19/05/2014 – A alta nos preços do café levaram os produtores e comerciantes brasileiros a exportar mais grãos. O aumento nos envios ajudou a reduzir os preços em 14% com relação ao pico em mais de 26 meses alcançado no mês passado. Porém, as exportações reduziram os estoques, preparando o cenário para ofertas escassas e outra rodada de aumentos nos preços no final do ano, disseram comerciantes e investidores.
Os preços do café aumentaram em 66% nesse ano, à medida que a seca severa devastou a principal região produtora de grãos arábica do Brasil. O café para entrega em maio terminou na terça-feira em US$ 1,8365 por libra na bolsa de futuros ICE dos Estados Unidos.
Alguns pequenos torrefadores já aumentaram os preços atacadistas, enquanto grandes vendedores de café, incluindo o Modelez International Inc., disseram que podem eventualmente fazer o mesmo para os clientes varejistas.
Andrea Illy, diretor executivo da torrefadora italiana, illycaffè SpA, disse em uma entrevista que a companhia está “tendando absorver esse choque [de preços] extra” e não descartou a possibilidade de aumentar os preços. Os preços do arábica em “mais de US$ 2 por libra será uma preocupação”, disse ele.
Muitos produtores e comerciantes brasileiros usaram o aumento para liberar grãos que estavam nos depósitos no ano passado, quando os preços do café tocavam mínimos em seis anos e meio. As exportações brasileiras de café não torrado aumentaram em 15% nesse ano até abril, comparado com o mesmo período de 2013. As exportações, as maiores em pelo menos cinco anos para o período, vieram quase que exclusivamente dos estoques, uma vez que os produtores começaram a colher grãos arábica somente em abril. O Brasil é o maior produtor mundial de café.
O Brasil terá problemas em manter o rápido ritmo de exportações quando os produtores esvaziarem seus estoques, disseram analisas. Os produtores e comerciantes provavelmente terão esgotado grande parte de seus estoques em questão de meses, enquanto a seca deverá prejudicar a produção de café nos próximos anos. Uma queda na qualidade e na quantidade da colheita do Brasil poderia direcionar os preços até US$ 3 por libra nesse ano, disse a presidente do J Ganes Consulting LLC., Judy Ganes. “A qualidade da colheita será terrível”, disse ela. “Não há café suficiente para compensar isso”.
O clima quente e seco afetou os cafezais bem quando os grãos arábica estavam amadurecendo, prejudicando seu desenvolvimento. A seca também veio quando os produtores brasileiros estavam cultivando um grande número de plantas jovens, que são mais vulneráveis.
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Paula Paiva, cafeicultora de quinta geração, disse que os cafezais jovens compreendem cerca de 17% dos 150 hectares de café da fazenda de sua família, Fazenda Recanto, em Minas Gerais, maior estado produtor de arábica do Brasil. Ela disse que a produção provavelmente cairá em 20% a 30% nesse ano, de uma média de 5.000 sacas, à medida que a seca prejudicou o desenvolvimento das sementes que crescem dentro das cerejas de café. Paiva disse que tinha 70 sacas de grãos estocadas, de 3.000 no começo do ano. “A colheita não parece prejudicada, mas se abrirmos [as cerejas], podemos encontrar muitas delas vazias”.
A Organização Internacional de Café (OIC) disse que o mercado poderia ter um déficit no ano safra de 2014-15, significando que não serão produzidos grãos suficientes para suprir a demanda. Investidores no mercado de futuros de café de US$ 11,2 bilhões estão se preparando para uma queda na produção do Brasil nesse ano e no próximo.
Mike Seery, presidente da Seery Futures, corretora de Plainfield, Illinois, disse que comprará futuros se os preços caírem mais. Ele acredita que os preços cairão em curto prazo, enquanto os comerciantes têm lucros e esperam informações sobre a colheita do Brasil.Seery disse que acha que os preços aumentarão para US$ 3 por libra até o final do ano, à medida que os impactos de longo prazo da seca se tornarem claros. “O café cresce em árvores, de forma que a seca terá um efeito por um par de anos”.
Sem dúvidas, a extensão total dos danos à colheita de café do Brasil ainda não é conhecida. A produção do segundo maior produtor de arábica, a Colômbia, que está tendo clima melhor, está aumentando. Alguns analistas argumentam que os comerciantes já incluem em suas previsões uma melhor colheita brasileira. “Eu acho que nesse ponto, as principais notícias ruins em termos da colheita brasileira têm sido o aumento de preços”, disse o diretor de pesquisas de commodities agrícolas da Société Générale SA, Christopher Narayanan.
De qualquer modo, os produtores brasileiros não estão oferecendo muita esperança de alívio. “O próximo ano poderia ser pior”, finalizou Paiva.
A reportagem é do The Wall Street Journal.