Ícone da cultura oriental, o chá se populariza no Ocidente, conquistando um séquito fiel de admiradores. No Brasil, a bebida já ameaça a hegemonia do café
Embora seja uma bebida milenar, o chá ainda não desfruta no Brasil da popularidade comprovada no Oriente e em alguns países europeus. Sobretudo se compararmos seu desempenho com o do café, um rival direto e imprescindível às mesas tupiniquins.
Tal retrospecto, contudo, tem demonstrado evidentes sinais de mudança. Hoje, no Brasil, o chá não é mais ingerido apenas como medicamento natural (para “facilitar” a digestão ou aliviar resfriados). Muitos consumidores já descobriram o prazer de saboreá-lo, quente ou gelado, apreciando os aromas que exalam da xícara. Uma aceitação que pode ser comprovada pela extensa relação de itens e marcas que compõem as sessões especializadas nos grandes supermercados.
Em alguns segmentos sociais, sobretudo nos círculos femininos, a bebida tem alcançado notável status, centralizando predileções e concorrendo com pesos-pesados como o vinho ou mesmo o café. A tendência contemporânea de aderir à uma dieta saudável (puro, o chá possui pouquíssimas calorias) contribui para seu crescente sucesso.
Chá e infusões
É quase impossível contabilizar a variedade de bebidas rotuladas de chá diariamente. Em geral, identificamos como tal quase toda infusão oriunda de plantas (folhas e raízes, principalmente), consumida ou não com finalidade medicinal. O que muitas pessoas desconhecem é que apenas as bebidas feitas com as folhas da camellia sinensis são dignas deste reconhecimento.
Trocando em miúdos, grande parte dos saquinhos vendidos com ervas para imersão em água quente não proporcionarão ao consumidor a satisfação de degustar um autêntico chá. Na verdade, o tradicional mate, a camomila e a cidreira, por exemplo, propiciam somente infusões. O fato não desmerece tais bebidas e suas propriedades, mas confere distinção ao produto original.
O verdadeiro chá é uma bebida de raízes orientais. Uma lenda chinesa diz que no ano 2.737 a.C., o imperador Shen Nung descansava sob uma árvore, quando algumas folhas de camellia caíram em uma vasilha com água a ferver. Atraído pelo aroma intenso, Shen Nung rapidamente aprovou a inusitada bebida.
A improvável narrativa confere um toque pitoresco e mítico à origem do chá. Em termos históricos, o mais antigo registro sobre a famosa infusão data do século III a.C. Os primeiros tratados técnicos sobre a bebida, contudo, somente seriam elaborados por volta do século VII. Já a tradição de consumir o chá, como a conhecemos hoje, consagrou-se durante a dinastia Ming, 500 anos depois.
A chegada da bebida à Europa foi lenta. Embora o seu consumo, nos dias atuais, seja muito associado aos ingleses, foram os holandeses os responsáveis por sua difusão no Ocidente. Um comércio que se intensificou após o ingresso dos britânicos, cujo gigantesco império se estendia ao extremo oriente (China e Índia). Bebida nobre, de altíssimo custo, o chá gradualmente foi se popularizando no país insular e suas colônias – Estados Unidos, Austrália e Canadá.
Tipos de chá
Planta nativa do nordeste da Índia e sul da China, a camellia sinensis chega a medir até 15m. Apesar da altura elevada, as podas evitam que ultrapasse 1,5 metros. De suas folhas se originam o cobiçado chá oriental. Três versões da bebida podem ser encontradas no mercado, distinguíveis entre si pelo método de processamento da planta.
Os famosos “chás pretos” resultam de folhas oxidadas; a bebida originada de sua infusão possui cor avermelhada e sabor marcante – intenso e forte. É comum, na Inglaterra, ingeri-lo com leite. Já para produzir o “chá verde”, variedade em moda no Ocidente, as folhas são submetidas a processos térmicos e secadas rapidamente, evitando a oxidação (geralmente preservam a clorofila e perdem taninos).
O paladar levemente amargo tem conquistado admiradores, igualmente atraídos por sua alardeadas propriedades terapêuticas – teria ação antioxidante, além de contribuir com a redução das taxas de colesterol e de reabilitar o sistema imunológico. Já a categoria “oolong”, menos popular na América, corresponde a um produto intermediário (sofre fermentação mais branda, porém apresenta aromas menos intenso do que os pretos).
Para inovar, muitas lojas e supermercados estão investindo numa novidade que arrebata um número cada vez maior de consumidores – os chamados “chás aromatizados”. Qualquer chá, independentemente do processamento a que foi submetido, pode ser incrementado com a adição de outras folhas, de flores ou frutas secas, de óleos naturais e especiarias. O resultado final é uma exuberância ímpar de sabores.
Para bater papo e se deleitar
O termo chá, além de designar a bebida revigorante de procedência oriental, também se refere ao evento social, familiar ou aberto a convidados, de caráter vespertino, onde é servido um bufê de quitutes diversos. Entre uma conversa e outra, os convivas compartilham as iguarias do cardápio – biscoitos finos, sanduíches, salgados e doces –, acompanhadas de bebidas quentes (chás, chocolates e cafés) e geladas (sucos e refrigerantes).
Em muitos lugares, o chá é tradição recorrente. A reunião pode ser agendada para um espaço comercial, confeitarias e padarias, por exemplo, ou improvisado no espaço doméstico – o jardim e a varanda são os lugares indicados. O menu deve ser leve para não comprometer a ceia noturna.
O chá contemporâneo não tem a pompa das reuniões do século XIX, mas conserva seu charme – a informalidade nos trajes e utensílios substitui a suntuosidade de outrora. O serviço tornou-se igualmente mais simples: uma mesa extensa e acolhedora, algumas bandejas, um jogo de xícaras, pratos e talheres. Uma toalha clara e muitas flores podem reforçar o clima primaveril.
Para saborear
Em Fortaleza, são poucas as casas de chá – espaços exclusivamente consagrados a este evento gastronômico. O “Le Thé”, no Marina Park Hotel, é a exceção. Funciona de segunda a sábado, sempre a partir das 17h. O bufê diário inclui salgados, pães, patês, geléias, tortas e chocolates, sanduíches, sucos, chás, café e outras iguarias, além de um minijantar (dois tipos de carnes acompanhados de duas guarnições). O valor cobrado por cliente é de R$ 21,00.
Instalado no “Jardins Open Mall”, a creperia “Tartatan” aceita encomendas de chás para um grupo mínimo de oito pessoas. Os pedidos devem ser feitos com 24h de antecedência (R$ 25,90/convidado). Segundo o gerente Elton Farias, o chá é servido à francesa. Entre as iguarias do menu, destacam-se pães de queijo, torradas e geléias, salgados e mini-sanduíches, tortas doces, brownie e bebidas diversas.
Inspirado na tradição culinária italiana, o restaurante “Capo”, localizado no Holiday Inn, também aceita encomendas de chás: o serviço pode ser no estilo bufê ou à la carte, dependendo do número de pessoas à mesa (R$ 28,00/cliente). Chás, refrigerantes, sucos, chocolates quentes e gelados, pizzas, pães, tortas e salgados compõem o menu oferecido pelo estabelecimento. As reservas devem ser feitas com antecipação – o cliente pode indicar o horário do serviço.
LAÉCIO RICARDO
laecio@diariodonordeste.com.br