A Ferrugem causada pelo fungo Hemileia vastatrix Berk. et Br., é a principal doença do cafeeiro em todo o mundo. Esta doença causa a queda precoce das folhas e a conseqüente seca dos ramos produtivos, antes da época de florescimento do cafeeiro, refletindo negativamente sobre o desenvolvimento dos botões florais, vingamento da florada, desenvolvimento dos frutos e redução da produtividade do ano agrícola seguinte.
Os prejuízos nas regiões cafeeiras onde as condições climáticas são favoráveis à doença atingem, em média 35% da produtividade. A morte constante dos ramos do cafeeiro reduz a vida útil produtiva da lavoura, tornando-a gradativamente antieconômica. A queda na produtividade, entretanto, varia de região para região e até mesmo de uma lavoura para outra.
Condições propícias à infestação
As condições ideais para o desenvolvimento da doença correspondem à temperatura na faixa de
20 a 24º.C com umidade do ar elevada, chuvas freqüentes e ambientes sombrios, espaçamentos mais fechados, adubação e tratos culturais inadequados e carga de frutos elevada.
Em regiões cafeeiras de altitudes mais elevada e com temperatura média inferior a 18º.C ou superior a 28º.C, a doença pode não causar danos econômicos na produção, embora os sintomas ainda possam ser visíveis em algumas folhas das plantas. Geralmente, o período chuvoso marca o início de infecção das plantas pela ferrugem. Em várias regiões do Brasil, o período infeccioso da doença estende-se de dezembro a maio, devido às condições climáticas favoráveis, podendo chegar até junho em algumas regiões, indicando, portanto, a época mais adequada para se efetuar o controle da doença.
A severidade da ferrugem no campo está intimamente relacionada com a carga de frutos das plantas. O cafeeiro é uma planta tipicamente bianual, isto é, de dois em dois anos as plantas apresentam alta produção de frutos, e
justamente nos anos em que se tem uma estimativa alta de produção é que a doença atinge alta severidade e maiores cuidados devem ser levados em consideração no controle racional da doença. Nos anos agrícolas de baixa produção das plantas, a doença não é muito severa.
Altenativas de controle
O controle pode ser feito pela utilização de variedades resistentes ou por meio da aplicação de fungicidas. Quando se optar pelo emprego de fungicidas, diferentes estratégias podem ser adotadas. O controle pode ser feito preventivamente com fungicidas protetores, sendo os cúpricos os mais efetivos ou pelo emprego de fungicidas sistêmicos, via foliar ou via solo, formulados ou não com inseticidas sistêmicos; e ainda em mistura ou alternância de fungicidas sistêmicos com fungicidas cúpricos.
A estratégia a ser adotada também poderá apresentar esquemas diferentes em anos de alta carga em relação aos de baixa carga da lavoura, no que se refere ao número e intervalo de aplicação
de fungicidas. Admite-se que o controle da ferrugem do cafeeiro é bem sucedido quando a incidência da doença atinge no máximo 20% na época da colheita dos frutos.
Fungicidas protetores
Os fungicidas protetores à base de cobre como calda bordalesa, calda viçosa, oxicloreto de cobre, hidróxidos de cobre e os óxidos cuprosos, foram os primeiros a serem testados e até hoje são muito utilizados, porque além da ação fungicida do cobre, ele é um micronutriente essencial para a cultura do café. Existem também no mercado, diversas formulações prontas de cúpricos misturados com outros fungicidas.
O controle preventivo da ferrugem baseado no calendário fixo de aplicações de fungicidas cúpricos consiste em quatro aplicações por ano, entre os meses de dezembro e março, em intervalos de 25 a 30 dias. O cobre quando aplicado na superfície das folhas, forma uma barreira tóxica capaz de evitar a penetração do fungo, atuando de forma
preventiva no controle da doença. Como vantagens, esta estratégia apresenta baixo custo, é adaptável a vários programas de controle podendo ser utilizado em mistura ou alternância com os fungicidas sistêmicos, além de atuar no controle de outras doenças do cafeeiro como da mancha de olho pardo, na mancha de Ascochyta, na mancha de Phoma e na mancha Aureolada.
