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24 de maio – Dia Nacional do Café
Além de prazeroso e de significar uma pausa gostosa no dia-a-dia, quebrando a rotina profissional ou doméstica, saborear de três a quatro xícaras de café diariamente pode trazer inúmeros benefícios para a saúde de jovens e adultos, além de ajudar na prevenção de várias doenças e problemas.
É sobre isso que fala, nesta entrevista, o Dr. Darcy Lima. Médico, pesquisador, professor do Instituto de Neurologia da UFRJ e coordenador científico da área de Café e Saúde da ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café, o Dr. Darcy pesquisa há mais de uma década os benefícios do café na saúde, inclusive participando de estudos em parceria com centros médicos como a Universidade de Vanderbilt (EUA) e o Instituto do Coração, em São Paulo. Saiba mais também no site www.cafeesaude.com.br
P – Quais os benefícios do café?
Dr. Darcy Lima – É importante lembrar que o café não é remédio, isto é, não cura doenças. Entretanto, pode ser um agente a mais que ajuda na prevenção de vários males e problemas. Pesquisas médicas mostram que o café pode prevenir a depressão e o suicídio, mas pacientes com esse sintoma e idéias suicidas precisam de atendimento médico especializado, pela gravidade da doença, que é perfeitamente tratável com grande sucesso com medicamentos e terapia cognitivo-comportamental.
Pacientes alcoólatras também precisam de tratamento médico e, nesse caso, o consumo de café ajuda a manter a remissão do alcoolismo, evitando um grave problema desse mal, a cirrose. O café melhora a atenção, concentração e o aprendizado escolar, sendo a bebida mais recomendada para estudantes de todas as idades, em casa e na merenda escolar.
Estudos mostram também que o café pode atuar na prevenção do câncer de cólon e reto, doença de Parkinson e outras conforme a lista abaixo:
Efeitos atribuídos ao café
– Café aumenta o estado de alerta (vigília)
– Café ajuda e estimula o córtex pré-frontal
– Café ajuda a memória a curto prazo ( aprendizado)
– Os anti-oxidantes do café (ácidos clorogênicos) ajudam na remoção dos radicais livres reduzindo o estresse oxidativo nos tecidos
– Café reduz o risco de alcoolismo e cirrose hepática
– Café reduz o risco de desenvolvimento de diabetes do adulto
– Café previne cálculo da vesícula biliar
– O consumo de café esta inversamente relacionado com o desenvolvimento de
doenças neuro-degenerativas como Parkinson e Alzheimer
– O café protege contra o câncer de cólon, fígado, mama , pele e outros
– O café possui atividade anti-inflamatória e protetora sobre o sistema cardiovascular
– O café possui atividade antagonista opióide (bloqueia o desejo por álcool, tabaco, drogas)
– O café possui um discreto efeito anti-obesidade
– O café aumenta a performance durante o exercício prolongado (em atletas
treinados)
– O café ajuda no alívio dos sintomas de asma
– O café ajuda a prevenir a depressão e o suicídio
P – A cafeína pode ser considerada uma droga que vicia? Quais os problemas que pode causar?
Dr. Darcy Lima – A cafeína não é uma droga e nem causa vício. Por isto foi excluída da Lista de Substancias proibidas pelo Comitê Olímpico e pela Agência Mundial Anti-Drogas – wada ( www.wada.org) . Vício é uma dependência prejudicial ao organismo, como o álcool, a morfina. O café não possui apenas cafeína e o seu consumo é um hábito saudável como o exercício. Sua falta – ou seu excesso – é sentida pelo organismo.
A maioria das pessoas que toma café diariamente ignora quais são as substâncias que estão presentes no café e pensa que o café contém apenas ou, principalmente, cafeína. Grande engano! O café possui apenas de 1% a 2,5 % de cafeína e diversas outras substâncias em maior quantidade. E estas outras substâncias podem até ser mais importantes do que a cafeína para o organismo humano. O grão de café (café verde) possui Minerais, como potássio (K), magnésio (Mg), cálcio (Ca), sódio (Na), ferro (Fe) e manganês (Mn); Aminoácidos como alanina, ácido glutâmico, glicina, histidina e isoleucina; Lipídeos como triglicerídeos e ácidos graxos livres;e Açúcares como sucrose, glicose, frutose, arabinose, galactose, maltose e polissacarídeos.
Adicionalmente, o café também possui uma vitamina do complexo B, a niacina (vitamina B3 ou vitamina PP de “Pelagra Preventing” do inglês) e, em maior quantidade que todos os demais componentes, os ácidos clorogênicos, na proporção de 7% a 10 %, isto é, 3 a 5 vezes mais que a cafeína. Após a torra, os ácidos clorogênicos formam diversos quinídeos que possuem vários efeitos farmacológicos, como aumento da captação de glicose (efeito antidiabético), ação antagonista opióide (efeito antialcoolismo) e inibidora da recaptação da adenosina (efeito benéfico na microcirculação).
P – A cafeína foi vinculada ao câncer, pressão alta, úlceras, problemas
cardíacos, defeitos de nascimento e condições nervosas. Mas a
maioria dos resultados desses estudos não confirmam as alegações. Como
proceder diante dessas afirmações?
