Repórter da Globo Rural participa da derriça no cafezal urbano
por Luiz Felipe Orlando | Globo Rural
Cafezal do Instituto Biológico em São Paulo é a maior plantação urbana do BrasilTrânsito, ruas movimentadas, comércio e casas não parecem o cenário ideal para uma lavoura de café. Isso, no entanto, não impede que exista uma no meio da cidade de São Paulo. O maior cafezal urbano do Brasil fica no bairro da Vila Mariana, no Instituto Biológico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (IEA/Apta), e foi lá que tive meu primeiro contato direto com uma plantação de café.
Desde 2006, a primeira derriça do estado é feita no cafezal do instituto. O “Sabor da Colheita” é uma iniciativa da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, e marca o início da temporada de colheita. Entre profissionais ligados à cafeicultura, funcionários do Biológico e moradores da vizinhança, 150 pessoas participaram da colheita simbólica nesta quinta feira (19/5). Homens de paletó e mulheres com bolsas nos ombros escolhiam os grãos maduros e os despejavam nos balaios que foram distribuídos.
Luiz Felipe é estagiário da Editora GloboSou urbano e minha experiência com o campo se resume a pequenos passeios nas férias: com exceção de uma excursão feita na quarta série, nunca havia visto uma lavoura tão de perto, muito menos participado de uma colheita. Coloquei a mão na massa e fui juntando grãos de café maduros no balaio. “É fácil colher café, isso qualquer um faz”, disse Alcides Machado, funcionário do instituto que orientava o público. Ele cuida dos carros da frota do órgão, mas já trabalhou muito tempo no campo. “Nasci embaixo de um cafezal”, brinca.
Devidamente paramentado com botas e chapéu, Machado peneirava o café e posava para fotos. Ainda bem que a colheita do evento era simbólica: demorei muito para encher o meu cesto. Nas próximas semanas, será feita a derriça de verdade, desta vez com profissionais. Distribuídos em uma área de 10 mil m², as 1.530 plantas produzem em média uma tonelada de grãos, que resultam em cerca de 500 quilos de café moído e torrado. Este ano a expectativa é que o número dobre. O produto é doado ao Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo.
“Mais do que terapêutico, colher café é uma coisa lúdica”, afirmou Maria Cristina Vasconcelos, pesquisadora do instituto. “Sou uma ‘bióloga do asfalto’; é sempre bom ter um contato direto com a natureza”. E quase esquecemos que esta natureza está no meio da cidade. Além do cafezal, conseguimos ver a ponta dos prédios mais altos. Maria Rozenowicz e Carlos Bogocian tiveram mais sucesso que eu na colheita. Os dois moram na Vila Mariana desde a infância, e participam do evento desde 2008. Carlos levou luvas. “No ano passado fiquei com as mãos pretas”. Maria gostou tanto da experiência que anos atrás levou uma mudinha e plantou em sua casa. “Já está dando frutos”, disse animada. Levei duas mudinhas para plantar em casa também.
Quem teve a ideia de realizar a primeira colheita do estado em uma plantação urbana foi o corretor de café Eduardo Carvalhaes. “Tem um vinhedo urbano em Paris, no bairro de Montmartre, e a primeira colheita da França sempre é feita lá”, conta. “Por que não fazer algo semelhante em São Paulo?”.