Escândalo de lobby provoca primeira baixa na Agricultura

Por: Revista Veja

Governo


Secretário-executivo Milton Ortolan,
braço-direito do ministro Wagner Rossi e responsável por liberar a ação de
lobista na pasta, pediu demissão do cargo


Luciana Marques

 

Secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Milton Ortolan, pediu demissão após reportagem de VEJA
Secretário-executivo
do Ministério da Agricultura, Milton Ortolan, pediu demissão após reportagem de
VEJA (Dilvugação/Câmara Municipal de Americana)


O escândalo provocado após a revelação – por VEJA – da atuação do lobista Júlio Fróes no Ministério da
Agricultura
provocou a primeira baixa na pasta, neste sábado. O
secretário-executivo da Agricultura, Milton Ortolan, pediu demissão do cargo.
Como mostra reportagem de VEJA, Ortolan, braço direito do titular da pasta,
Wagner Rossi, foi quem liberou Fróes para atuar no ministério. Na Agricultura,
“Doutor Júlio”, como é conhecido pelos servidores, goza de privilégios. Tem
acesso liberado à entrada privativa do ministério e usa uma sala com computador,
telefone e secretária na sobreloja do prédio, onde está instalada a Comissão de
Licitação – repartição que elabora as concorrências que, só neste ano, deverão
liberar 1,5 bilhão de reais da pasta.


Em nota, Ortolan diz que apresentou um pedido de exoneração em “caráter
irrevogável” ao ministro Wagner Rossi. Ele negou ter se envolvido em
irregularidades e disse que em quarenta anos de serviço público jamais foi
acusado de conduta irregular. “Em relação ao senhor Júlio Fróes, informo
que o conheci por ocasião do início do processo de contratação da Fundação São
Paulo (PUC-SP). Chegou a mim como sendo um representante da PUC-SP. Desconheço a
mencionada reunião realizada na Assessoria Parlamentar do Ministério da
Agricultura para distribuição de propina”, disse em nota. “Tenho a consciência
tranquila e provarei minha inocência”, concluiu.


Carreira – Até 4 de março deste ano, Ortolan era chefe
de gabinete do ministro Wagner Rossi. Ele integra o Conselho Fiscal da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Conselho de Administração da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o conselho gestor do Instituto
Brasileiro do Algodão (IBA). 


O agora ex-secretário-executivo é administrador de empresas e já comandou a
Secretaria de Educação de Americana, cidade em que nasceu, no interior de São
Paulo. No governo federal, já passou pelo Ministério dos Transportes e pela
Empresa Brasileira de Turismo (Embratur).


O que diz a reportagem de VEJA – No ano passado, acompanhado
por Ortolan, Fróes se instalou pela primeira vez em uma sala do ministério para
redigir um documento que justificava a contratação dos serviços da Fundação São
Paulo (Fundasp), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Foram dois dias de trabalho, ao cabo dos quais o ministro Rossi autorizou a
contratação da entidade, sem licitação, com pagamentos de 9 milhões de reais. O
representante da fundação beneficiada? O próprio Júlio Froes. Meses mais tarde,
o lobista convocou uma reunião com funcionários que o haviam auxiliado na
elaboração do documento. O encontro aconteceu na sala da Assessoria Parlamentar,
no oitavo andar do ministério. Cada um que chegava recebia uma pasta. As pastas
continham dinheiro – uma “agendinha”, no dizer do lobista.
 
Froes
também se apresenta como representante do Ministério da Agricultura.
Funcionários disseram a VEJA que, em certa ocasião, ele lhes contou como pediu
uma “gratificação” de 10% aos donos de uma gráfica – a Gráfica Brasil – em troca
da renovação de um contrato com o ministério. Mais ainda: ele assegurou ter
agido assim por instrução de Milton Ortolan.  “Realmente essa proposta nos
foi feita por alguém que se apresentava em nome do ministro”, disse à revista um
dos responsáveis pela área comercial da empresa.
 
Em entrevista
gravada, Júlio Fróes afirmou conhecer o ministro Wagner Rossi e o secretário
executivo Milton Ortolan. Enfilerou, em seguida, um rosário de negações. Negou
frequentar o prédio do ministério – onde foi flagrado pela reportagem na última
quarta-feira, como atesta uma série de fotos. Negou ser representante da
Fundasp, enquanto até o ministério diz que ele representou a entidade. E,
subitamente, indagou: “Eu tenho gravações que comprometem o Ortolan. Quanto você
me paga?”
 
Procurado por VEJA,  o ministro Wagner Rossi afirmou
inicialmente nunca ter ouvido falar no lobista. Um dia depois, sua assessoria
informou, em nota, que o ministro o “cumprimentou uma vez”, em 2010. Neste
sábado, Rossi divulhou nota em que nega
ter qualquer envolvimento com Fróes
.

Investigação
A oposição pretende entrar com um
pedido de investigação na Procuradoria-Geral da República (PGR)
sobre a atuação do lobista no Ministério da Agricultura. O líder do
PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), diz que as informações merecem apuração por
parte do Ministério Público. “Temos que criar um cenário favorável à
investigação judiciária e encaminhar um requerimento à PGR para que realize os
procedimentos necessários”. O tucano disse que o pedido será enviado ao
procurador-geral após o depoimento do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, no
Senado na próxima quarta-feira.
 
Na ocasião os oposicionistas devem
questionar o ministro sobre as novas revelações na pasta. Eles cogitam ainda
convocar o lobista Júlio Fróes para prestar esclarecimentos sobre o caso na
Comissão de Agricultura.

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