O principal desafio
Há 50 anos, a agricultura representava 55% da atividade econômica do Espírito Santo. Hoje ela significa pouco mais de 5%. A indústria, altamente concentrada na Grande Vitória, ao contrário, ampliou a sua participação, no mesmo período, de 7 para 38%. Esses números explicam, em parte, por que a população do interior, entre 1960 e 2000, passou de 85% para 54% em relação ao total do Estado, enquanto a da Região Metropolitana saltou de 15% para 46%. Foi esse o movimento da população capixaba nessas décadas que se seguiram à erradicação do café. Foi a busca de melhores oportunidades de vida que resultou nesse gigantesco êxodo rural.
Esse ciclo, que gerou uma brutal desigualdade regional, pode se agravar com os investimentos previstos para os próximos anos na área de petróleo e gás, que privilegiam principalmente o litoral. Com isso, estaria exacerbada a divisão do Estado em três territórios: o desenvolvido, próximo ao mar; um intermediário, que incluiria municípios como Colatina e Cachoeiro, e os da Região Serrana com índices médios de desenvolvimento; e uma terceira faixa de território, com as regiões próximas a Minas, com índices nordestinos de renda, analfabetismo e mortalidade infantil. Essa situação aponta para a necessidade de políticas públicas que tenham como objetivo central a desconcentração dos investimentos como forma de promover aquilo que o secretário da Agricultura, Ricardo Ferraço, chama de “inclusão territorial”.
Tudo indica que o governo do Estado está atento a essa necessidade. Há até mesmo sinais de que a interiorização do desenvolvimento será possível em curto prazo. Já em 2005 a agricultura recebeu recursos que representaram 4,8% do orçamento do Estado, mais do que o dobro do ano anterior. Isso representou melhoria da assistência técnica ao homem do campo, abertura e recuperação de estradas vicinais e expansão da rede de telefonia e energia elétrica. A iniciativa privada também fez investimentos importantes, inclusive na área da Educação, o que aumentou as condições para permanência dos jovens nas cidades onde nasceram. A população da Região Serrana, por exemplo, está aumentando junto com as oportunidades de trabalho e o nível de qualidade de vida.
Para 2006 as perspectivas são ainda melhores, e os investimentos privados em atividades produtivas devem chegar a R$ 320 milhões no interior do Estado. O maior dos investimentos previstos é a fábrica de café solúvel que a Nestlé irá construir em Colatina. Mas estão previstos também dois empreendimentos que vão fortalecer o arranjo produtivo de coco, uma fábrica de polpa de frutas e a ampliação da indústria de sucos, a construção de uma unidade industrial de abate de aves, que viabilizará o pólo de avicultura para corte, e novos investimentos no setor sucroalcooleiro do Norte do Estado. O governo, por seu lado, anuncia a ampliação da assistência técnica ao produtor rural, obras em 500 quilômetros de estradas vicinais e a adoção de uma política de preservação dos recursos hídricos.
A situação não é simples e nem fácil de ser revertida. Até porque há um grande déficit acumulado a ser recuperado. Mas é saudável constatar que estão sendo abertos alguns caminhos que podem levar o Estado a ter um modelo mais justo de crescimento econômico. Alcançar esse modelo é o maior desafio que se coloca hoje diante do Espírito Santo.