Vida Saudável – 15/05/2010
Luiz Carlos Diniz – e-mail: lcodiniz@yahoo.com.br
Boas notícias sobre o café – Conta-se que quando da introdução do café na Suécia no fim do século XVII, um grande debate aconteceu, pois havia quem afirmasse ser a bebida um veneno! Para pôr fim à polêmica, o Rei Gustavo III ordenou um “estudo comparativo”. Dois condenados à morte tiveram suas penas suspensas, sendo encarcerados. Um deles foi obrigado a tomar uma botija de café todos os dias, enquanto o outro beberia chá, até que morressem. Passaram-se os tempos, faleceram os médicos que assistiam aos pacientes, o rei foi assassinado e os condenados continuaram saudáveis. O primeiro a falecer foi o tomador de chá, aos 82 anos. O que tomou café só veio a morrer 12 anos depois.
Mesmo não sendo um veneno, o café, como qualquer outra substância química, pode provocar efeitos maléficos. Nós mesmos já discutimos neste espaço uma das reações adversas quando discorremos sobre a cafeína em excesso e o risco de abortamento (O café e a saúde). Recentemente três novos estudos analisaram as ações do café sobre a saúde humana.
No primeiro, em trabalho publicado na revista “American Journal of Clinical Nutrition”, pesquisadores alemães investigaram os efeitos da ingestão de cafeína sobre os marcadores inflamatórios e os metabolismos do colesterol e da glicose. Quarenta e sete tomadores habituais da infusão foram acompanhados por três meses. Ao fim, constataram-se reduções significativas nos marcadores da inflamação. Os níveis do colesterol HDL aumentaram significativamente, mas não aconteceram alterações importantes nos níveis da glicose sanguínea.
O segundo estudo, também publicado na mesma revista por pesquisadores da Universidade de São Paulo, seguiu a mesma linha de pesquisa. Tentou-se estabelecer a relação entre o horário da ingestão de café e o metabolismo da glicose. Foi procedido a partir de dados franceses, envolvendo 69.532 mulheres saudáveis de 41 a 72 anos, durante 11 anos. No período de acompanhamento, 1.415 delas desenvolveram diabetes mellitus.
Após as devidas análises estatísticas foi observado que as pessoas que consumiram café após o almoço tiveram risco 34% menor de desenvolverem a doença. E mais, a proteção não aconteceu em quem tomava a bebida em outro horário. As versões cafeinadas ou não, com e sem açúcar, apresentaram o mesmo benefício, sugerindo que outras substâncias que não a cafeína sejam as responsáveis pelos efeitos positivos.
As explicações para tais achados envolvem tanto o efeito metabólico benigno sobre o colesterol, com a elevação da fração HDL, quanto a diminuição da inflamação das células pancreáticas. Esta última parece dever-se a uma menor absorção de ferro por parte do paciente, haja vista que os níveis da ferritina (uma proteína de armazenamento de ferro, cujos valores refletem diretamente o nível de ferro estocado no organismo) elevados aumentam a inflamação e levam à resistência à insulina.
Dessa forma, esses dois estudos poderão sugerir linhas de pesquisas visando determinar se o uso continuado do café, sobretudo após o almoço, protege contra o desenvolvimento da doença.
Por fim, a terceira notícia. Durante as solenidades comemorativas dos 50 anos do “American Hearth Association Meeting Report”, foi relatado que os bebedores de café têm menor possibilidade de serem hospitalizados por distúrbios do ritmo cardíaco. Em outras palavras, se a bebida não tem efeitos terapêuticos sobre o coração, igualmente não provoca ações maléficas. Isto é, o estudo não conclui que beber café faz bem ao coração, mas suporta a idéia segundo a qual os portadores de arritmias cardíacas podem tomar tranquilamente seu cafezinho, sem o receio de maiores riscos.