O cafezinho nosso de cada dia
Bebida não se rende a etnias, idades ou religiões. Tanta popularidade divide opiniões, há quem goste fraca, forte, no coador de pano… |
Nany Fadil Da Agência BOM DIA |
Se para os ingleses o “chá das cinco” é uma tradição intocável, no Brasil é o café que rega encontros, discussões sobre política, assinatura de contratos e as situações mais banais do cotidiano. Quem nunca ouviu algo do tipo: passa lá em casa para tomar um cafezinho? Essa popularidade toda também gera discussões. Há quem goste do café forte e encorpado. Outros preferem o expresso tipo carioca. Tem ainda o aguado americano ou o ristreto (curto) europeu. Para alguns, o melhor mesmo é o café passado no coador de pano, uma peça considerada jurássica nos tempos atuais. A vendedora Kátia Tonon, 35 anos, por exemplo, não dispensa a bebida feita à moda antiga. E, de preferência, servida no bom e velho bule de louça ou alumínio. “É mais suave e saboroso do que os expressos. Para mim, esse é o café ideal”. O gerente de vendas Celso Luís de Jesus, 47, compartilha do mesmo gosto. “Sempre que chego numa cidade, logo procuro um bar ou cafeteria que usa o coador de pano. O sabor é diferente e o gosto lembra a casa da minha avó.” O líquido negro é tomado por pessoas de praticamente todas as idades, etnias, crenças ou religiões. Não tem fronteiras. Apenas variações para cada paladar. A médica Lúcia Faria, 42, toma quatro xícaras de café por dia. Sempre expresso. Além de gostar da bebida mais encorpada, Lúcia não a adoça. “Prefiro o expresso pela intensidade do sabor. Não vou estragar isso colocando açúcar ou adoçante.” Um de seus programas favoritos é procurar um lugar agradável para tomar café com o filho. “Temos apenas algumas horas da tarde de quinta-feira para ficarmos juntos. Tomar um café com ele é muito bom. A gente coloca o papo em dia.” Com os colegas de trabalho é a mesma coisa. “Faço a reunião mensal em uma cafeteria. A conversa fica mais descontraída.” Sobe consumo de qualidade O consumo de café de alta qualidade subiu 40% no último ano no Brasil. Levantamento da Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café), mostra que, em 2007, o consumo geral no país cresceu 5%. O índice por habitante teve uma evolução de 3,5%, marcando 74 litros consumidos por pessoa. Segundo especialistas, o que se percebe é um certo descolamento do perfil social elevado como pré-requisito para o consumo. Com o tempo, os apreciadores passam a buscar uma bebida com preparação mais qualificada. O crescimento de 40% no consumo do café gourmet em um ano, mostra que a imagem de produto de elite, de anos atrás, está caindo por terra. A produção total brasileira de café em 2008 vai ficar entre 41 e 44 milhões de sacas (de 60 quilos). Aumento de 30% em comparação com 2007. Os dados são da Conab. Entrevista O melhor é aquele que agrada a quem toma O barista Thiago Trovo sabe quais são os pecados cometidos pelos apreciadores de café, mas absolve todos sem dar penitência. É que, para ele, o melhor café é aquele que a pessoa gosta de tomar. Thiago trabalha no Santo Grão, um café bistrô, nos Jardins, em São Paulo. Por telefone, falou com o BOM DIA. Qual o café ideal? Thiago Trovo – O que você gosta de tomar. Não existe o melhor café, existe o que você mais aprecia. O coador de pano é que faz o café mais gostoso? Thiago – Não. Na minha opinião, o café mais gostoso é o expresso. A maneira como ele é preparado aguça mais as características do café. No coador de pano, só o café da vovó é permitido. Curto, tipo carioca, amargo, americano. Por que tantos estilos diferentes? Thiago – Dentro do expresso, o ristreto (curto) é para quem gosta de café forte mesmo. Quem toma ristreto conhece café, tem paladar apurado. Os demais, como o americano ou o carioca, vejo como mais uma maneira de atender melhor o paladar do consumidor. O que caracteriza o café especial? Thiago – É aquele que não apresenta defeitos primários, ou seja, grãos imaturos ou superamadurecidos, pedras ou pedaços de pau. O café especial é composto de grãos selecionados do tipo arábica, tem acidez baixa, corpo agradável e um retrogosto (after taste) que permanece na boca por algumas horas. Aquele que o gosto sai em 5 minutos não é um café legal. É pecado colocar adoçante no café? Thiago – É pecado. Na hora em que a pessoa coloca o adoçante ou açúcar, o doce natural do café se perde. É como colocar groselha em bom vinho só porque você gosta de bebida mais doce. Como identificar um bom café expresso? Thiago – Pela crema. Tem de ter cor aveludada e consistência. Quando a pessoa gira a bebida, a crema deve encostar na borda da xícara e grudar. Esse é o bom expresso. |