12-04-2010 – Mestre e doutora em Economia (USP), foi com o tema café que a professora e pesquisadora Maria Sylvia Macchione Saes construiu um currículo destacado em sistemas agroindustriais e ações coletivas. Conhecedora do mercado de café e dos desafios inerentes à atividade, enfatiza seus estudos na compreensão de mecanismos de comercialização e diferenciação de cafés especiais, bem como das relações entre os diferentes elos da cadeia. Professora da USP desde 2002 e presidente da Comissão de Pesquisa da Faculdade de Economia e Administração (FEA/USP), também participa de projetos de pesquisa que envolve o desempenho de redes organizacionais e práticas industriais. É autora da obra “O Agribusiness do Café”. Na última sexta-feira (09), Sylvia Saes participou de uma banca de qualificação de doutorado no Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de Lavras (DAE/UFLA). O Polo de Excelência do Café aproveitou a oportunidade para entrevistar a pesquisadora cosmopolita que é fascinada pelo café.
PEC/Café: O cafeicultor está sempre reclamando, e as crises estão cada vez menos espaçadas… Qual é o grande gargalo? É um erro do produtor ou uma característica do mercado?
Sylvia Saes: São várias questões. Nos últimos anos, o salário da mão de obra cresceu muito, o que é um bom indicativo. Porém, nós competimos com países onde a mão de obra é muito barata. Este ponto onera principalmente o produtor do Sul de Minas, pelas características de uma cafeicultura de montanha, altamente dependente de mão de obra. Este problema de concorrência é real. Outro problema histórico está no valor do café brasileiro cotado internacionalmente. A diversidade enorme de produtores e a falta de cuidado em algumas regiões no pós-colheita fazem com que a qualidade média do nosso café não seja muito boa. Certamente existem produtores que conseguem nichos de mercado diferenciados. Mas, de maneira geral, o Brasil produz um café com alto custo de produção, porém, é pouco valorizado perante outros países produtores, como os cafés lavados.
PEC/Café: Como desatar este nó?
Sylvia Saes: Ou a gente investe na melhoria da qualidade e mostra para o mercado internacional, ou os produtores de arábica de baixa qualidade continuarão a sofrer com a crise ou deixarão a atividade. É uma tristeza, já vimos muitas lavouras de café serem trocadas por eucalipto. Neste cenário, a certificação também pode ser uma alternativa para a diferenciação da qualidade…
PEC/Café: Depois de tantos estudos, pode-se dizer que a certificação traz sempre benefícios?
Sylvia Saes: Os estudos realmente demonstram que nem sempre há um ganho financeiro com a certificação. Mas, de certa forma, ela começa a ser um parâmetro. Hoje o importador prefere comprar pelo mesmo preço o produto certificado. Então a certificação acaba sendo um custo a mais que o produtor tem que internalizar. Num primeiro momento, ela se apresenta como diferencial, mas a medida que muitos outros passam a adotá-la, dependendo da certificação, deixa de ser um diferencial para ser quase uma exigência do mercado. Quanto a isto não dá pra fugir. Mas existe o lado bom. As certificações acabam por orientar o produtor na gestão da atividade, uma forma de administrar os custos, aperfeiçoar a produção, adotar práticas mais econômicas… Assim, tem-se o ônus de nem sempre o custo se reverter em aumento da renda, mas tem o benefício de organizar melhor a propriedade.
PEC/CAFÉ: Por esta ótica, o programa Certifica Minas Café, do Governo de Minas, está no caminho certo ao reduzir substancialmente os custos da certificação ao mesmo tempo em que reafirma seus benefícios?
Sylvia Saes: Realmente é uma política interessante e pode render um ótimo estudo de caso. Esta experiência pode mostrar a diferença dos produtores antes e após a certificação, sobretudo, com enfoque na gestão das propriedades…
PEC/Café: Existe uma dúvida clássica. Na crise, quem sofre mais, o pequeno ou o médio produtor?
Sylvia Saes: Acredito que o pequeno produtor tem maiores condições de sobrevida porque, em geral, ele deixa de contabilizar a mão de obra que na maioria das vezes é familiar. Ele consegue gerir melhor seu custo em épocas de crise. Já o médio produtor tem que arcar com a mão de obra e tem menos flexibilidade para redução de custos, sobretudo na colheita. A solução para o médio produtor seria evitar a monocultivo. Ele deveria escolher a melhor área para o plantio do café e investir em qualidade, enquanto em outras áreas deveria diversificar conforme a aptidão da região.
PEC/Café: Você é uma pesquisadora que tem o currículo marcado por estudos em café… São dezenas de artigos, projetos de pesquisa, livros sobre café. Como este tema surgiu em sua vida?
Sylvia Saes: Estava no doutorado, (Universidade de São Paulo – USP), sem orientador e sem tema de estudo. Na época, a professora Elizabeth Farina me convidou para participar de uma pesquisa da ABIC sobre a cadeia do café. Entrei e não sai mais…fiz o doutorado e a livre docência sobre o café. O tema é cativante, as pessoas são interessantes, existe inovação, diferentes hábitos de consumo…
PEC/Café: Uma tendência para o agronegócio café?
Sylvia Saes: Eu acho que a atividade vai passar por uma readequação. Produtores com custos elevados e baixa produção passarão por uma seleção natural, acompanhando o desenvolvimento da economia. O momento é de entender o que está acontecendo com o mercado para se adaptar a ele. Produtores que não se adaptarem a este contexto tecnológico, em muitos casos, terão que sair da atividade. As informações partem do site http://excelenciacafe.simi.org.br/