É uma excelente opção para o controle da ferrugem em anos de baixa carga na lavoura. Como desvantagens, há necessidade de um maior número de aplicações, maior volume de calda, boa cobertura foliar com a calda fungicida, dificuldade de aplicação no período chuvoso e em lavouras adensadas, e tem baixa eficiência de controle quando aplicada em lavouras com alto índice de infecção.
Fungicidas sistêmicos
O controle da doença com fungicidas sistêmicos pode ser feito via foliar ou via solo. Vários fungicidas sistêmicos estão disponíveis no mercado, com destaque para os fungicidas do grupo dos triazóis,
estrobilurinas e das mistruras triazóis mais estrobilurinas. A maioria dos fungicidas sistêmicos disponíveis no mercado é capaz de penetrar e matar as estruturas do fungo dentro dos tecidos da planta, e por isso, são geralmente recomendados, após o estabelecimento da ferrugem no campo. O número de aplicações envolvendo fungicidas sistêmicos em geral é a metade do número recomendado para os fungicidas protetores.
As pulverizações foliares com fungicida sistêmico podem ser feitas seguindo calendário fixo de aplicação, normalmente com duas aplicações por ano ou baseando-se no esquema de amostragem para determinação do índice de doença no campo.
Alguns fungicidas sistêmicos são muito eficientes no controle da ferrugem, apresentando um bom efeito curativo, maior efeito residual que os cúpricos, e necessitando apenas de uma ou duas aplicações por ciclo, mas não atuam no controle da mancha de olho pardo em cafeeiros adultos. Daí a estratégia interessante de utilizá-los em
alternância ou mistura com os cúpricos ou optar por formulações prontas de sistêmicos com cúpricos.
Um ponto importante a ser considerado na escolha do fungicida é o tempo de persistência do ingrediente ativo nos tecidos da planta. Esse tempo pode variar com o tipo de fungicida sistêmico e com a dosagem empregada. Alguns dão 45 dias de proteção interna, outros 60 dias e outros até 75 dias.
Controle da doença via foliar, vinculado à intensidade de ataque
A opção pelo controle da doença via foliar, vinculada à intensidade de ataque da ferrugem nas plantas, implica na amostragem de folhas no campo e posterior determinação da incidência. Para isso, recomenda-se a cada 15 dias, no período de dezembro a abril, coletar cinco folhas de cada lado, entre o terço médio e o inferior da planta (o que normalmente corresponde a uma altura de 70 cm a 90 cm do solo), no 3º. ou 4º. par de folhas completamente desenvolvidas dos ramos laterais totalizando 10 folhas/planta.
A
amostragem deve ser bem representativa, devendo-se caminhar em zigue-zague no talhão para se efetuar a coleta de folhas. Pelo menos 20 plantas no talhão devem ser amostradas. Proceder em seguida à contagem do número total de folhas coletadas e do número de folhas com pústula de ferrugem, calculando-se a seguir a porcentagem de infecção de acordo com a seguinte fórmula:
% de infecção = (número de folhas com ferrugem / número total de folhas coletadas) x 100
Se a porcentagem de infecção estiver em torno de 5%, recomenda-se iniciar o controle da doença com fungicidas protetores (à base de cobre); se ultrapassar 5% chegando até no máximo 12%, recomenda-se a aplicação de fungicidas sistêmicos.
Muitos produtores deixam para realizar o controle mais tarde, visando controle curativo, com índices de infecção mais elevados e com maior pressão de doença, obtendo resultados variáveis de acordo com os produtos aplicados. Vale ressaltar que, em geral, a maioria dos
fungicidas tem sua eficiência reduzida, quando aplicados em plantas com índice elevado de doença.
Esta estratégia apresenta vantagens do ponto de vista econômico, permitindo em certos casos reduzir o número de aplicações devido ao efeito curativo-protetivo dos fungicidas sistêmicos. Porém se as condições climáticas estiverem muito favoráveis, a expectativa de carga muito elevada, a amostragem não for representativa do talhão e o intervalo entre avaliações for muito longo, fica difícil determinar a época ideal de aplicação dos produtos, devido à rápida evolução da doença, que sob condições favoráveis pode fugir ao controle e causar dano econômico na lavoura.