Dr. Darcy Lima – Devido ao grande consumo de bebidas com cafeína, e à ocorrência crescente de alguns tipos de câncer, chegou-se a pensar anteriormente que essa substância pudesse ser incluída na lista de produtos cancerígenos. Na década passada, a cafeína foi vinculada a uma maior ocorrência de câncer das vias urinárias inferiores, como câncer renal ou da bexiga. Outros estudos levantaram a suspeita de que o consumo de bebidas com cafeína poderia ser responsável pelo aparecimento do câncer de pâncreas.
Entretanto, foi confirmado mais tarde que todos os estudos incriminadores da cafeína eram inadequados, incompletos e insatisfatórios, não sendo possível, na atualidade, atribuir relação alguma entre a ocorrência de qualquer tipo de câncer e a ingestão de bebidas que contém cafeína, devido à realização recente de estudos mais criteriosos, onde foram evidenciados a total segurança e ausência de riscos para o consumidor de cafeína e um possível temor de desenvolver qualquer tipo de câncer.
Uma extensa revisão da literatura permite afirmar de forma definitiva que NÃO existem bases científicas para associar o consumo de cafeína com a doença fibrocística da mama, apesar da ignorância de muitas pessoas ainda aceitarem este
equívoco como verdadeiro. Modernos estudos epidemiológicos sugerem que o consumo moderado e regular de café (que não possui apenas cafeína) possam
atuar na prevenção do câncer de cólon, fígado, próstata e mama.
P – Se tomado em altas doses, o café pode provocar algum mal?
Dr. Darcy Lima – Tudo em excesso pode fazer mal. As críticas ao consumo de cafeína em quantidades moderadas são completamente infundadas, mas ainda arraigadas ao limitado conhecimento de pessoas desinformadas. Em quantidades moderadas – o equivalente a 400-500 mg/dia – dose de até 4 xícaras – a cafeína não é prejudicial à saúde humana, desde a gestação até o final da vida.
A administração aguda de cafeína causa um aumento modesto da pressão sangüínea arterial, dos níveis de catecolaminas, da atividade de renina plasmática, dos níveis de ácidos graxos livres, da produção de urina e da secreção gástrica. Ela altera o espectro eletroencefalográfico, o humor e o padrão do sono em voluntários normais. O consumo crônico de cafeína não possui efeitos na pressão sangüínea, nos níveis plasmáticos de catecolaminas, na atividade de renina plasmática, na concentração de colesterol no soro, nos níveis de glicose no sangue ou na produção de urina.
A cafeína não está associada com o infarto do miocárdio, nem com o câncer do trato genitourinário inferior ou do pâncreas; com teratogenicidade ou doença fibrocística da mama. O papel da cafeína na produção de arritmias cardíacas ou de úlcera gástrica ou duodenal em pessoas normais também não foi confirmado, não havendo evidências de que a cafeína seja prejudicial ao ser humano sadio.
Apesar do consumo de café e chá ser antigo, as pesquisas que avaliam os efeitos do café no homem são recentes. Cerca de uma centena de produtos químicos foi identificada no café, sendo algumas, como o ácido clorogênico, até mais abundantes que a cafeína. A cafeína é o elemento do café mais estudado até o momento, e o principal responsável pelas propriedades estimulantes que deram a popularidade à bebida. Mas seu consumo moderado não é prejudicial ao organismo.
P – O café seria restrito em que casos?
Dr. Darcy Lima – O café é uma bebida saudável para pessoas saudáveis. Doenças como úlcera, gastrite, arritmias, ansiedade e pânico, podem ser contra-indicações para o consumo de café. Embora o café seja um produto natural e não cause doenças em pessoas saudáveis quando consumido de forma diária e moderada (até 4 xícaras grandes para adultos e a metade da dose para crianças, preferencialmente com leite), o café pode causar efeitos indesejáveis em algumas pessoas. Existem alguns que naturalmente não gostam de café, uma questão pessoal, mas também existem pessoas normais e saudáveis que são mais sensíveis aos efeitos de um dos compostos do café, a cafeína, as quais podem apresentar ansiedade, tremores, insônia e mesmo um quadro de pânico.
O café quando tomado a noite pode prejudicar o sono da maioria das pessoas, sendo por isto uma bebida diurna. O café consumido moderadamente (4 xícaras diárias) não causa doenças em pessoas normais e saudáveis, da infância à velhice. Mas pessoas que possuem doenças – como gastrite, doença do refluxo gastroesofágico, úlcera péptica, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, palpitações devido arritmias cardíacas, hipertensão arterial ou doença isquêmica do coração – devem ter cuidado no consumo de café, pois ele pode agravar os sintomas ou a
doença, principalmente se consumido em excesso. Por isto, toda pessoa que possua qualquer doença mental, cardíaca, gástrica ou outras, deve consumir café com moderação, e preferencialmente após ouvir os conselhos de seu médico. Caso sinta qualquer intolerância ao café, deve parar de consumi-lo.
P– Pode-se dizer, então, que o consumo de café é benéfico à saúde?
R – O consumo diário e moderado de café (4 xícaras diárias ) não causa nenhum
prejuízo ao organismo humano saudável e ajuda na prevenção de um grande número de doenças. Por isto, o café é a mais natural e saudável das bebidas disponíveis para consumo humano.