Exportação para grandes mercados despenca

21 de novembro de 2008 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: DCI

SÃO PAULO – Outubro foi um mês de sustos para os exportadores brasileiros. Grandes mercados consumidores como Estados Unidos, China e União Européia compraram menos produtos do Brasil na comparação entre setembro e outubro. Segundo analistas, esse fato sinaliza um dos primeiros reflexos da crise nas exportações brasileiras: a redução da demanda nos grandes centros e a queda no preço das commodities.


Para os Estados Unidos o montante exportado caiu 24,5% em outubro frente a setembro, somando US$ 2,3 bilhões. O câmbio volátil também fez com que as importações dos EUA ficassem praticamente estáveis, com aumento de apenas 0,64%, chegando a US$ 2,5 bilhões. O resultado foi um déficit de US$ 201,7 milhões para o Brasil.


No acumulado do ano, as exportações cresceram 14,1% chegando a US$ 23,6 bilhões. Já as importações avançaram 37,3%, somando US$ 21,4 bilhões. Com isso, o superávit comercial do País somou US$ 2,1 bilhões, quantia 58% menor do que em 2007. Paras se ter uma idéia, a participação dos Estados Unidos na pauta de exportações brasileira chegou a 13,9% do total, metade do que era há 20 anos (26,1%).


Para o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Marcel Guedes Leite é possível que essa queda acentuada das exportações remeta a uma preocupação dos consumidores americanos, gerada substancialmente pela crise internacional. “O mundo está apreensivo e certamente todos os projetos de investimento e consumo são postergados”, cita.


O acadêmico afirma que durante um longo período criou-se uma sensação de que poderia se consumir à vontade, sem riscos. Porém, agora, com a crise de crédito, tudo ficou paralisado. “O mundo estava num circulo virtuoso de crescimento que rompeu”, afirma.


Pelo ponto de vista do professor, o Brasil terá dificuldades não só no mercado americano, como também nas economias européias.


No entanto, conforme o especialista, é cedo para quantificar as perdas para o comércio exterior brasileiro. “Com o aumento do câmbio a receita dos exportadores melhora um pouco. O problema é acompanhar o volume de vendas que está caindo. Não sei o que o exportador pode fazer porque ele depende da renda de quem compra e mecanismos de financiamento”, exemplifica.


Leite finaliza dizendo que em momentos como esse, que fogem um pouco da alçada do Brasil, o governo deve aproveitar para resolver entraves burocráticos para exportação, como melhorar a eficácia dos portos e de toda a cadeia de infra-estrutura.


Em se tratando da China, as vendas brasileiras caíram 20,7% em outubro frente setembro, somando US$ 1,4 bilhão. Já as importações apresentaram estabilidade, com avanço de 1,2%, cravando a marca de US$ 2 bilhões. Com isso, o déficit no mês ficou em US$ 658,8 bilhões.


No período de janeiro a outubro, as exportações brasileiras para a China chegaram a US$ 15,1 bilhões, volume 63% maior do que o ano anterior. Enquanto isso, as importações cresceram 66,5% e somaram US$ 16,9 bilhões. O resultado é um déficit de US$ 1,8 bilhão para o Brasil.


Os números da União Européia revelam que a queda nas exportações brasileiras foi menos acentuada, chegando a 3% em outubro. Conforme o ministério, o montante somou US$ 4,2 bilhões no mês, contra importações de US$ 3,4 bilhões, quantia estável frente ao mês anterior. No ano, as exportações do País ao velho continente chegaram a US$ 39,8 bilhões e ainda apresentando crescimento de 20,6%, contra importações de US$ 30,6 bilhões, montante 40,3% superior a 2007.


Para o professor do programa de comércio exterior da Fundação Instituto de Administração (FIA), Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi, esse processo de queda registrado em outubro representa uma tendência de redução do consumo desses países. “Todo o mercado começa a sinalizar uma redução das compras. Muitas vezes isso se deve a períodos anteriores, já que muitos pedidos de importação são feitos em torno de seis meses antes”, informa o professor.


Grisi acrescenta que a redução das exportações deixa claro que já havia um quadro negativo nesses países desenvolvidos, mesmo antes do estouro da crise. Outro ponto que influência na redução dos valores exportados, de acordo com o acadêmico, é a queda substancial do preço das commodities no mundo, principalmente das metálicas como o ferro e o aço. “Não tem jeito. Ainda que haja um ajuste aqui por um real menos valorizado, ainda é insuficiente para suprir essa queda”, analisa o economista.


Na opinião de Celso Grisi, por mais que os bancos centrais do mundo inteiro estejam se esforçando para manter a atividade econômica ainda positiva, é clara a tendência de redução de consumo, fato que irá impactar diretamente as exportações nacionais. “Tende a se acentuar esse quadro até meados do ano que vem. Não acredito que tenhamos déficit em 2009, mas teremos um saldo muito exprimido, na ordem de US$ 5 bilhões”, conclui.


Conforme a previsão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o cenário vai se agravar ainda mais, pois a economia americana encolherá 2,8% no último trimestre deste ano e 2% nos primeiros três meses de 2009, e voltará a ter crescimento apenas no terceiro trimestre do próximo ano. Já a zona do euro terá uma recessão mais amena, com contração de 1% e 0,8% do PIB no último trimestre deste ano e no primeiro de 2009, respectivamente. A economia japonesa irá encolher por seis meses e se recuperar no primeiro trimestre de 2009.


ROBSON GISOLDI
 

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