Fungicidas sistêmicos via solo
Quando se optar pelo controle da ferrugem pela aplicação de fungicidas via solo, misturados ou não com inseticidas sistêmicos, a aplicação deve ser feita no início da estação chuvosa, não podendo passar do mês de dezembro. A mistura fungicida e inseticida, aplicada via solo, é
benéfica no controle da Ferrugem e do Bicho Mineiro, e na maioria das vezes, proporciona maior crescimento radicular, maior vigor vegetativo das plantas, verde mais intenso das folhas, maior retenção foliar e leva ao aumento de produtividade nos primeiros anos.
Além dos aspectos ligados ao controle fitossanitário, outros de natureza fisiológica estão envolvidos diretamente na eficiência desses produtos. Esses produtos necessitam que o solo esteja com determinado nível de umidade para que eles possam ser absorvidos pelas raízes e translocado dentro da planta. Em certas regiões cafeeiras em que o bicho mineiro não causa danos nas lavouras, o fungicida sistêmico pode ser aplicado via solo isoladamente sem o inseticida.
Entretanto, vale ressaltar que a aplicação indiscriminada de fungicida sistêmico misturado a inseticidas via solo no controle integrado da ferrugem e do bicho mineiro, numa mesma, área ano após ano, pode, a partir de certo tempo, modificar a fisiologia da
planta a tal ponto, que a lavoura passe a manifestar reflexos negativos na produção. Parece que essa mistura leva a um esgotamento das plantas após vários anos de aplicação.
Em várias regiões do Estado de Minas Gerais, tem sido observado que esse esgotamento das plantas predispõe o cafeeiro ao ataque de outras doenças, a tal ponto que se tornou imprescindível o controle da mancha de olho pardo em lavouras que receberam mistura de produtos via solo, em regiões onde esta doença não causava problemas na cultura do café.
Uso integrado de fungicidas
Esquemas de controle baseado no uso integrado de fungicidas sistêmicos aplicados via solo ou via foliar, em mistura de tanque ou alternados com os fungicidas cúpricos, é uma estratégia interessante de controle e tem sido utilizada por vários produtores da Zona da Mata de Minas Gerais.
No caso da mistura de fungicidas sistêmicos do grupo dos triazóis com fungicidas cúpricos
(calda viçosa, por exemplo), tem sido observado um aumento de produtividade em várias lavouras da região, o que paga o gasto a mais do fungicida cúprico e, além disso, o pH da calda não tem interferido na eficácia do fungicida sistêmico.
Nesta estratégia aproveitamos a ação curativa dos fungicidas sistêmicos, a ação protetora dos fungicidas cúpricos e o que se observa no final é: uma melhoria na ação residual de ambos os produtos, necessitando apenas de uma ou duas aplicações por ciclo; melhoria do estado nutricional da planta devido ao cobre atuar na nutrição da planta como micronutriente; redução da pressão de seleção que os fungicidas sistêmicos exercem na população do patógeno e ainda possibilita o controle de outras doenças do cafeeiro como a mancha de olho pardo.
Conclusão
Todas as estratégias de controle apresentadas têm suas vantagens e desvantagens. Cabe ao produtor escolher, estudar e planejar racionalmente aquela que seja mais adequada a sua
situação, tendo sempre em mente os aspectos econômicos (custos), ecológicos (preservação ambiental) e sociais, para que sua atividade continue sustentável por longo período de tempo e não se esquecer de que os fungicidas cúpricos são essenciais e importantes nesse processo. Isto é um dos pilares do manejo da ferrugem dentro da filosofia da Produção Integrada de café (PIC).
REFERÊNCIAS
ZAMBOLIM, L.; VALE, F. X. R. d.; PEREIRA, A. A.; CHAVES, G. M. café: controle de doenças. Doenças causadas por fungos, bactéria e vírus. In: do VALE, F. X. R.; ZAMBOLIM, L. (eds.). Controle de doenças de plantas: grandes culturas. Viçosa: Departamento de Fitopatologia. UFV., v.1, 1997. p.83-140.
CHALFOUN, S. M.; ZAMBOLIM, L. Ferrugem do cafeeiro. In: EPAMIG (ed.). café. Belo Horizonte: Informe Agropecuário, v.11:126, 1985. p.42-46.
CARVALHO, V. L.; CHALFOUN, S.
M. Manejo integrado das principais doenças do cafeeiro. In: EPAMIG (ed.). Cafeicultura: Tecnologia para Produção. Belo Horizonte: Informe Agropecuário, v.19, 1998. p.27-35.