28/07/2014 – Reconhecido pelas culturas de cacau e de eucalipto, o extremo sul da Bahia desponta também como um importante polo de produção de café robusta (ou conilon) no país. O avanço se deu principalmente nos últimos cinco anos, e nesta safra 2014/15, a colheita do produto na região deve superar, pela primeira vez, 1 milhão de sacas, segundo Roberto Cangussu, vice-presidente para o sul do Estado da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé).
Cinco anos atrás, a produção de conilon na região, conhecida como Atlântico, não passava de 400 mil sacas, de acordo com Cangussu – não há dados precisos sobre a cultura no Estado. A Assocafé estima que nos últimos quatro anos tenham sido implantados 10 mil hectares de café, o que elevou a área total no extremo sul da Bahia para 30 mil hectares.
Boa parte do “sucesso” da atividade no sul baiano é creditada à boa luminosidade, à topografia da região e ao clima favorável, com chuvas regulares. João Lopes Araújo, presidente da Assocafé, acrescenta que os preços atrativos do café conilon nos últimos três anos também incentivaram novos projetos de cultivo. A maior parte desses novos plantios é tocada por produtores capixabas que já não tinham áreas disponíveis e adequadas para a expansão da atividade no Espírito Santo, o maior produtor nacional de conilon e o segundo maior produtor de café do país.
Já Cangussu avalia que o crescimento do conilon na Bahia foi impulsionado pela grande demanda do produto por parte da indústria brasileira e também do exterior, que usa os grãos nas misturas com o café arábica, considerado mais nobre.
Apesar do avanço dos últimos anos, alguns produtores consideram que essa expansão pode perder força em função da falta de mão de obra e de mecanização e da rentabilidade menos atrativa.
No Espírito Santo, maior produtor nacional de robusta, o crescimento da oferta nos últimos anos se deu em decorrência do aumento da produtividade. A safra 2014/15 no Estado é estimada pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) em 9,35 milhões de sacas, 14% acima do período anterior – equivalente a 75,8 % da safra nacional de robusta (12,33 milhões de sacas).
Para o extremo sul da Bahia, a Conab projeta área de 24.179 hectares e produção de 769,5 mil sacas em 2014/15, com produtividade média de 31,83 sacas por hectare, ante 32,81 sacas no Espírito Santo.
Entretanto, cafeicultores e Assocafé estimam que a produtividade é muito mais alta na região: cerca de 60 sacas por hectare nas áreas não irrigadas e 80 sacas nas irrigadas. Embora as chuvas sejam bem distribuídas na região, o período de dezembro a fevereiro, quando ocorre o desenvolvimento dos grãos, pode enfrentar estiagem, como ocorreu no ano passado.
Embora seja mais produtivo em comparação com o café arábica – segundo a Conab, a produtividade média em Minas Gerais é de 23 sacas por hectare-, o custo de produção do conilon é relativamente alto, uma vez que seu manejo demanda mais mão de obra por conta de certas especificidades. É necessário, por exemplo, retirar, ao longo do ano, brotos que nascem nos diversos troncos do conilon. Além disso, a colheita não é mecanizada – os equipamentos existentes para esse fim ainda não são adequados. Outro fator é que os grãos do conilon são mais difíceis de ser retirados da planta que o arábica, explicam produtores.
Com todos esses cuidados, o custo médio da produção no sul da Bahia está em torno de R$ 200 a saca, conforme Cangussu, enquanto o produto é comercializado por entre R$ 235 e R$ 240 a saca.
Essa rentabilidade não tão atrativa é um fator de desestímulo para a expansão da produção no sul da Bahia, segundo Rodrigo Silva Ernani, classificador de café da Cafenorte, uma das maiores empresas da região. A companhia tem produção de conilon no sul da Bahia e uma exportadora no Espírito Santo para comercializar café.
Uma das pioneiras a chegar ao extremo sul da Bahia, há 30 anos, no município de Itamaraju, a Cafenorte já teve 6 milhões de pés de café na região e atualmente tem 4 milhões de pés (1.800 hectares), segundo Ernani.
Nesta safra 2014/15, devem ser colhidas nessa área 61 mil sacas, acima das cerca de 55 mil do ciclo anterior, prejudicado pela seca. Ernani estima que a área de café conilon no sul baiano não será ampliada significativamente também por falta de mão de obra.
José Alberto De Martins, produtor que mantém duas fazendas com total de 800 hectares na região, engrossa o coro dos que não acreditam mais em expansão da cultura no local. Segundo ele, muitos produtores que foram à região saíram da atividade. “Devem ficar poucos no mercado”, diz ele.
Para se manter no mercado, De Martins tem recorrido à renovação dos plantios com menor espaçamento e ao uso de variedades clonais mais tardias, o que permite colher depois de julho, quando há mão de obra disponível. Normalmente, a colheita se inicia em abril e maio. Além disso, o produtor tem investido em conilon de alta qualidade, obtido a partir de processos controlados de secagem em silos.
Apesar das dificuldades apontadas, Cangussu, da Assocafé, avalia que há ainda muitas áreas aptas para a expansão do conilon no Atlântico. Ele estima que a região tem potencial para produzir mais de 2 milhões de sacas por safra, caso os gargalos como o da mecanização sejam ultrapassados.
Fonte: Carine Ferreira, do Valor Economico