O pouco conhecimento a respeito da fisiologia do cafeeiro, pode levar a especulações em um aumento na safra e diminição dos preços pago aos produtores, que assim estão à mercê da pior “praga ou doença” do cafeeiro.
02/02/07
Tradicionalmente, existem especulações acerca da safra brasileira de café com informações que podem refletir no preço internacional do produto. Recente informação divulgada na imprensa nacional de que o excesso de chuvas poderia elevar a estimativa da safra deixou perplexos produtores e profissionais ligados ao setor. O tema gerou debate sobre os efeitos destas desinformações e ganhou espaço na Comunidade de Manejo da Rede Peabirus, na sub-rede do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), administrado pela Embrapa Café, com recursos do Funcafé.
A divulgação de uma possível recuperação da safra brasileira coincidiu com uma seqüência de baixas das cotações na Bolsa de Nova Iorque. A deteriorização dos preços é justificada por muitos analistas pelo “Efeito Manada” nas commodities comandada pelo Petróleo e Metais que literalmente despencaram, levando consigo outras commodities como o café. Independente das questões mercadológicas, especialistas e produtores brasileiros expuseram os supostos efeitos que as chuvas de verão podem causar na atual safra.
Sem flor, sem fruto
Diferente do que pensam analistas estrangeiros, o excesso de chuvas pode trazer mais prejuízos do que benefícios às lavouras e tão pouco poderia elevar a produção nacional, já que a magnitude da safra é definida pela floração. O professor de Fisiologia Vegetal da Universidade Federal de Lavras (UFLA), José Donizeti Alves, que coordena o Núcleo de Fisiologia do Cafeeiro do CBP&D/Café, ensina que condições climáticas atípicas em 2006 impediram o desenvolvimento das peças florais, mesmo tendo havido a indução floral.
“A magnitude da próxima safra será muito baixa porque agora, em janeiro, é impossível reverter o fenômeno”, destaca, lembrando que a produção está intimamente ligada às condições climáticas prevalecentes no ano anterior. “O excesso de chuvas, longe de ser benéfico, é sem dúvida prejudicial ao cafeeiro. As chuvas em excesso podem, ao contrário do que pensam, diminuir ainda mais a safra de café nestas regiões”, conclui o professor.
Agravantes no campo
Como se não bastasse a frustração da florada que reduziu as estimativas de produção nas principais regiões produtoras, o excesso de chuva verificado nos últimos dois meses dificulta os tratos culturais e o controle de doenças. A chuva retarda o tratamento contra a ferrugem, o que poderá refletir negativamente na produção. Especialista em Agribusiness e cafeicultor, Armando Matielli, em entrevista ao portal Coffebreak, ressaltou a lixiviação anormal dos nutrientes, principalmente o Potássio, como outro agravante do excesso de precipitações.
Matielli lembra que a chuva atrapalha até mesmo o controle de ervas daninhas, que ganham ainda mais força com as chuvas. Quanto à possível recuperação da safra ele é enfático: “Chuvas em excesso, como vem ocorrendo, ou chuvas normais, vão colaborar para não ocorrer uma queda na produção, mas nunca um aumento produtivo. Esta interpretação de aumento de produção pelas condições climáticas, com chuvas abundantes, tem um caráter puramente especulativo ou, ainda, existe a possibilidade de um total desconhecimento na interpretação do desenvolvimento da cultura cafeeira”.
Cooperativas confirmam dificuldades
O diretor da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Franca/SP (Cocapec), Ricardo Lima de Andrade, demonstra-se preocupado com a situação da região, que acumula mais de 1100 milímetros de chuva entre dezembro e janeiro. E questiona: “Como a produção pode estar beneficiada, se nas unidades produtoras, as condições de estradas, pontes, circulação de maquinários e acesso às lavouras estão comprometidos?” Andrade também destaca que as condições de pulverizações para doenças, que aumentam com o excesso de umidade, estão muitas vezes inviabilizadas pelas chuvas freqüentes, deixando os agricultores inseguros quanto a eficácia das aplicações fitossanitárias.
De acordo com Antônio Augusto Ribeiro de Magalhães Filho, que representa a área de gestão de negócios da Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores do mundo, o efeito do excesso de chuvas pode até ser deletério sobre a produção. A região de Guaxupé, no Sul de Minas, também acumula precipitações entre 700 e 1400 mm, o dobro da média para o período (dezembro/janeiro). “Depois de definido o potencial produtivo podem ocorrer apenas condições de preservação e expressão máxima do potencial produtivo, ou condições deletérias (clima adverso, tratos insuficientes), mas nunca condições de elevação do potencial”.
Desinformação
O coordenador do Núcleo de Manejo da Lavoura Cafeeira do CBP&D/Café e mediador da comunidade referente da Rede Peabirus, Sérgio Parreiras Pereira, destaca a importância da organização do setor e do uso das ferramentas que facilitam o debate de temas revelantes ao agronegócio café para evitar que a desinformação favoreça a especulação. “Tão logo a informação foi publicada, produtores e especialistas se uniram na Rede para debater o tema, incentivando a publicação de informações que revelam a realidade, com embasamento técnico e cientifico”.
Professor da Universidade de Viçosa (UFV), especialista em fisiologia do cafeeiro e cafeicultor, Alemar Braga Rena, em depoimento ao site Cafepoint, sintetiza a revolta dos produtores diante de informações equivocadas sobre o desempenho da safra brasileira. “Pobre do cafeicultor brasileiro, que se encontra nas mãos dos abutres nacionais e internacionais de plantão. Eles são a pior praga, ou doença, como queira, do cafeeiro”.
Safra será menor devido frustração da florada
Cibele Aguiar
Embrapa Café
www.embrapa.br/cafe
cibele@sapc.embrapa.br 01/02/2007