No dia 18 de julho de 1975, uma forte geada dizimou todas as plantações de café do Paraná, o que provocou o êxodo de cerca de 2,6 milhões de pessoas.
No dia 18 de julho de 1975, uma forte geada dizimou todas as plantações de café do Paraná, o que provocou o êxodo de cerca de 2,6 milhões de pessoas.
Após a terrível geada negra, a cultura cafeeira do Estado do Paraná foi destruida.
Daniel Panobianco
Nos dias seguintes já começava a consolidar-se uma idéia de que o estrago seria duradouro. O governador Jayme Canet Júnior anunciava que o orçamento do Estado seria reduzido em 20% no ano seguinte.
O prognóstico dos especialistas era de que o prejuízo chegaria a Cr$ 600 milhões (o equivalente, pela cotação da época, a US$ 75 milhões), apenas nas lavouras de café. Outras culturas, como o trigo, também sofreram perdas importantes, de mais de 50%. Mas era o café que sustentava a economia do Paraná naquela época – uma situação que mudaria logo em seguida, já que os cafeicultores nunca mais se recuperariam desse impacto.
(Arquivo MIS/PR)
Em uma geração muita coisa pode mudar. Mas parece certo que a geada negra de 1975 foi um daqueles raros momentos em que um único fato é capaz de precipitar mudanças históricas. “É bem difícil imaginar como seria o Paraná hoje se a geada não tivesse ocorrido”, diz o agrônomo Judas Tadeu Grassi Mendes, que à época trabalhava na Secretaria de Agricultura do Estado e hoje é pró-reitor acadêmico do Centro Universitário FAE, em Curitiba. “O mais provável é que tudo o que aconteceu de 1975 para cá – a perda de importância da agricultura cafeeira, a supremacia da soja, o fortalecimento das cooperativas, a migração, a industrialização – tivesse lugar do mesmo jeito, mas não à mesma velocidade”, opina. Movida pelo vento frio da História, no entanto, a vida dos paranaenses nunca mais foi à mesma.
A geada negra de 1975, que mudou a história paranaense ao aniquilar a principal cultura agrícola existente no Estado, tornou a vida difícil para muita gente. Ao mesmo tempo, outros fatores surgiram para dar um empurrão extra. No oeste do Estado, a construção da usina de Itaipu obrigou pelo menos 8 mil agricultores a deixarem suas propriedades, gerando uma demanda por terra que não tinha como ser suprida na região. Ao mesmo tempo, culturas tradicionais no Estado, como o trigo e o algodão, sofriam com o clima e com a conjuntura econômica. Em escala menor, uma geada ocorrida em 1983 repetiu para os produtores de trigo o estrago que os cafeicultores haviam sentido oito anos antes.
Produtores de lugares como Cornélio Procópio, Loanda, Maringá, São Miguel do Iguaçu e Engenheiro Beltrão começaram a sonhar com as terras planas e baratas de que se falava, mais ao Norte. Começou então um movimento migratório impressionante, o que fez com que o Estado perdesse 13% da população ao longo dos anos 80. O Estado de Mato Grosso foi um dos principais destinos. A magnitude da migração pode ser avaliada pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2001, a Pnad mostrava a presença de 248 mil pessoas residentes em Mato Grosso que declaravam ter nascido no Paraná – o equivalente a 9,6% da população total, e o maior contingente de migrantes no Estado. A pesquisa também não deixa dúvidas sobre o que eles foram fazer por lá: 68% deles vivem em áreas rurais.
Não demorou muito e Rondônia era a terra de visão do futuro. A maioria das famílias que hoje residem em solo rondoniense, são frutos e/ou vitimas do caos que foi a onda de frio no Sul do Brasil entre as décadas de 70 e 80.
Como ocorre a geada:
Geada é o congelamento do orvalho na superfície e pode atingir diferentes intensidades. Para ocorrer este congelamento não é necessário que a temperatura no ar esteja igual ou menor que 0°C. Isto porque na superfície, a temperatura pode ser até 05°C menor que no ar, dependendo da perda radioativa que a superfície perde. A temperatura na superfície é chamada de temperatura na relva. Então, com temperaturas de até 05°C pode-se ocorrer geada. Quando se forma apenas uma camada de gelo na superfície chama-se de geada branca e quando a seiva das plantas congela chama-se de geada negra. Esse último tipo é a mais devastadora para as plantações, mas só ocorrem em cidades bem frias e no Brasil afeta apenas as cidades serranas do Sul. A geada negra muitas vezes se forma devido ao vento muito gelado que congela as plantas e nem sempre forma gelo na superfície em função de ocorrer durante qualquer hora do dia quando o ar esta mais seco. A geada branca atinge diferentes intensidades. É considerada como geada fraca quando a temperatura do ar está entre 03°C e 05°C, mais ou menos.
Moderada, quando a temperatura do ar está entre 01°C e 03°C, mais ou menos e geada forte, quando a temperatura do ar está menor ou igual a 0°C. As geadas fortes são as geadas negras. Porém já foram registradas geadas com temperaturas de 06°C, pois a temperatura na relva ficou até 07°C menor que no ar. Isto porque dependendo das condições de umidade relativa do ar a perda de temperatura na superfície é muito maior.
Até onde chegou o frio no Brasil:
Dados do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) apontam que na mesma época, uma seqüência assustadora de geadas ocorreram em toda a Região Sul, além dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, e até no sul e oeste de Mato Grosso e sul de Rondônia.
A potente onda de ar frio de 1975 atravessou completamente a linha do Equador levando queda de temperatura em Estados como Amazonas e Roraima.
Especialistas ficam atentos a cada inverno sobre o Brasil. A crescente forma da economia brasileira em uma nova conjuntura não só aferia o Sul, mas o País todo de uma maneira geral. Os preços dos produtos agrícolas, matérias-primas para a confecção de outros materiais, as exportações em si, que hoje rendem quase a metade do que o País produz. Se uma onda polar como a de 1975 ocorresse novamente no Brasil, fato este que jamais pode ser descartado, seria o caos sobre o caos.
Está ai a prova de que não tão somente no setor agrícola as influencias do tempo interferem na vida das pessoas. Boa parte da população sulina que reside em Rondônia e Mato Grosso podem ser considerados os “refugiados” da geada negra de 1975.
Com informações de Daniel Panobianco e dados do Jornal A Gazeta/Curitiba – IBGE – Ministério da Integração Nacional – INMET