Francismar Lemes | Folha de Londrina
1975: Ninguém esquece
Uma única frase
sobreviveu ao sobrevôo do ex-governador Jaime Canet e do ex-presidente Ernesto
Geisel pelas plantações de café da região de Londrina, Maringá e Umuarama,
dizimadas pela geada de 1975, assistindo com tristeza a morte da esperança entre
os produtores.
‘‘Está tudo perdido’’, sentenciaram os dois governantes com os pés já
em terra firme, mas abalados pela constatação.
Naquele ano, as baixas temperaturas encantaram os curitibanos com a
neve, mas a geada assombrou os cafeicultores do norte ao queimar até os grãos
verdes de café.
Na sala do presidente do IBC, Camilo Calazans, o telex do presidente
do Centro do Comércio do Café, em Londrina, João Moreira, antecipou as
constatações pessimistas dos dois governantes que, no dia seguinte ao flagelo no
campo, desembarcaram em Londrina.
‘‘Transmite ao presidente que o pior aconteceu. Foi a pior geada
ocorrida nos últimos tempos, inclusive foi pior que a do ano de 1955. Já dei
volta em torno dos cafezais da região e, infelizmente, todos foram atingidos’’,
tentava exprimir na mensagem, a situação que paralisaria o mercado de café
físico no mundo, em que as bolsas estavam em alta, sendo que a de Nova York
abriu com 900 pontos para o mês e 200 para os meses futuros.
Em 1975, apesar dos efeitos negativos, a economia parananese já não
dependia tanto do café, com uma industrialização crescente. O trigo e o soja
ajudaram a amenizar os prejuízos.
As geadas já haviam protagonizado outras crises cafeeiras em 1953 e
1955, sendo que 80% da safra de 1954 foi comprometida pelo fenômeno.
Ao comentar os estragos de 1975, o presidente da Associação Paranaense
dos Cafeicultores, Justino Vilela, foi otimista: ‘‘Agora é a hora de todos os
cafeicultores se unirem para traçar o futuro da cafeicultura no Paraná’’,
prospectou. O cenário paranaense cultivado pela tecnologia nas décadas
seguintes, elevou os 63 mil hectares de café adensado para um total de 107 mil
hectares. A revolução permite que o Estado, mesmo com uma área menor nos anos
90, mantenha a produção em alta.
Fonte: http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=22070LINKCHMdt=20060527