ESPECIAL – 35 ANOS DA GEADA DE 1975 – Entenda o que foi a Geada Negra que dizimou todas as plantações de café do Paraná

No dia 18 de julho de 1975, uma forte geada dizimou todas as plantações de café do Paraná, o que provocou o êxodo de cerca de 2,6 milhões de pessoas.

17 de julho de 2010 | Sem comentários Especiais Mais Café
Por: NEWSCAFEICULTURA

No dia 18 de julho de 1975, uma forte geada dizimou todas as plantações de café do Paraná, o que provocou o êxodo de cerca de 2,6 milhões de pessoas.


Foto mostra a geada de 1975  que atingiu o Paraná
Após a terrível geada negra, a cultura cafeeira do Estado do Paraná foi destruida.



Daniel Panobianco 

 
Foi no amanhecer de 18 de junho de 1975, há 35 anos, que uma das geadas mais intensas do século passado reduziu a zero a área cultivada com café no Estado do Paraná. Em escala maior, o próprio Paraná nunca mais foi o mesmo. Aquela manhã fria, aliada a outros fatos ocorridos na mesma época, disparou uma série de transformações econômicas e demográficas que fizeram do Estado o que ele é hoje.

As estatísticas dão uma dimensão grandiosa dos eventos daquele dia. Na safra de 1975, cuja colheita já havia sido encerrada antes da geada, o Paraná havia colhido 10,2 milhões de sacas de café, 48% da produção brasileira. Era o maior centro mundial nessa cultura e tinha uma produtividade superior à média nacional. No ano seguinte, a produção foi de 3,8 mil sacas. Nenhum grão de café chegou a ser exportado e a participação paranaense na produção brasileira caiu para 0,1%.


Nos dias seguintes já começava a consolidar-se uma idéia de que o estrago seria duradouro. O governador Jayme Canet Júnior anunciava que o orçamento do Estado seria reduzido em 20% no ano seguinte.

O prognóstico dos especialistas era de que o prejuízo chegaria a Cr$ 600 milhões (o equivalente, pela cotação da época, a US$ 75 milhões), apenas nas lavouras de café. Outras culturas, como o trigo, também sofreram perdas importantes, de mais de 50%. Mas era o café que sustentava a economia do Paraná naquela época – uma situação que mudaria logo em seguida, já que os cafeicultores nunca mais se recuperariam desse impacto.


Arquivo MIS/PR / Jaime Canet sentiu na pele a Geada Negra, como governador e como produtor de café
Jaime Canet sentiu na pele a Geada Negra, como governador e como produtor de café
(Arquivo MIS/PR)



Em uma geração muita coisa pode mudar. Mas parece certo que a geada negra de 1975 foi um daqueles raros momentos em que um único fato é capaz de precipitar mudanças históricas. “É bem difícil imaginar como seria o Paraná hoje se a geada não tivesse ocorrido”, diz o agrônomo Judas Tadeu Grassi Mendes, que à época trabalhava na Secretaria de Agricultura do Estado e hoje é pró-reitor acadêmico do Centro Universitário FAE, em Curitiba. “O mais provável é que tudo o que aconteceu de 1975 para cá – a perda de importância da agricultura cafeeira, a supremacia da soja, o fortalecimento das cooperativas, a migração, a industrialização – tivesse lugar do mesmo jeito, mas não à mesma velocidade”, opina. Movida pelo vento frio da História, no entanto, a vida dos paranaenses nunca mais foi à mesma.

A geada negra de 1975, que mudou a história paranaense ao aniquilar a principal cultura agrícola existente no Estado, tornou a vida difícil para muita gente. Ao mesmo tempo, outros fatores surgiram para dar um empurrão extra. No oeste do Estado, a construção da usina de Itaipu obrigou pelo menos 8 mil agricultores a deixarem suas propriedades, gerando uma demanda por terra que não tinha como ser suprida na região. Ao mesmo tempo, culturas tradicionais no Estado, como o trigo e o algodão, sofriam com o clima e com a conjuntura econômica. Em escala menor, uma geada ocorrida em 1983 repetiu para os produtores de trigo o estrago que os cafeicultores haviam sentido oito anos antes.

