Fabrica de máquinas de café do interior da Suíça gastar mais de um milhão de dólares para ter o privilégio de ver a Seleção Brasileira

Um milhão do próprio bolso   swissinfo   8 de Maio de 2006 8:47      Dominic Steiner se orgulha da qualidade das suas máquinas de café. (swissinfo) Por que um suíço iria gastar mais de um milhão de dólares para ter o privilégio de ver a Seleção Brasileira treinando na frente da sua empresa?   […]

8 de maio de 2006 | Sem comentários Cafeteria Consumo
Por: swissinfo, Alexander Thoele






























Um milhão do próprio bolso

 






swissinfo  

8 de Maio de 2006 8:47
  

 












Dominic Steiner se orgulha da qualidade das suas máquinas de café.
Dominic Steiner se orgulha da qualidade das suas máquinas de café. (swissinfo)





Por que um suíço iria gastar mais de um milhão de dólares para ter o privilégio de ver a Seleção Brasileira treinando na frente da sua empresa?

 

Domenic Steiner, 68 anos, é o fundador da Thermoplan, líder mundial na produção de máquinas de café para restaurantes. Essa é uma oportunidade única para ele.

 
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Da janela do escritório na Thermoplan, Domenic Steiner acompanha a movimentação dos operários no canteiro de obras que se transformou o campo de futebol. Apesar do ar professoral, com cabelos brancos e 68 anos de idade, ele já não consegue mais se concentrar nos relatórios de vendas enviados pelas várias filiais espalhadas no mundo. Sua preocupação não está mais nos números, mas sim no gramado.

Se não chover ou ocorrer algo de imprevisível, o novo estádio do Clube de Futebol de Weggis estará pronto em 15 de maio. Uma semana depois, a tranqüilidade do local se transformará com a chegada da Seleção Brasileira, que irá treinar no local por duas semanas antes de ir à Alemanha.

Com eles chegam também uma centena de jornalistas e torcedores de todas as partes do mundo, que querem ver ao vivo jogadores como Cafu, Juan, Lucio, Roberto Carlos, Kaka, Emerson, Ronaldinho, Zé Roberto, Adriano ou Ronaldo.

Apesar do tempo inconstante, Steiner está seguro que tudo dará certo. Sua alegria é tanta que chegou a distribuir centenas de entradas para os treinos às crianças das escolas de Weggis e de outros pequenos vilarejos da região como Greppen e Vitznau, além dos clubes esportivos e asilos de idosos. Qual o motivo da generosidade?

– Por alegria, simplesmente. Eu quero agradecer essas outras localidades pelo fato deles terem recebido a nossa equipe de futebol durante o período de reforma do estádio – explica.





 






No início de maio os jardineiros já estavam plantando a grama no novo estádio de Weggis.
No início de maio os jardineiros já estavam plantando a grama no novo estádio de Weggis. (Keystone)

 

46 mil entradas vendidas

 

As crianças têm sorte. Quando os organizadores liberaram a venda das entradas para os 14 treinos da Seleção Brasileira Weggis, na última semana de abril, em poucos dias os 46 mil ingressos já estavam vendidos. Cada jogo terá pouco mais de cinco mil espectadores, que irão dividir o espaço com até trezentos jornalistas.

Apesar das obras, mas muitos torcedores já visitam o novo estádio e se admiram com as transformações. Para muitos é como se fosse um milagre, pois quando os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol estiveram em Weggis pela primeira vez e checaram o campo, a reação imediata foi dizer que nenhum jogador da Seleção poderia colocar os pés no local.

Na época os problemas eram graves: o campo tinha um declive de 1,8 metros (quando a FIFA não tolera mais do que 0,5%); além disso a área tinha 10 metros de comprimento e 4 metros de largura a menos do que as medidas oficiais (105 x 68 metros); e o pior eram os buracos.

A reforma do campo vai custar 1,5 milhões de francos (US$ 1,1 milhão). Pouco mais de um milhão de francos vem diretamente dos bolsos de Domenic Steiner. O resto deve sair de patrocinadores como a empresa suíça de telecomunicações Swisscom, que irá instalar os equipamentos na sala de imprensa de 700 metros quadrados.

Para o dono da Thermoplan, a conta salgada não doeu no orçamento. Pelo contrário: ele gastou com prazer parte da sua fortuna.

