Chuva atingiu o café na fase da colheita do grão. Previsão é de queda na produção de café de Minas Gerais.
As montanhas de Carmo de Minas, no sul de Minas Gerais, são cobertas de cafezais. A região é famosa pela produção de café fino e está na época da colheita. Mas, no galpão da Cooperativa dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde, as sacas prontas para exportação são da safra passada. Quase nada chegou da colheita deste ano. Das 40 mil sacas esperadas nesta época, apenas seis mil estão armazenadas.
“Desde o dia 30 de maio até 9 de junho a gente estava com a colheita paralisada. E isso vai provocar um atraso de 15 a 20 dias na chegada de café”, diz Ralph de Castro Junqueira, presidente da cooperativa.
O atraso foi provocado pelo clima. Os cafezais da região receberam nos primeiros dias de junho o dobro da chuva esperada para todo o mês.
A chuva excessiva chegou na fase da colheita, quando boa parte dos grãos estava vermelhinha, no chamado café cereja. A chuva derrubou exatamente estes grãos. O chão está forrado de grãos que entraram em contato com a terra e fermentaram com a umidade.
A colheita recomeçou com a volta do sol. O agricultor Otaviano Ribeiro Ceglia, dono de uma lavoura de 35 hectares, optou por colher primeiro os grãos que ainda restam no pé. A colheita é chamada de safra zero na região. O funcionário bate nos galhos para retirar os grãos. Depois, a planta será podada e ficará um ano sem produzir. Em 2018, deve voltar com uma carga melhor. Já as plantas mais novas têm a colheita por derriça.
Nos galhos do cafezal da propriedade encontram-se grãos escuros, verdes e os poucos vermelhos já são colhidos murchos, alguns até em processo de fermentação.
“A minha previsão era 1,4 mil sacos. Com essa queda, deve cair uns 20% na quantidade. Mas, na qualidade, vai ser mais de 50%”, diz Ceglia.
Há prejuízo também para o trabalhador, que ganha por quantidade colhida. “Tem muito pouco café. Um pé de café que dava 10 litros de café, se tiver cinco litros no máximo possível de café no pé. O resto está tudo no chão”, diz o trabalhador rural Jerkson da Silva.
Só quando acabar a colheita dos pés será feita a varrição dos grãos que caíram. “Sempre dá café no chão, mas igual esse ano eu ainda não vi”, diz o trabalhador rural Joaquim da Silva.
Todo o café colhido vai para o terreiro para perder umidade e o sol está ajudando. Mas, a maioria dos grãos colhidos até agora tem qualidade média. O que é comprovado na análise feita na cooperativa.
O gerente de qualidade Wellington Pereira compara duas amostras da mesma fazenda. A primeira, colhida antes do período chuvoso, foi bem processada e é mais uniforme. A outra foi prejudicada pela chuva e tem muitos grãos pretos. “Cerca de 30% da colheita da Mantiqueira está no chão e provavelmente os próximos cafés que os produtores vão enviar para a cooperativa estarão com esse padrão de qualidade”, diz.
Mas é no laboratório de qualidade que acontece o teste final, do sabor. “Pode resultar numa fermentação acentuada, numa limitação de açúcar no grão e, possivelmente, um café mais aguado. Isso vai determinar um café de baixa qualidade”, completa Pereira.
A baixa qualidade faz reduzir o valor. O presidente da cooperativa já calcula a queda nos preços. “Um café especial a gente consegue vender até a R$ 1,5 mil a saca de café. Então, o produtor que iria colher um café que poderia estar vendendo a saca por R$ 1,5 mil, vai pegar a saca de café no chão e vender a R$ 350, no máximo, R$ 400 a saca”, diz Junqueira.
Entre as principais regiões produtoras do país só no cerrado mineiro não houve muita perda nas lavouras de café arábica. Já no sul de Minas Gerais e em São Paulo, os prejuízos ainda estão sendo calculados.
Veja a matéria na íntegra no site do Globo Rural
http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2016/06/excesso-de-chuva-compromete-qualidade-do-cafe-produzido-em-mg.html