Entrevista com o presidente Gilson Ximenes

16 de setembro de 2010 | Sem comentários Entrevistas Mais Café

Gazeta Rural de Varginha | CNC
15/09/2010


Gilson Ximenes, presidente pelo quinto biênio do Conselho Nacional do Café – CNC, fala sobre as vantagens de manter o café do Brasil na bolsa americana. Respondendo por 24 cooperativas associadas, as quais representam 50% da produção brasileira, ele também aborda as dificuldades e desafios da cafeicultura.
 
Gazeta Rural: Qual o papel do CNC junto a cafeicultores e cooperativas?
Gilson Ximenes: O Conselho Nacional do Café tem como objetivo e missão a defesa e a promoção dos direitos e interesses dos produtores dos “Cafés do Brasil”, principalmente no que diz respeito às responsabilidades sociais, ambientas e econômicas.
 
GR: Qual sua opinião sobre a qualidade do café brasileiro, tanto o que é exportado quanto aquele consumido no País?
GX: É extremamente necessário frisar que o café brasileiro, com toda a sua heterogeneidade, é o melhor do mundo. Nosso café é o mais aceito nos dois hemisférios, faltando-nos, apenas, trabalhar nesse sentido para que, principalmente, europeus, norte-americanos e asiáticos tomem nosso café, com a ciência de que é produzido no Brasil, e não com o rótulo de outras nações concorrentes.
 
GR: Hoje o produtor já consegue vender a saca de café a preço melhor. Qual seria a próxima conquista?
GX: Tem que se saber a que se refere esse “preço melhor”, pois ainda há muitos produtores que não conseguem cobrir seus custos com os atuais níveis de mercado. Sem dúvida uma repactuação das dívidas é fundamental, mas não devemos deixar de lado aspectos como geração de renda e os demais que foquem nas sustentabilidades ambiental, social e econômica dos cafeicultores.
 
GR: Qual seria hoje o maior desafio e a dificuldade do produtor rural?
GX: Em virtude da falta de políticas públicas e estratégicas por parte dos últimos governos federais, podemos dizer que o maior desafio do produtor rural é exatamente o que ele tem feito nesses anos recém-passados, ou seja, permanecido na atividade e elevado sua produção, mas sem ter o retorno financeiro merecido. Não há como especificar a maior dificuldade, pois há uma lista delas, tais quais: passivo financeiro acumulado, falta de renda, inexistência de planos governamentais específicos, etc.
 
GR: O que envolveria essa política pública?
GX: Essa política deve ser anticíclica, de maneira que o produtor não fique sujeito às oscilações de preço, conforme a alternância de safras grandes e pequenas, dentro do ciclo bienal, característico das nossas lavouras de arábica. Instrumentos e ferramentas para isso já existem, o que falta é serem implementados.
 
GR: Quanto aos recursos para a agricultura, os financiamentos, o que você acha que deveria ser melhorado?
GX: Primeiramente, deveríamos ter mais recursos para a agricultura, uma vez que a disponibilidade atual de capital não atende às necessidades do setor agropecuário brasileiro. O cobertor é curto. O fator a ser melhorado, portanto, é o aumento da disponibilidade de verba. E, no caso específico da cafeicultura, a liberação dos recursos do Funcafé nos prazos corretos, de forma que o produtor tenha acesso ao dinheiro nas épocas exatas para trabalhar e poder comercializar seu café em épocas de preços remuneradores.
 
GR: Afinal, a bolsa de Nova Iorque é ou não um bom negócio para o café do Brasil?
GX: A inclusão do café brasileiro no contrato “C” da Bolsa de Nova Iorque (Ice Futures US) é positiva, pois é uma forma de se preservar a formação de preço do arábica – natural ou despolpado –, por intermédio do contrato “C”, interrompendo o não vínculo observado atualmente entre os preços do mercado futuro e do mercado físico, fato que praticamente trava o interesse de comércio entre produtores e importadores, bem como as negociações de longo prazo, devido à inviabilização do chamado sistema “price to be fixed”.
 
GR: Qual a contribuição da Embrapa Café para o desenvolvimento e o crescimento do setor cafeeiro?
GX: Criada em 30 de agosto de 1999, a Embrapa Café acaba de comemorar 11 anos, mas, em verdade, quem tem que comemorar somos nós. Gestora do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café) e constituída por diversas instituições de pesquisa, a Embrapa Café é a principal responsável pelo avanço técnico-científico da cafeicultura brasileira, sendo um de seus principais frutos o “Projeto Genoma”, que desvendou o código genético do café e nos permitiu estar na vanguarda, sempre buscando variedades melhores e mais resistentes a pragas, doenças e adversidades climáticas.
 
GR: Qual a importância da certificação do café?
GX: Há diversas certificações no mercado e cada qual segue modelos díspares, porém agregadores. O importante, contudo, é destacar que elas são formas que o produtor pode utilizar desde que não elevem os custos e gerem o devido retorno, para angariar receita na atividade. Além disso, a certificação também pode ser um importante passo para que o restante do mundo saiba que o café brasileiro está presente em quase todas as xícaras de café consumidas.
 
GR: A tecnologia é uma aliada da cafeicultura?
GX: A tecnologia deve ser vista como aliada em todos os setores, pois foi com a sua implantação que a cafeicultura conseguiu elevar a produtividade e atender às demandas interna e externa.
 
GR: As várias formas de ingerir café, tal como cappuccino e gelado, são tendências que podem ofuscar o famoso cafezinho?
GX: As diferentes formas de ingestão da bebida não se interferem ou se prejudicam. O que se deve destacar é a positividade do crescimento constante do consumo, fator que nos garante demanda para o que produzimos.
 
GR: Se países também produtores de café, como a Colômbia, decidirem ampliar a área produtiva, podem se tornar concorrentes equiparados ao Brasil?
GX: Alguns países “concorrentes” já vêm desenvolvendo programas de incentivo à plantação de café, ampliando área e/ou produtividade, e a Colômbia é o principal deles. Nossos vizinhos almejam retornar aos seus índices anteriores de produção, projetando chegar a 15 milhões de sacas já em 2012/13. Ainda assim, notamos que, em volume, essa quantidade representa apenas a terça parte das safras médias brasileiras. Mas o que deve ser observado, aliado a esses crescimentos de safra em outras nações sugeridos, é o equilíbrio entre oferta e demanda, fundamento que norteia as cotações. Portanto, se a oferta crescer em escala igual à que cresce o consumo, os preços devem ser interessantes. Em relação ao diferencial do Brasil, podemos destacar a heterogeneidade de variedades que possuímos, atendendo aos mais diversos gostos e paladares, assim como o fato de puxarmos a fila dos investimentos em pesquisa.
 
GR: Qual será o futuro da cafeicultura no Brasil?
GX: A cafeicultura nacional é pujante e assim deve continuar no futuro. Apresentando índices significativos de produtividade e, consequentemente, de produção. Mantemos a esperança de que nossos governantes terão mais atenção ao café e, assim, voltemos a ter uma cafeicultura rentável e que gere empregos e desenvolvimento onde exista.

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