Dia 18 de julho de 1975. Uma data que dificilmente será esquecida pelos
paranaenses, em especial pelos agricultores. Naquela manhã, a “geada negra”
arrasou os cafezais do estado. A cultura, que até bem pouco tempo batia recordes
de produção, já havia sofrido com o fenômeno natural na década anterior, mas
nunca havia sido tão intenso a ponto de extinguir as plantações.
Segundo o economista e professor da UFPR, Demian Castro, “a geada foi uma
contingência climática desastrosa que apressou uma mudança de perfil já em curso
no estado.” Desde os anos 60, aumentavam os esforços para a industrialização no
Paraná, até então restrita ao beneficiamento primário de produtos como a madeira
e o próprio café. As diretrizes do governo militar, nos anos 70, apontavam para
a modernização da agricultura e para o aumento da oferta de alimentos. Neste
cenário, o café vinha perdendo força e sofrendo sucessivas quedas de preço. Era
o prenúncio da chamada revolução verde: “no vácuo do café, a soja avançou, e
isso aconteceu com fortes subsídios dos governos estadual e federal”, lembra o
professor.
Com a erradicação dos pés de café, a soja se expandiu. Outras culturas
pré-existentes como milho, trigo e arroz também passaram por um processo de
mecanização. O Paraná ganhou status de grande produtor agrícola, chamado de
“Celeiro do Brasil”. Mas a modernização, em especial pela soja, alterou o
retrato do campo de modo drástico e acelerado. “O café ocupava pequenas e médias
propriedades e muita mão de obra e a soja, áreas médias e grandes, com poucos
trabalhadores e muita mecanização”, analisa Demian Castro.
Neste período, o Estado inverteu uma trajetória de grande crescimento
demográfico. Segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico
e Social, IPARDES, mais de 2,5 milhões de pessoas abandonaram a área rural na
década de 70 e destas, 1,5 milhão deixaram o Estado. Houve uma intensa migração
para São Paulo, para áreas de expansão de fronteira agrícola no norte e
centro-oeste do País e para a Região Metropolitana de Curitiba.
No decorrer dos anos 70, o perfil do Paraná foi alterado também na área
industrial, com a instalação de empresas com modernas linhas de produção e novas
tecnologias, visando não só o mercado interno, mas o externo. Ganhou espaço a
produção de bens de capital, de bens duráveis e de produtos para a
agroindústria. Para Demian Castro, o Estado viveu um processo de modernização
bem sucedido: “Foi um período de grandes investimentos. As esferas de governo e
as áreas técnicas se articularam para o desenvolvimento. A agronomia e as
engenharias foram cruciais para melhorar produtos, produzir máquinas e
equipamentos, num período considerado um divisor de águas na trajetória do
estado”, conclui o professor.