Esperança no novo ano

Depois da bonança de 2010, produtores rurais devem iniciar 2011 com cautela, mas ainda há os que acreditam que o agronegócio vai permanecer acelerado no decorrer dos próximos meses

Por: Estado de Minas

AGROPECUÁRIO
03/01/2011 
 
Depois da bonança de 2010, produtores rurais devem iniciar 2011 com cautela, mas ainda há os que acreditam que o agronegócio vai permanecer acelerado no decorrer dos próximos meses
 
Tetê Monteiro


O que esperar do agronegócio no país e em Minas neste novo ano? A pergunta divide especialistas do setor. Para alguns, 2011 deverá ser o ano da cautela depois da bonança de 2010. Para outros, os negócios no campo vão manter o mesmo ritmo dos últimos 365 dias. A unanimidade reina quando o assunto é desafios e gargalos. Infraestrutura, câmbio valorizado, questões tributárias e ambientais estão entre os principais pontos listados para que a agricultura e pecuária acelerem.


O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Roberto Simões, inicia a entrevista dando um conselho aos produtores: “Se fez boa safra em 2010, poupe um pouco. Entrar com o pé no acelerador em 2011, pode ser um projeto suicida”. Para ele, os investimentos devem ocorrer somente depois que clarearem os indicadores econômicos. “O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio mineiro certamente vai arrefecer.”


Para o diretor técnico da AgraFNP Consultoria em Agronégócio, José Vicente Ferraz, é preciso, antes de tudo, fazer ressalvas e considerar fatores imprevisíveis, como clima e crise econômica, nos efeitos do agronegócio neste ano. “À exceção disso (fatores imprevisíveis), devemos encarar 2011 com relativo otimismo”, diz. De acordo com o especialista, os preços devem continuar sustentados, o que trará para o produtor mais rentabilidade e boas receitas para o país. Segundo Ferraz, lucratividade para o produtor se transforma em investimento, entretanto, o empresário do campo deve manter os dois pés no chão e conter a euforia.


Já o superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez, ressalta o crescimento da participação do agronegócio mineiro no PIB nacional do setor. Segundo ele, em 2001, a fatia de Minas era de 9,5% do total brasileiro e, em 2010, o percentual atingiu 12,4%. “Em termos de PIB, o agronegócio de Minas deve registrar crescimento de cerca de 11%, como ocorreu em 2010, e deverá ser puxado por grãos e pecuária”, prevê.


Ele ressalta o desempenho da balança comercial. “O mercado internacional, valorizou nosso mercado interno.” Albanez também cita o crescimento de 70% da área plantada para a colheita de algodão deste ano, passando de 15 mil hectares para 25,5 mil. “No setor sucroalcooleiro, Minas passou a ocupar a segunda posição. E há possibilidade de crescimento neste ano”, completa.


CÂMBIO DURO Entre os desafios para o setor neste ano, os especialistas alertam para a questão cambial. “Se o câmbio continuar nesta marcha, será muito prejudicial para o agronegócio, que perde competitividade”, afirma o presidente da Faemg. Simões explica que, com o real valorizado frente ao dólar barato, a vantagem de o país ter a comida mais competitiva do mundo, vai por água abaixo. “Encarece e isso é ruim para todo setor produtivo.”


Simões também enumera que os produtores precisam ficar atentos às questões tributárias. “O governo Dilma Rousseff dá sinais de que seguirá num caminho razoável, mas ainda precisa haver mais estímulos para o setor produtivo”, diz. Para o diretor técnico da AgraFNPs, é preciso ficar atento aos gargalos externos. “Não estou otimista com a economia mundial. China e os países em desenvolvimento vão continuar crescendo, mas Estados Unidos, Japão e Europa devem permanecer com dificuldades e isso cria barreiras para expansão do consumo mundial”, explica.


Entre os gargalos internos, a infraestrutura é o principal destaque, conforme Ferraz. “Aumenta o custo Brasil e nos tira competitividade, o que é ainda mais reforçado pelo real valorizado”, declara. Ferraz afirma que o governo Dilma Rousseff já deu sinais de que pode controlar o câmbio e que o posicionamento do ministro Guido Mantega (Fazenda), em defender mais agressividade na política cambial, são fatores importantes e que poderiam influenciar positivamente no agronegócio do país. “Devido ao meu ceticismo, creio que Brasil não tem força suficiente para sustentar a competitividade. Com os EUA depreciando sua moeda e a China fazendo o mesmo, como concorrer com dois gigantes?”, pergunta e acrescenta: “E essas medidas devastadoras refletem fortemente no agronegócio”.


Recuperação foi palavra de ordem


Recuperação. Essa foi a palavra que marcou 2010, na opinião do presidente da Faemg, Roberto Simões. “Saímos de uma crise e fomos fortalecidos pelo crescimento do mercado interno e da renda e, em Minas, ainda com recordes de safras”, diz.


Em 2010, o ano, segundo ele, foi de safra cheia na cultura do café, e ainda houve a retomada do preço dos grãos. Entretanto, o mercado do leite, conforme Simões, foi anormal no ano passado. “Os preços subiram na safra e caíram na entressafra. O movimento foi o contrário”, diz, acrescentando que em outros setores, como sucroalcooleiro e pecuária, o estado se sobressaiu bem.


Para o coordenador da Assistência Técnica da Faemg, Pierre Santos Vilela, em 2010, o produtor recolocou no bolso o que perdeu com a crise de 2008. “Sem soltar foguete”, comenta. De acordo com ele, o café foi o principal motor do agronegócio mineiro, representando 21,2% da renda bruta do setor no ano passado. O grão sozinho deve contribuir com R$ 7,4 bilhões na estimativa geral de R$ 34,88 bilhões. Já o leite, conforme Vilela, corresponde por 19,4% da renda bruta do segmento.


O presidente da Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultra e Pecuária do Brasil (CAN), Breno Pereira de Mesquita, afirma que 2010 foi marcado pela reação do preço do grão – defasado há oito anos. Para ele, o valor da saca deve permanecer no mesmo patamar do ano passado, principalmente porque a safra de café no país será de ciclo baixo. Em 2009, foram 37 milhões de sacas e, em 2010, 48,1 milhões. “Certamente neste ano será inferior e, justamente por essa oferta em baixa, que afeta o estoque mundial, os preços devem permanecer estáveis.”


De acordo com ele, em Minas, o governo está estudando a criação de um fundo específico para o café. “Acredito que o governador Antonio Anastasia irá chamar representantes do setor para discutir o tema.” (TM) 

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