremos dias melhores. É preciso rapidez, pois a colheita não espera.