– Quando os brasileiros tiveram em Weggis e viram o estado deplorável do campo de futebol, eles disseram que a Seleção iria treinar num outro local. Como a comuna não tinha dinheiro para fazer as melhoras em tempo, achei que deveria colaborar.

 

Uma questão de oportunidade

 

Domenic Steiner não se considera um apaixonado por futebol, mas quando viu que as estrelas mundiais do futebol estariam jogando na frente da janela do seu escritório, viu que essa era uma oportunidade única.

– As câmeras de TV não vão mostrar apenas as estrelas da Seleção Brasileira, mas também o nosso logotipo, a marca e também o prédio da empresa.

As escavadeiras já retiraram toneladas de terra do terreno. Nos últimos dias o campo estava sendo coberto por uma grama especial encomendada na Holanda. As arquibancadas serão construídas provisoriamente, já que o estádio não precisará de tanto espaço depois da estadia da seleção brasileira em Weggis. Depois da Copa o centro de imprensa será transformado em escritório para os engenheiros da Thermoplan.

Os mastros de luz que estão sendo instalados, além de seis câmaras de televisão, servirão para melhora a visibilidade no campo onde irão treinar os atletas brasileiros. Se os olhos do mundo descobrirem Weggis, a cidade se tornará mais conhecida do que em 1919, quando nela foi aberta a primeira piscina da Suíça onde os sexos não eram separados.

 

Multinacional

 

Com 125 funcionários, a Thermoplan é o maior empregador de Weggis. Ela foi criada em 1983 por Domenic Steiner, que iniciou sua vida profissional numa área completamente diferente: como ferroviário da Companhia Suíça de Trens (SBB, na sigla em alemão). A empresa do suíço também é o maior contribuinte de Weggis, com pouco mais de 20% dos impostos recolhidos pela comuna vêm.

Hoje a Thermoplan é líder mundial na produção de máquinas de café para a gastronomia e hotelaria. Cada uma delas chega a custar entre 10 e 15 mil francos suíços (US$ 7.640 e US$ 11.460) e 97% delas são destinadas ao mercado externo. As da série “Black & White” são mais do que simples máquinas de fazer café. Fabricadas com aço inoxidável e componentes nobres, ela tem um sistema computadorizado no interior, que registra não apenas quantidade e a qualidade do café produzido, mas também problemas no funcionamento.

– É como uma caixa-preta de avião, que explica aos administradores por que a máquina pifou ou o café saiu mal feito – explica Steiner, que mostra com orgulho a complexidade do mecanismo e até detalhes insólitos como o botão vermelho com uma cruz branca, a peça mais importante da “caixa-preta”.

A empresa suíça tem 62 representantes espalhados no mundo. Seus maiores clientes são grandes cadeias internacionais de restaurantes, uma inclusive com exclusividade, a americana Starbucks, na qual instalou mais de 20 mil máquinas.

– A Starbucks é nossa cliente desde 1999. Mas também vendemos nossos produtos para a IKEA (rede sueca de venda de móveis) e também para a McDonald’s na Inglaterra – conta o empresário.





 






Na simulação em computador os jogadores brasileiros já fazem a bola rolar em Weggis.
Na simulação em computador os jogadores brasileiros já fazem a bola rolar em Weggis. (swissinfo)

 

Propaganda no Brasil

 

A prefeitura de Weggis está satisfeita com a participação de Domenic Steiner no esforço de receber a Seleção Brasileira. Como retribuição ao seu engajamento, ela permitiu que o estádio do FC Weggis seja rebatizado de “Thermoplan Arena”. Quando estiver pronto, o nome e o logotipo da empresa estarão pregados acima das arquibancadas, num tamanho fácil de ser captado pelas câmaras fotográficas e de televisão dos jornalistas.

Uma simulação computadorizada distribuída à imprensa (clique no link acima) mostra o estádio antes e depois da reforma. Ao som do “Aquarela do Brasil”, os jogadores brasileiros vão desfilando em cima do gramado e a câmara termina mostrando em close o prédio com fachada de vidro, onde está a sede da Thermoplan.

Coincidência ou não, a Starbucks vai abrir sua primeira filial em São Paulo em meados de junho. Agora Domenic Steiner espera que os brasileiros irão descobrir as máquinas de café fabricadas no interior da Suíça por uma empresa que, pelo amor à Seleção, até construiu um estádio para ela.

swissinfo, Alexander Thoele

 

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