Juliana Esteves / Incaper
26/01/2015 – Uma combinação nada produtiva para a cafeicultura capixaba. A estiagem, as altas temperaturas e a insolação, associadas a outros fatores, devem provocar queda na safra de café do Espírito Santo. As informações são do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Segundo o pesquisador do Incaper e coordenador do programa estadual de cafeicultura, Romário Gava Ferrão, a queda na safra de café Conilon já era esperada, mas a situação se agravou por conta da seca.
“O principal problema é a estiagem. Algumas regiões estão há mais de 40 dias sem chuva, enfrentam temperaturas bastante elevadas e insolação. Isso leva ao estresse da planta e do ambiente. Mais da metade do Conilon plantado no Espírito Santo é irrigado, mas os reservatórios baixaram muito. Há problemas na quantidade de água para a irrigação, porque a água disponível para esta finalidade está mais escassa. O produtor não consegue disponibilizar a quantidade de água exigida pela planta. Esta época de seca coincide justamente com a fase em que a planta demanda mais água, que é a do enchimento de grãos. A falta de água pode provocar o chochamento dos grãos, formação de grãos menores e com menor peso. A seca, a insolação e as altas temperaturas chegaram justamente num momento em que a planta mais precisa de água”, explicou Ferrão.
Na primeira estimativa de safra divulgada pela Conab, com base nos dados apurados em novembro e dezembro de 2014, estimou-se uma perda na ordem de 10%, podendo chegar a 15%. Esta queda na produção já era esperada devido, principalmente, a três fatores:
1- O café é uma planta bienal. Um ano produz mais, outro menos. No caso do Conilon, como foi registrada uma safra recorde no ano passado, já era de se esperar uma um pouco menor este ano.
2- Uma frente fria prolongada (mais de 10 dias) com ventos fortes e muito frio, atingiu o Estado na época do florescimento (agosto-setembro) nas principais regiões produtoras do Espírito Santo. Isso provocou queda de flores, de folhas e interferiu na fertilização da flor (formação do embrião do fruto). As rosetas cresceram com falhas, produzindo um menor número de frutos.
3- Na época da formação dos frutos (novembro–dezembro), houve déficit hídrico. Não choveu na quantidade necessária para a formação dos grãos, e o desenvolvimento dos frutos foi comprometido. Muitos chegaram a cair do pé.
Estes três fatores associados à estiagem devem provocar uma queda ainda maior do que a prevista na safra de café do Espírito Santo. A produção capixaba de Conilon, que em 2014 bateu recorde com 9,9 milhões de sacas colhidas, este ano deve ser de apenas 8,5 milhões.
Quanto ao Arábica, havia para este ano a expectativa de uma safra um pouco maior do que a de 2014. Apesar da previsão de alta, o déficit hídrico e as altas temperaturas podem provocar uma queda na safra deste ano. As estimativas só devem ser confirmadas entre o meses de abril e maio. “Os técnicos do Incaper vão a campo quantificar tudo isso. Só depois, quando for divulgada a segunda estimativa de safra, será possível confirmar se houve ou não essa maior perda”, pontuou Ferrão.
Saída técnica para o produtor
Existem tecnologias que auxiliam o cafeicultor a minimizar os efeitos climáticos. O Incaper desenvolveu e recomenda diversas variedades de café tolerantes à seca. O manejo de irrigação, poda, a associação de café com outras espécies e as tecnologias relacionadas à conservação do solo também contribuem para reduzir os impactos causados pela estiagem. “O produtor deve ter consciência de que a mudança climática é um problema real. Tem que se programar para enfrentar estes problemas. Não é enfrentar na hora que a situação aparece. Tem que usar mais tecnologia, reservar água na propriedade, fazer um bom manejo de irrigação, implantar e conduzir as lavouras usando as tecnologias desenvolvidas e adaptadas para as condições do nosso Estado. Além disso, é importante pensar em diversificar a produção, para que no ano de safra baixa, ele possa compensar com outras culturas potenciais. Enfim, a saída é melhorar a gestão do saber, do conhecimento, da tecnologia, planejando com antecedência. O produtor tem que se programar”, finalizou Ferrão.