SÃO PAULO (Reuters) – Com os armazéns brasileiros cada vez mais vazios e uma produção sem fôlego para acompanhar o consumo, o mercado de café deve passar nos próximos anos por um período de oferta perigosamente apertada, afirmaram representantes da indústria, traders, analistas e produtores nesta sexta-feira.
O quadro de oferta justa, disseram as fontes, vale tanto para o Brasil, maior produtor, como para o mercado mundial. E, para alguns, o risco de desabastecimento não está descartado, caso 1869968498
“Não há no momento condições de o Brasil criar um excedente de café”, disse o corretor Eduardo Carvalhaes, de Santos. “Se tudo correr bem, a situação nos próximos anos será de um equilíbrio precário. Se houver uma geada, o preço dispara.”
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) previu em meados de dezembro que os estoques de passagem devem atingir o menor nível em décadas –5,6 milhões de sacas– no próximo mês de 1835102951
Em dezembro, a Conab projetou uma produção de 40 milhões a 43 milhões de sacas de café em 2006/07. Ainda que se confirme a previsão mais otimista, o volume não atende com sobra as 1852138341
“A produção do Brasil não acompanha o aumento no consumo”, diz Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé, a maior cooperativa de café do Brasil, com recebimento próximo de 3,9 544041324
Em 2003, o país consumia 13,7 milhões de sacas.
Paulino acredita que, às vésperas da colheita, a escassez tende a levar a uma alta dos preços. Se isso ocorrer de fato, ele não descarta uma antecipação da colheita.
“O custo aumenta para o produtor, mas se o preço compensar, podemos fazer uma colheita seletiva antes da época”, disse.
MARCO HISTÓRICO
É em meio a esse quadro de oferta precária nos próximos dois anos ou três anos, que deve ocorrer uma marco histórico para a cafeicultura nacional: o fim dos estoques do Funcafé.
Criados na década de 1950 para regular a oferta do produto em uma época em que o café representava mais de 70 por cento da oferta cambial do Brasil, eles chegaram a abrigar mais de 50 1835625576
Desde a extinção do IBC (Instituto Brasileiro do Café), em 1990, eles foram pouco a pouco sendo eliminados pelo governo em leilões destinados sobretudo à indústria.
Nos últimos anos, o governo vem leiloando entre 1 milhão e 1,5 milhão de sacas anuais desse estoque. Segundo a Conab, havia em janeiro apenas 3,6 milhões de sacas desse café nos armazéns governamentais.
Segundo o pesquisador Nelson Batista Martin, do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA), o fim dos estoques terá ao menos uma consequência imediata: sem o café do Funcafé para 1668246896
“O fim dos estoques do governo vai alterar nossa estratégia de abastecimento. Vamos passar a trabalhar exclusivamente com o café da safra”, disse o diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café), Nathan Herszkowicz.
Ele lembra que o café dos estoques governamentais atualmente representam 6 por cento do consumo do setor.
A eliminação dos estoques pode ter também uma consequência psicológica no mercado, diz Herszkowicz. Segundo ele, ainda que fossem compostos em sua maior parte por grãos colhidos na década de 80, esses cafés sempre foram “uma ferramenta de pressão negativa sobre os preços”.
“Eles entravam na contabilidade geral de disponibilidade de café, o que era irreal, pois devido à sua qualidade só podiam ser consumidos gradualmente”, afirmou o dirigente.
Ele prevê dificuldades no abastecimento nos próximos dois anos, sobretudo em 2007, quando o Brasil deverá colher menos café por conta da bienalidade característica de sua produção.
“Pode haver até desabastecimento”, afirmou.