ESCALADA DAS COMMODITIES PERDUROU EM MARÇO

As oito principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior encerraram março com cotações médias superiores às registradas em fevereiro em Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) e Chicago (soja, milho e trigo), as bolsas americanas que referenciam o comércio global desses produtos. Foi o segundo mês seguido de alta generalizada do grupo. Nos mercados de açúcar, café, suco, soja e milho, os reflexos adversos da falta de chuvas no Centro-Sul do Brasil sobre as ofertas domésticas voltaram a influenciar os ganhos.

 Na comparação com médias de dezembro de 2013, todas as variações também passaram a ser positivas. Em geral, o movimento tende a ser benéfico para as receitas das exportações brasileiras – exceto no caso trigo, já que o país é um dos maiores importadores do mundo do cereal -, mas poderá significar maior pressão dos alimentos nos índices inflacionários em um momento em que as oscilações de preços já preocupam o governo federal e incomodam consumidores.

 Sob intensa volatilidade, o café novamente registrou a maior valorização entre as oito commodities, conforme levantamento do Valor Data baseado nos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez). A espécie arábica fechou março com cotação média 21,84% superior à do mês anterior, no maior patamar desde fevereiro de 2012. E, pelo menos entre os fundos especulativos, as apostas abrem espaço para novas altas. Os gestores de recursos (“managed money”) encerraram a semana de 25 de março com uma posição líquida comprada de 43.416 contratos (entre futuros e opções) do grão em Nova York, 9% acima da semana anterior, conforme a Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC).

 Entre as “soft commodities” negociadas na bolsa nova-iorquina, a segunda maior valorização de março foi a do açúcar. A média da segunda posição da commodity subiu 7,28% sobre fevereiro. Como no café, os efeitos da seca no Centro-Sul brasileiro atraíram especuladores e estimularam a escalada. Segundo a CFTC, na semana encerrada em 25 de março, a posição líquida comprada dos fundos subiu para 114.438 contratos. Até meados de fevereiro, a previsão de um superávit mundial de quase 5 milhões de toneladas na safra internacional 2013/14 alimentava a expectativa de queda dos preços, mas, de lá até o dia 25, as intempéries no Brasil impulsionaram um aumento de mais de 400% no saldo líquido de compra da commodity.

 No mercado de algodão, a oferta restrita nos EUA, maior exportador global da fibra, também motivou um aumento semanal de 0,65% na posição líquida de compra dos fundos, para 68.016 contratos. O produto fechou março com cotação média 3,91% maior que a do mês anterior, e mesmo a projeção do USDA de aumento de 6% da área plantada nos EUA em 2014/15, divulgada ontem, não foi suficiente para provocar queda expressiva dos preços. Nessa comparação, o suco de laranja subiu 4,07%, ainda por conta da menor safra de laranja na Flórida em mais de duas décadas, e o cacau registrou valorização de 1,37%, novamente por causa das estimativas de déficit global na safra 2013/14.

 Em Chicago, as perdas provocadas pela seca no Sul do Brasil voltaram a influenciar sobretudo a alta da soja, mas no quadro de fundamentos dos grãos as atenções voltaram a se concentrar nos EUA. Ali, os baixos estoques da oleaginosa em uma época de demanda aquecida foram decisivos para a variação positiva de 5,10% na comparação entre os preços médios de março e fevereiro.

 É verdade que, conforme a CFTC, a posição líquida comprada dos fundos caiu 6,6% na semana até 25 de março, para 185.429 contratos. Isso ocorreu por conta da projeção de aumento da semeadura de soja no país em 2014/15, confirmada ontem pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que estimou alta de 6% na área plantada, que deve ser recorde. Mas os magros estoques ainda oferecem sustentação às cotações. Nesse contexto, muitos analistas afirmam que os preços ainda poderão subir mais antes de começar a retroceder.

 Em contrapartida, aumentou a crença dos fundos na elevação das cotações do milho em Chicago, em meio à expectativa, também confirmada ontem pelo USDA, de que os EUA vão reduzir a área da commodity na próxima safra. O saldo líquido comprado ficou em 239.297 contratos na semana até 25 de março, segundo a CFTC, 5% mais que na semana anterior. Conforme o USDA, a queda no plantio de milho nos EUA será de 4%, para o menor patamar desde o ciclo 2010/11. Nos cálculos do Valor Data, a segunda posição do milho fechou março com valor médio 7,68% superior ao de fevereiro. Por outro lado, os estoques americanos do produto, que em 1º de março estavam 30% superiores aos da mesma época de 2013, exercem pressão baixista sobre os preços.

 As preocupações com o tempo seco nas Grandes Planícies dos Estados Unidos também levaram os fundos que especulam nos mercados agrícolas a ampliarem significativamente as apostas na valorização do cereal em Chicago – onde o preço médio subiu 14,23% em março. Conforme as informações da CFTC, os gestores de recursos encerraram a semana de 25 de março com posição líquida comprada de 36.492 contratos de trigo brando na bolsa, alta de quase 52% em relação à semana anterior.

 No caso do trigo duro, o avanço foi de cerca de 16%, para um saldo comprado de 42.952 contratos. Ainda assim, previsões indicam a volta das chuvas às regiões americanas produtoras de trigo nos próximos dias, o que pode reduzir o apetite dos fundos pela commodity. Os estoques nos EUA em 1º de março, de acordo com o USDA, ajudam a explicar a sustentação. Em 1º de março, o patamar era 15% menor que no mesmo dia de 2013. Já a área plantada total naquele país, somadas todas as safras, será 1% menor em 2014/15 do que na temporada 2013/14.

Fonte: Valor Econômico

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