Reportagem de VEJA mostra que o lobista Júlio
Fróes atua dentro do Ministério da Agricultura em causa própria e sob a tutela
da cúpula da pasta
Luciana Marques
Júlio
Froes, lobista com regalias no Ministério da Agricultura (DUTTI)
A oposição pretende entrar com um pedido de investigação na
Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a
atuação do lobista Júlio Fróes no Ministério da Agricultura.
Reportagem em VEJA desta semana revela que o “Doutor Júlio”, como é conhecido
pelos servidores, goza de privilégios. Tem acesso liberado à entrada privativa
do ministério e usa uma sala com computador, telefone e secretária na sobreloja
do prédio, onde está instalada a Comissão de Licitação – repartição que elabora
as concorrências que, só neste ano, deverão liberar 1,5 bilhão de reais da
pasta.
O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), diz que as informações merecem
apuração por parte do Ministério Público. “Temos que criar um cenário favorável
à investigação judiciária e encaminhar um requerimento à PGR para que realize os
procedimentos necessários”. O tucano disse que o pedido será enviado ao
procurador-geral após o depoimento do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, no
Senado na próxima quarta-feira.
Na ocasião os oposicionistas devem questionar o ministro sobre as novas
revelações na pasta. Eles cogitam ainda convocar o lobista Júlio Fróes para
prestar esclarecimentos sobre o caso na Comissão de Agricultura. “Esse é mais um
fato, dentro de um quadro geral de circunstâncias, que mostra que o governo está
completamente contaminado. É preciso investigar, temos que insistir nos
esclarecimentos para promover a punição dos culpados”, afirmou o líder do DEM no
Senado, Agripino Maia (RN).
O que diz a reportagem de VEJA — No ano passado,
acompanhado pelo secretário executivo Milton Ortolan – braço direito do
ministro Wagner Rossi – Fróes se instalou pela primeira vez na sala para
redigir um documento que justificava a contratação dos serviços da
Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Foram dois dias de trabalho, ao cabo dos quais o ministro Rossi
autorizou a contratação da entidade, sem licitação, com pagamentos de 9
milhões de reais. O representante da fundação beneficiada? O próprio Júlio
Froes. Meses mais tarde, o lobista convocou uma reunião com funcionários que o
haviam auxiliado na elaboração do documento. O encontro aconteceu na sala da
Assessoria Parlamentar, no oitavo andar do ministério. Cada um que chegava
recebia uma pasta. As pastas continham dinheiro – uma “agendinha”, no dizer do
lobista.
Froes também se apresenta como representante do Ministério da Agricultura.
Funcionários disseram a VEJA que, em certa ocasião, ele lhes contou como
pediu uma “gratificação” de 10% aos donos de uma gráfica – a Gráfica Brasil – em
troca da renovação de um contrato com o ministério. Mais ainda: ele
assegurou ter agido assim por instrução de Milton Ortolan. “Realmente essa
proposta nos foi feita por alguém que se apresentava em nome do ministro”, disse
à revista um dos responsáveis pela área comercial da empresa.
Em entrevista gravada, Júlio Fróes afirmou conhecer o ministro Wagner
Rossi e o secretário executivo Milton Ortolan. Enfilerou, em seguida, um
rosário de negações. Negou frequentar o prédio do ministério – onde foi flagrado
pela reportagem na última quarta-feira, como atesta uma série de fotos. Negou
ser representante da Fundasp, enquanto até o ministério diz que ele representou
a entidade. E, subitamente, indagou: “Eu tenho gravações que comprometem o
Ortolan. Quanto você me paga?”
Procurado por VEJA, Milton Ortolan negou ser amigo de Fróes – disse
que o conheceu no processo de contratação da Fundasp. O ministro Wagner
Rossi afirmou inicialmente nunca ter ouvido falar no lobista. Um dia depois, sua
assessoria informou, em nota, que o ministro o “cumprimentou uma vez”, em
2010.
Jucazinho – Na última quarta-feira, Rossi foi à
Câmara dos Deputados rebater as acusações de que sua pasta se transformou em uma
central de negócios, depois da publicação de reportagem publicada por VEJA com
entrevista do ex-diretor da Conab Oscar Jucá Neto, irmão do senador Romero Jucá.
Após cinco horas de audiência, o máximo que o ministro admitiu é que, na Conab,
há “imperfeições e não irregularidades”.
Nesta segunda-feira, o PDSB entrará com um pedido de convocação de
Jucazinho na Comissão de Agricultura. O objetivo é confrontar o depoimento de
Rossi com o do ex-diretor da Conab e levar o que for contraditório para que o
Ministério Público investigue. Em entrevista a VEJA, Jucazinho contou que
existe um consórcio entre o PMDB e o PTB para controlar a estrutura do
Ministério da Agricultura com o objetivo de arrecadar dinheiro.