Produtores de lugares como Cornélio Procópio, Loanda, Maringá, São Miguel do Iguaçu e Engenheiro Beltrão começaram a sonhar com as terras planas e baratas de que se falava, mais ao Norte. Começou então um movimento migratório impressionante, o que fez com que o Estado perdesse 13% da população ao longo dos anos 80. O Estado de Mato Grosso foi um dos principais destinos. A magnitude da migração pode ser avaliada pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2001, a Pnad mostrava a presença de 248 mil pessoas residentes em Mato Grosso que declaravam ter nascido no Paraná – o equivalente a 9,6% da população total, e o maior contingente de migrantes no Estado. A pesquisa também não deixa dúvidas sobre o que eles foram fazer por lá: 68% deles vivem em áreas rurais.

Não demorou muito e Rondônia era a terra de visão do futuro. A maioria das famílias que hoje residem em solo rondoniense, são frutos e/ou vitimas do caos que foi a onda de frio no Sul do Brasil entre as décadas de 70 e 80.


Como ocorre a geada:

Geada é o congelamento do orvalho na superfície e pode atingir diferentes intensidades. Para ocorrer este congelamento não é necessário que a temperatura no ar esteja igual ou menor que 0°C. Isto porque na superfície, a temperatura pode ser até 05°C menor que no ar, dependendo da perda radioativa que a superfície perde. A temperatura na superfície é chamada de temperatura na relva. Então, com temperaturas de até 05°C pode-se ocorrer geada. Quando se forma apenas uma camada de gelo na superfície chama-se de geada branca e quando a seiva das plantas congela chama-se de geada negra. Esse último tipo é a mais devastadora para as plantações, mas só ocorrem em cidades bem frias e no Brasil afeta apenas as cidades serranas do Sul. A geada negra muitas vezes se forma devido ao vento muito gelado que congela as plantas e nem sempre forma gelo na superfície em função de ocorrer durante qualquer hora do dia quando o ar esta mais seco. A geada branca atinge diferentes intensidades. É considerada como geada fraca quando a temperatura do ar está entre 03°C e 05°C, mais ou menos.

Moderada, quando a temperatura do ar está entre 01°C e 03°C, mais ou menos e geada forte, quando a temperatura do ar está menor ou igual a 0°C. As geadas fortes são as geadas negras. Porém já foram registradas geadas com temperaturas de 06°C, pois a temperatura na relva ficou até 07°C menor que no ar. Isto porque dependendo das condições de umidade relativa do ar a perda de temperatura na superfície é muito maior.


Até onde chegou o frio no Brasil:

Dados do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) apontam que na mesma época, uma seqüência assustadora de geadas ocorreram em toda a Região Sul, além dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, e até no sul e oeste de Mato Grosso e sul de Rondônia.


Imagens do satelite mostra onde atingiu a geada de 1975 que dizimou o café



A potente onda de ar frio de 1975 atravessou completamente a linha do Equador levando queda de temperatura em Estados como Amazonas e Roraima.

Especialistas ficam atentos a cada inverno sobre o Brasil. A crescente forma da economia brasileira em uma nova conjuntura não só aferia o Sul, mas o País todo de uma maneira geral. Os preços dos produtos agrícolas, matérias-primas para a confecção de outros materiais, as exportações em si, que hoje rendem quase a metade do que o País produz. Se uma onda polar como a de 1975 ocorresse novamente no Brasil, fato este que jamais pode ser descartado, seria o caos sobre o caos.

Está ai a prova de que não tão somente no setor agrícola as influencias do tempo interferem na vida das pessoas. Boa parte da população sulina que reside em Rondônia e Mato Grosso podem ser considerados os “refugiados” da geada negra de 1975.



Com informações de Daniel Panobianco e dados do Jornal A Gazeta/Curitiba – IBGE – Ministério da Integração Nacional – INMET

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