25/04/2012
NÃO PARECE DIFÍCIL IMAGINAR QUE OS PREÇOS DEVEM SE MANTER EM PATAMARES ELEVADOS, APESAR DAS ESPECULAÇÕES BAIXISTAS
SYLVIA SAES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Sabe-se que os preços das commodities são muito sensíveis ao movimento de aversão ao risco dos mercados financeiros. Em períodos de desaceleração da economia, como se observa na Europa e nos Estados Unidos, a demanda dos investidores por ativos de risco tende a reduzir bastante.
De acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional, as cotações das commodities devem apresentar uma trajetória declinante nos próximos anos.
O café, como uma das principais commodities agrícolas comercializadas mundialmente, seguiria a mesma tendência.
O grau de incerteza com relação à capacidade de recuperação das economias dos países desenvolvidos daria o tom baixista das cotações internacionais.
Além disso, a história mostra que os mercados futuros, como o próprio nome indica, agem prospectivamente. Só que olham para o futuro próximo: no caso, as estimativas da safra 2012/13.
Esse mercado atenta que as condições atuais de fragilidade da oferta e demanda se contrapõem às previsões de que a safra do Brasil, o maior produtor mundial, pode chegar a 52 milhões de sacas no próximo período, ante 43 milhões produzidos no anterior.
Mesmo que essa estimativa não se realize, já que ainda é muito cedo para saber se não haverá problemas climáticos no caminho, ela é um prato cheio para quem vive de especulação!
A lente de médio prazo dos agentes desse mercado só permite enxergar a grande safra para 2011/12 e a crise mundial que deve restringir a demanda pelas commodities de uma forma geral.
No entanto, esse argumento não considera as evidências atuais que fundamentam a relação entre oferta e demanda de café no longo prazo.
Ao longo das últimas décadas, o crescimento da demanda tem levado a um ajuste “forçado” da oferta com redução dos estoques mundiais.
O nível de estoques nos países exportadores alcançou 17,4 milhões de sacas de café, o menor já registrado.
Isso tem refletido, como aponta a Organização Internacional do Café, no crescimento dos preços do produto no varejo nos principais mercados consumidores nos últimos quatro anos.
Diante disso, não parece difícil imaginar que os preços devem se manter em patamares elevados, apesar das especulações baixistas, uma vez que para a commodity café há uma relação bastante tênue entre a oferta e a demanda do produto no longo prazo.
Além disso, a expectativa de aumentos significativos da produção, conforme se verificou na última década, é limitada em decorrência das elevações dos custos de mão de obra e dos insumos.
Portanto, vemos que, embora o agravamento do cenário econômico internacional seja relevante para o comportamento das cotações, os motivos para a sustentação ou para a queda de preços são mais complexos quando procuramos observar as tendências de longo prazo.
SYLVIA SAES é professora do Departamento de Administração da FEA-USP e coordenadora do Cors.