Exposição sobre imigração árabe à América do Sul chega ao Egito A mostra ‘Amrik’, que já passou por vários países, foi aberta no último domingo e vai até o dia 18, no Cairo. Depois ela segue para Amã e Damasco.
Randa Achmawi |
Visitantes na mostra ‘Amrik’, que ocorre no palácio Emir Taz, no bairro do Velho Cairo |
Randa Achmawi, especial para a ANBA
Cairo – A mostra de fotografias sobre imigração “Amrik – A presença Árabe na América do Sul”, apresentada pela primeira vez em Brasília durante a Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa) – e que já percorreu cidades como Quito, Bogotá, Nova York, Argel, Assunção e Madri -, foi inaugurada neste domingo no Cairo pelo embaixador brasileiro Elim Dutra, junto com o secretário-geral adjunto da Liga dos Estados Árabes, Ahmed Bem Helli, e com os demais embaixadores sul-americanos sediados na capital egípcia.
A exposição fica no Cairo até o dia 18, depois segue para Amã, na Jordânia, e Damasco, na Síria. No Egito estão expostas 150 fotografias executadas por 22 fotógrafos do Brasil, Bolívia, Venezuela, Peru, Argentina, Colômbia, Paraguai, Equador e Uruguai. Elas estão dispostas da mesma forma utilizada na primeira exibição em Brasília e retratam com grande sensibilidade todas as faces da presença árabe na América do Sul.
A mostra ocorre no palácio Emir Taz, situado na região do Cairo Velho. As imagens proporcionam um contato autêntico não somente saga dos imigrantes árabes, mas também com a influência desta cultura na América do Sul desde a colonização Ibérica. Granada, o último reduto árabe em solo europeu, foi conquistada pelos espanhóis em 1492, no mesmo ano em que Colombo chegou à América. Desta maneira, várias das fotos exibidas mostram como os povos desta parte do mundo foram influenciados indiretamente pela cultura árabe.
Isso ocorreu não somente na língua, mas também na música, na arquitetura e em inúmeros costumes como, por exemplo, o consumo do café e azeite. Muitas das imagens dão ênfase à presença do toque artístico Árabe-Andaluz em lugares coma a igreja da Lapinha, em Salvador na Bahia.
A exposição relata também, por meio de fotos de acervos familiares, os traços da vida dos árabes na América do Sul desde a sua “segunda chegada” a este continente. O próprio nome da exposição, “Amrik”, é a forma como os imigrantes pronunciavam “América”. Ele era a expressão de uma nova realidade: a da “outra América”, nome pelo qual eles designavam a América do Sul.
Muitos imigrantes chegaram ao continente sul-americano jovens, em busca de uma vida melhor a partir do final do século 19. Eram em grande maioria sírios, libaneses e palestinos e viajavam a princípio para ficar pouco tempo. Mas acabaram ficando. O que ocorreu foi o movimento contrário, acabaram trazendo suas famílias. Foram irmãos, filhos, esposas, tios, primos, avôs, conhecidos, etc. As fotos mostram como para a maioria o começo foi difícil.
Tendo começado como mascates, os imigrantes foram ao longo dos anos e das gerações prosperando no comércio. De vendedores ambulantes aos poucos eles foram se transformando em donos de lojas e criaram verdadeiros redutos comerciais no Brasil. É o caso do Saara (Sociedade de amigos das adjacências da rua da Alfândega), na cidade do Rio de Janeiro, e da legendária rua 25 de Março, em São Paulo.
Por meio de uma série de relatos pessoais e de familiares se tece ao longo da exposição a presença dos árabes em seus novos países. Ao longo das gerações eles foram ocupando posições de prestígio, se destacando como médicos, professores, políticos, artistas ou jornalistas. E hoje os descendentes de árabes são mais de 10 milhões só no Brasil.
Outro ponto de destaque em várias das peças exibidas é a liberdade total de culto religioso existente nos paises sul-americanos. Neles, católicos, cristãos ortodoxos, coptas e muçulmanos praticam suas religiões sem restrição alguma e em grande harmonia, num espírito de tolerância e coabitação pacifica e cordial. Vários dos visitantes tendo mesmo se exclamado. A América do Sul seria mesmo este lugar tão raro onde pessoas de diferentes credos e culturas podem mesmo conviver em paz e respeito mutuo?. Amrik mostra que sim. Para os mais que não acreditam nas fotos, valeria uma viagem à região para constatar pessoalmente o fato.