Produtores calculam gastos extras de R$ 139 milhões por causa da falta de conservação das rodovias
Por Miriam Hermes
Barreiras (Sucursal Regional Oeste) – A safra 2005/2006 do cerrado baiano, estimada em mais de três mil toneladas, começou a ser colhida, mas as estradas usadas para escoar a produção continuam a causar prejuízos em toda a região. Ao todo serão 110 mil viagens de carretas saindo do oeste baiano com algodão, milho e soja, dentre outros grãos, rumo ao nordeste e aos portos, especialmente os de Salvador e de Ilhéus, em um percurso médio de 1.300 quilômetros.
De acordo com estudo da Aiba (Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia), o acréscimo nos custos dos fretes por causa das péssimas condições de conservação das estradas totaliza R$ 139,9 milhões nesta safra. Isso é o que se paga a mais para produzir e que se deixaria de desembolsar se houvesse estradas melhores. O montante representa uma elevação de cerca de 25% nos custos, em relação aos R$ 560 milhões gastos tradicionalmente com frete na região a cada safra.
A comunidade regional cobra a aplicação dos recursos recolhidos pela Cide (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico), no valor de R$ 0,07 por litro de óleo diesel, no trabalho de conservação das estradas. Segundo cálculos que levam em conta a arrecadação média, apenas as carretas que vão levar a produção devem recolher cerca de R$ 5 milhões nesta safra. Isso sem considerar o retorno destes veículos (carregados de insumos ou vazios) e os carros de passeio.
Para agilizar uma solução, a Aiba entrou com uma Ação Civil Pública contra o Dnit (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes) e a União, “cobrando a responsabilidade dos gestores do dinheiro público destinado à conservação das BRs 020, 242 e 135”, segundo o advogado da entidade, Wagner Pamplona. Ambos (Dnit e União) receberam citação da Justiça Federal de Barreiras, porém, a União alegou que a Aiba não tem legitimidade e competência para defender os interesses da sociedade, informa Pamplona.
“O Dnit está contestando a ação”, diz o coordenador do órgão na Bahia, Saulo Pontes. Para ele, não há razão para o questionamento judicial, “pois no mesmo período em que a Aiba deu entrada (na ação), no final de 2005, nós estávamos trabalhando na assinatura dos contratos com as empreiteiras”, diz. Ainda de acordo com Pontes, o total dos contratos somou R$ 38 milhões. Nos próximos dez dias ele deverá avaliar o andamento dos trabalhos pessoalmente.
ISOLADA – Apesar das obras de recuperação já estarem em andamento na maioria dos trechos, todas as vias de ligação da região produtora com as regiões consumidoras estão comprometidas. A BR-020, que liga Barreiras ao Distrito Federal, está em acelerada degradação. No trecho até Luís Eduardo Magalhães, os 90 quilômetros mais movimentados da região, são comuns os acidentes devido aos buracos.
Desde 20 de fevereiro foi assinado o contrato entre o Dnit e a Paviservice para a restauração e manutenção dos 293 km entre Barreiras e a divisa com Goiás. Há menos de 10 dias as obras foram iniciadas próximo ao distrito de Roda Velha, município de São Desidério.
Segundo o engenheiro Ronald de Azevedo, a empreiteira vai abrir outra frente de trabalho em Barreiras. O prazo contratual é de dois anos, porém, atrasos de natureza burocrática, diz ele, são comuns e algumas licenças demoram até três meses para sair.
Como na região oeste o período chuvoso está em seu ciclo final, o argumento é usado também para justificar a demora em iniciar as obras de recuperação. Segundo Ronald de Azevedo, entretanto, a previsão é concluir o tapa-buracos em seis meses, até a fronteira do Estado.
Produção no oeste – safra 2005/2006
Produto área (hectares) produção (ton)
Soja 870 mil 1.983.600
Algodão 207.394 721.731
Milho 126 mil 567 mil
Capim 23.800 450
Arroz 10 mil 18 mil
Café 13.685 41.055
Sorgo 5 mil 12 mil
Feijão 3 mil 5.400
Outros 268.106 –
Total 1.526.985 3.359.496
Fonte: AIBA
FALA POVO
O que você acha das condições das estradas do oeste?
Pedro Otoni
Carreteiro de Minas Gerais há 28 anos
As estradas nunca estiveram piores do que agora. Antes tinha mais estrada de chão, mas asfalto esburacado é pior. Acho isso um abuso contra os carreteiros que pagam os impostos, mas o dinheiro evapora, ninguém dá notícia dele. Eu mesmo já rejeitei várias corridas, pois tem lugares que não compensa de jeito nenhum.
Walter Horita
Empresário rural, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão
É uma vergonha o descaso com as estradas, principalmente as federais. O produtor é o primeiro a pagar caro, porque os fretes encarecem devido à buraqueira. Outro aspecto para os cotonicultores é o custo para transportar com segurança, contratando batedores para acompanhar entre quatro a cinco carretas.
Rider Castro
Empresário do ramo de transportes e comércio atacadista
A gente vê com tristeza a situação das estradas, ceifando vidas e causando prejuízos. O que se percebe é que os impostos são recolhidos, mas não existe a contrapartida, principalmente do governo federal. O que existe é a inércia. Uma via de mão única, onde os recursos vão, mas as benfeitorias não voltam.
Antônio Milton Borges
Empresário de revenda de combustíveis e diretor da CDL/Barreiras
É lamentável que a gente viva em uma região com tanta produção agrícola e um comércio forte, praticamente isolado. Vejo com apreensão esta situação, pois temos na região uma das piores rodovias federais do País (a BR-135). Este estado de calamidade aumenta demais os nossos custos. Em virtude disso, nossa empresa terceirizou o transporte. Na minha opinião, falta manutenção constante.