Publicação: 03/06/07
Para o novo secretário do setor, Pedro Brito, tradição de nomeações políticas para comando portuário tem os dias contados
Brito entregará a Lula um diagnóstico da situação dos portos e novo modelo de gestão, que prevê troca de comando das Docas
CLÁUDIA TREVISAN DA REPORTAGEM LOCAL
A arraigada tradição de nomeações políticas para a direção dos portos brasileiros está com os dias contados, a julgar pelas declarações do secretário de Portos, Pedro Brito, que tomou posse há menos de um mês. Com status de ministro, Brito afirma que até o fim deste mês entregará ao presidente o diagnóstico da situação dos portos e um novo modelo de gestão, que implicará a troca do comando das sete companhias Docas.
“O presidente quer profissionais, executivos da área portuária”, afirmou Brito em entrevista à Folha na quinta-feira.
A nomeação política gerou problemas crônicos nos portos, decorrentes da gestão ineficiente. Entre eles, um passivo em ações trabalhistas que chega a R$ 800 milhões no porto de Santos e a R$ 400 milhões no do Rio de Janeiro. Somados, os valores equivalem a quase metade dos R$ 2,7 bilhões previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para a infra-estrutura portuária nos próximos quatro anos. A seguir, os principais trechos da entrevista.
FOLHA – Qual é o diagnóstico da situação dos portos brasileiros?
PEDRO BRITO – O diagnóstico revela problemas que perpassam a operação de todos os portos. O mais grave é o dos acessos rodoviários e ferroviários, que implica filas, atrasos nos embarques e desembarques e congestionamento de navios. Em Santos, por exemplo, temos de ter estacionamentos, com sistemas sofisticados de controle, que permitam que os caminhões só sejam despachados para o porto na hora em que o navio estiver pronto para carregar ou descarregar.
FOLHA – Quanto tempo demora para resolver a questão do acesso rodoviário e dos estacionamentos?
BRITO – No caso de Santos, a empresa que controla o acesso da rodovia Anchieta já está montando um grande parque de estacionamento que permitirá que os caminhões fiquem esperando, fazendo com que desapareçam as filas.
FOLHA – Mas em quanto tempo isso estaria resolvido?
BRITO – Até o fim do ano poderemos ter uma solução em Santos, que é o caso mais grave. A prioridade é Santos, que detém 30% do fluxo de comércio internacional, em termos de valor. Outra questão são os acessos ferroviários. Em Santos, isso é mais complexo pelo tamanho da cidade de São Paulo, que fica muito próxima ao porto. Não podemos permitir que trens ou caminhões que venham para Santos passem por dentro de São Paulo. Por si só, isso já é um adicional de custo incompatível com a concorrência internacional. Daí o conceito do Rodoanel e do Ferroanel.
FOLHA – Qual o prazo para a conclusão do Rodoanel e do Ferroanel? BRITO – A expectativa é que até 2010 estejam prontas a parte sul do Rodoanel e do Ferroanel, que atendem o porto. Para que o porto possa suportar as expansões previstas, mudanças importantes têm de ser feitas no canal. Em primeiro lugar, é preciso aprofundá-lo -ele tem um calado de 12 a 13 metros e precisa de pelo menos 15 metros. Também é preciso alargar o canal. Na largura atual, ele só tem uma mão. Ou o navio entra ou o navio sai, um de cada vez.
Para secretário, “Docas terão de ser lucrativas” DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a seguir a continuação da entrevista com o secretário de Portos, Pedro Brito.
FOLHA – O problema dos acessos e da falta de dragagem nos portos existem há muito tempo. Por que não se fez nada antes?
BRITO – Não é que não se fez nada. Fez-se, mas pouco em comparação às necessidades da expansão do comércio internacional. Quando o presidente decide criar uma secretaria, com status de ministério, especializada na questão portuária, ele está transmitindo uma segurança para os investidores.
FOLHA – A nomeação política da direção das companhias Docas é um dos maiores problemas dos portos brasileiros. Isso vai mudar?
BRITO – A determinação do presidente é que, depois do diagnóstico que estamos fazendo em todas as companhias Docas, tenhamos um plano de mudança do modelo de gestão. O presidente quer profissionais, executivos da área portuária. Não podemos fazer nenhuma mudança dessa importância se não contarmos na direção dos portos com pessoas competentes. As companhias já têm pessoal técnico competente atuando no dia-a-dia. Precisamos estimular essas pessoas para o trabalho, e não há melhor estímulo do que dar a essas companhias cabeças do mercado, que entendam do negócio.
FOLHA – Quantos cargos de nomeação política existem nos portos?
BRITO – Todos os cargos de direção são de nomeação política. A determinação do presidente Lula é que isso acabe e que tenhamos nomeações técnicas.
FOLHA – Quando serão feitas essas mudanças? Os usuários dizem que a indefinição sobre o comando das companhias está provocando paralisia na administração dos portos.
BRITO – Nós vamos concluir rapidamente um diagnóstico sobre as companhias Docas, que são sete. Pretendemos concluir o diagnóstico até o fim deste mês de maio, início de junho…
FOLHA – O mês de maio acaba hoje [quinta-feira, dia da entrevista].
BRITO – Deste mês de junho. Se possível, antes do fim de junho apresentaremos ao presidente o diagnóstico completo, para que ele possa tomar uma decisão em relação a esse novo modelo de gestão, que já está definido quanto a seu conceito.
FOLHA – Qual o valor do passivo trabalhista das companhias Docas?
BRITO – Os dois maiores são Santos e Rio de Janeiro. O de Santos está na casa dos R$ 800 milhões e o do Rio de Janeiro, por volta de metade disso. Esse é um problema grave porque estrangula a capacidade de investimento das companhias. No novo modelo de gestão, exigiremos que as companhias sejam lucrativas, gerando caixa para investimento próprio.
FOLHA – Os recursos que hoje entram no caixa das Companhias Docas acabam arrestados para o pagamento de débitos trabalhistas e não são usados na dragagem. Como garantir que o dinheiro será destinado à infra-estrutura do porto?
BRITO – Uma das providências urgentes é resolver a questão dos passivos. Já montamos um grupo de trabalho com Casa Civil, Secretaria de Portos, Planejamento, Fazenda e Advocacia Geral da União, para encontrar uma solução, tirar esses passivos das companhias, para que elas tenham capacidade de investimento e não tenham o seu fluxo de caixa arrestado.
FOLHA – Ter portos modernos, que funcionem e sejam competitivos não será uma coisa para agora.
BRITO – Acho que os portos brasileiros já são competitivos e modernos. O que precisamos é acelerar o processo de contínua modernização, porque o mundo avança cada vez mais. Não temos tempo porque as nossas cargas estão crescendo.
FOLHA – A melhoria viria em 2010?
BRITO – Estamos trabalhando com essa data, de 2010.