O setor chegou a cobrar da autarquia rapidez na divulgação dos dados, o que só aumentou as perspectivas negativas sobre os estoques do país no início da safra 2016/17.
A divulgação dos estoques privados de café do Brasil, na última sexta-feira (22), pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que totalizavam até 31 de março deste ano 13,5 milhões de sacas, surpreendeu alguns envolvidos de mercado, que esperavam números bem menores do que o reportado pela Companhia. O setor chegou a cobrar da autarquia rapidez na divulgação dos dados, o que só aumentou as perspectivas negativas sobre os estoques do país no início da safra 2016/17.
Desde o início do ano, após consecutivas quebras na safra de arábica e robusta do Brasil, e recordes de exportação, o mercado especulava que os estoques chegariam a março desse ano “praticamente zerados”. “O número, de certa forma, causou surpresa. O mercado falava em estoques na casa de 6 milhões e 6,5 milhões de sacas”, afirma o diretor executivo da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), Nathan Herszkowicz.
Apesar de o mercado esperar números bem menores do que os que foram divulgados pela Conab na sexta-feira, de um ano para o outro, o volume armazenado de café por entidades privadas teve redução de 5,4%, saindo de 14,3 milhões em março do ano passado para 13,5 milhões neste ano (12,47 milhões de sacas são da variedade arábica e 1,12 milhão de robusta). Essa é a segunda queda consecutiva nos estoques.
O estado de Minas Gerais, maior produtor nacional, tem mais de 9 milhões de sacas em estoques privados. Já nos estados do Espírito Santo, Paraná e São Paulo, os estoques totalizaram volume de 3,3 milhões de sacas, sendo 2,5 milhões de arábica e 760 mil de robusta, com uma redução de 18% frente ao estoque final do ano anterior. Os demais estados registraram um volume de 545 mil sacas, sendo 344 mil de arábica e 201 mil de robusta.
Segundo um representante do setor produtivo, que preferiu manter sigilo, o número divulgado pela Companhia realmente veio acima das expectativas. No entanto, os dados divulgados parecem condizer com a realidade do mercado. Para elaborar o levantamento, a Conab fez pesquisas em 669 armazenadores privados, com emissão de 1.057 formulários.
“A pesquisa, realizada anualmente pela Companhia, gera informação essencial para a formulação de políticas públicas setoriais pelos órgãos governamentais, para a cadeia produtiva de café e também para segmentos da sociedade interessados na oferta e distribuição do produto no país”, informou a Conab em nota para a imprensa.
As incertezas sobre os números dos estoques de café do Brasil aumentaram ainda mais com a perspectiva do setor de que os estoques estavam “praticamente zerados” e que a Companhia precisava realizar a divulgação dos dados o mais rápido possível. “A indústria chegou a pedir explicações para a Conab sobre a divulgação dos estoques, pois a expectativa era de baixa”, pondera Herszkowicz.
Através de sua assessoria de imprensa, a Conab informou que o prazo para envio dos formulários dos estoques de café neste ano era até o dia 6 de maio. “Como muitos questionários são enviados pelos Correios, a Companhia está na fase de compilação dos dados, sem data prevista para conclusão dos trabalhos”, explicou em 2 de junho.
Segundo o analista de mercado do Escritório Carvalhaes, Eduardo Carvalhaes, apesar da queda nos estoques e da expectativa do mercado ser acima dos números divulgados, o cenário ainda demanda atenção. “Levando em conta que as exportações brasileiras nos meses de abril, maio e junho somaram 7,36 milhões de sacas e que o consumo interno brasileiro no mesmo período foi de aproximadamente 5 milhões de sacas, o estoque brasileiro de passagem para a nova safra 2016/17 era de 1,23 milhões de sacas em mãos da iniciativa privada, mais 1,49 milhões de sacas de estoques governamentais, totalizando 2, 72 milhões de sacas”, explica.
Para ele, se adotarmos como base uma exportação média de 35 milhões de sacas no ano-safra e um consumo interno de 20 milhões de sacas, nossos estoques de passagem cobrem apenas 18 dias de exportação e consumo interno. “Isso é um indicativo de que teremos um ano-safra complicado”, aponta Eduardo Carvalhaes.
Segundo Nathan Herszkowicz, da ABIC, a divulgação da Conab dá certo alívio à Indústria, mas as dúvidas sobre a produção nesta temporada ainda são grandes. “Com esse dado divulgado, acima de 13 milhões de sacas, a Indústria trabalha com maior tranquilidade, mas ainda existem preocupações porque já se passaram três meses desde março e de lá para cá pouco café entrou no mercado”, explica. A associação estima que o consumo interno de café neste ano possa chegar a 21 milhões de sacas, até abril o aumento era de 4,7% em relação ao ano anterior. “A expectativa é de que a safra deste ano seja totalmente consumida pelo mercado”, pondera Herszkowicz.
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Por: Jhonatas Simião
Fonte: Notícias Agrícolas